segunda-feira, julho 28, 2025

Luz natural

"A vida não começa aos 30 ou depois dos 40. 
Ela realmente começa quando você deixa de ser besta".

Esta frase parece quase cómica, mas tem um alcance muito amplo. A verdadeira vida começa quando somos capazes de abandonar comportamentos que só revelam falta de inteligência, imaturidade e simplismo. Uma pessoa, certa vez e há não muito tempo, fez-me ver que quem tem onde cair fofo não ganha medo de se aleijar. E quando a ajuda aparece sempre não terá tanto pelo que se responsabilizar, e mesmo inconscientemente, acaba por viver de forma mais inconsequente e/ou displicente. 

Pais ternos produzem adultos mimados? Pode ser que muitas vezes sim, outras não. Tenho pensado muito a este respeito desde o momento em que fui operado, não exatamente pela facto em si, mas por outro que aconteceu paralelamente. Quando a queda não é fofa o que se faz? Quando não há mimo o que se faz? Tem de se pensar a sério na realidade das coisas. As ações e as razões para a queda, porque é que dói o que dói, o que é que se faz para não cair, o que é que se faz para recomeçar mais forte e melhor equipado. É de repente começar a processar factos e acontecimentos a uma velocidade enorme e de uma forma que ainda não tinha sido feita. Como quando um suporte importante morre e temos de nos alterar para ser a nova estrutura de suporte e aprender isso à velocidade da luz. 

A resposta agregada é deixar de ser besta. Não sejas besta. Não ser besta faz-te ser consciente e presente. Não há mi-mi-mis. Consciência e presença. O ser presente e consciente tudo pode. 

"Imagina ler um livro em que nunca podes voltar à página de trás.
Com que atenção lerias esse livro? Assim é a vida."

A vida não anda para trás e o que fizeste quando eras besta não podes mudar. Mas podes definir o teu momento de mudança e começar a viver assim (presente e consciente). No início contar-se-ão dias, depois semanas, depois meses e anos. No final vai ser um modo de vida e sabes que a tua vida começou ali. 

Um dia ao fechar os olhos e partir desta terra vou saber onde começou a minha vida e contemplar o que vivi e o bem que vivi para mim e para os outros. Mas também me vou lembrar com grande lástima do que perdi antes desse momento. Algumas coisas são um preço demasiado alto para se deixar de ser besta. 

Que a abertura da nossa consciência para o significado da luz natural não seja demasiado tardia, que a abertura da minha consciência para o significado da luz natural não tenha sido demasiado tardia. 

6 comentários:

  1. Eu concordo com tudo o que dizes - ha' momento(s) em que nos podemos iluminar, e começar a viver mais conscientemente e mais no presente. E isso pode ser despoletado por um erro que fizemos e que estamos a pagar bem caro, ou pela busca de felicidade - viver em verdade e integridade, por exemplo. Mas tb creio que estar "sempre" acima dessa linha de conduta e presença no presente e consciência e' extraordinariamente difícil... acho mais realista usar a nossa consciência para perguntar: neste momento, estou acima ou abaixo da linha que separa o que quero ser daquilo que não quero ser? Identificar onde e em que é que estou abaixo (sentimentos - medos, ansiedades, pânicos, remorsos), e trabalhar para ir para cima. Mas isto é um trabalho constante. Como a felicidade: nao é ser-se feliz, é ser-se "mais feliz". Onde é que me estou a desleixar? Onde é que estou a falhar? Que consequências está a ter, em mim e noutros? O que estou a fazer (ou não) serve-me e a quem amo? Ou não? Ter esta conversa connosco próprios regularmente. E trabalhar para restaurar e melhorar, de modo constante. Eu não acredito que haja um momento em que se "começa a viver": ha' erros que se cometem, e que nos fazem aprender, e como tal, são verdadeiramente uteis - evita o remorso. Os self-check ups são verdadeiramente uteis, e nao so' qd fazemos erros, mas sempre.

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  2. Subscrevo tudo o que dizes. Que brilhante e sábia reflexão a tua.

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  3. Li atentamente o que escreveu. Concordo em tudo. Tenho por principio ao longo da minha vida, que não existem boas, ou, más decisões, mas sim aquelas que conseguimos tomar de acordo com a circunstância e recursos internos disponíveis. Existem sim aprendizagens. Quem olha muito para trás fica atrazado. Obrigado pela partilha. Gosto de o ver sereno.

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  4. Caro anónimo vou reter deste comentário que "quem olha muito para trás fica atrasado". O meu pai foi um homem que nunca olhou para trás, sempre para frente. Presente e futuro. É algo que não devo esquecer. E sim as circunstâncias que existem num momento (com recursos associados) são o que nos fazem decidir melhor ou pior. Obrigado pelas palavras.

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  5. Desculpe o erro do "atrasado". Estava sem óculos. A idade tem destas coisas.

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  6. Ora essa. Nada a desculpar. O conteúdo é o que importa.

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