“O amor não é o cuidado". É apenas uma dimensão que não consegue cobrir os aspetos do afeto, da responsabilidade, do reconhecimento e da justiça. Quando só há reconhecimento do cuidado, a negligência ou o abuso (presentes em pequenas coisas aparentemente vãs) são validados como normais. Assim, desde a infância que criamos uma visão iludida do que é o amor, aprendemos o amor como substantivo por oposição ao amor ação/construção. Cuidar e amar não é a mesma coisa.
Amar é construir algo e deixar-se vulnerabilizar, perdendo ilusão, narcisismo e espaço de idealização. O amor cria-se num vínculo trabalhado num espaço de diferença/conflito em que se aprende a não violar o outro.
O amor faz-nos interessar pelo outro sem saber exatamente o motivo; este processo abre espaço à criação de motivos e à descoberta de novos motivos sempre que o ódio vem mostrar que somos somos menos complementares com o outro do que imaginávamos e que, cada um dos intervenientes é formado por si e por muitos outros. Mas se é amor, a seguir ao ódio vem um nova criação de significado amoroso para com o outro, porque descobrimos a alteridade no seu sentido mais filosófico, ou seja, na capacidade de transcender o próprio ponto de vista para compreender e respeitar a visão do outro na integração dos conflitos. Isto porque o contrário do amor não é o ódio, mas sim a indiferença.
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