sexta-feira, novembro 07, 2025

Luto

Acho que no passado, depois do término de uma relação (não todas), avancei rapidamente para contactos sexuais só para dizer a mim mesmo que tinha superado tudo e poder encerrar o assunto. Penso que isto seja, talvez, relativamente comum entre homens gay. Mas fazer isso nunca foi nem força nem superação nenhuma, foi apenas medo de encarar a dor e a verdade de que estava incomodado e desconfortável; então acho que escolhi calar esses sentimentos, o que simplesmente aumentou um vazio que me fazia mais necessitado de contacto e, por conseguinte, fraco. 

Desta vez estou a seguir um caminho diferente. Simplesmente não estou a negar o meu luto, estou a assumi-lo com toda a sua dor nas ausências, com toda a dor das lembranças, porque não nego o amor que existiu (o amor que existe) e sem sentir este abalo não há cura. O racional diz que a vida seguiu, mas o afeto diz que não. A vida não seguiu nada, a vida está parada e a ferida está aberta, apesar de não estar ignorada. Superar não é apagar o outro, fingir que a ferida não existe. Nesse caso seria a ferida (prolongada) que iria acabar por me controlar - como sempre. 

Assim sendo, quem está no controlo sou eu. Quero sentir isto até ao fim, sem vergonhas, sem afetações. Estou quebrado e pesado, mas a dor vai deixar de ser um peso e vai transformar-se em compreensão e, no seu tempo, em aprendizagem. Não tenho de provar a ninguém que estou bem. Estou mal e não há problema nenhum com isso. Estou em abstinência sexual e emocional e é porque não estou resolvido e não há problema nenhum com isso. Coragem não é avançar e fingir que nada aconteceu, coragem é a honestidade connosco próprios, dizermos que não há pressa. Sabermos e aceitarmos que estamos colapsados é o maior sinal de força no momento. Reconhecer a verdade não assusta e a seu tempo cura - por inteiro - até voltarmos a caber no que normalmente/realmente somos. Pela primeira vez sei que estou num bom caminho, porque não me importo de sentir o luto e isso faz-me estar comigo, apenas comigo. 

O caos reduz

A minha mãe já  tem operação marcada para esta segunda feira. É uma fatia importante do caos que se resolve.

Dança

Dançar sempre foi muito importante para mim. Era pequeno e já gostava de ver a música sair pelo meu corpo em forma de movimento - é uma lembrança feliz. Talvez por isso tenha decido ter lições de dança/movimento contemporâneo, nesta altura em que estava/estou a precisar de algo que me conecte a um estado de espírito positivo. Hoje tive a primeira aula. Quando saí de lá, a voltar para casa de mota, estava feliz.  O ar frio na cara, o corpo dorido e um sorriso. 

quarta-feira, novembro 05, 2025

Tempos confusos

Talvez nunca esqueça este Outubro de 2025. 

Uma vez vi um filme chamado "A tempestade perfeita" protagonizado pelo George Clooney, uma dramatização de um acontecimento real que levou ao desaparecimento de uma embarcação de pesca. Três tempestades juntaram-se dando origem à tempestade perfeita. 

Nesse agosto de 2000, poucos dias depois de ver o filme, chegava à minha vida - também - a tempestade perfeita . Nunca senti um nível de dor e de impotência tão grande. Aqueles acontecimentos traumatizaram-me profundamente ao ponto de nunca mais conseguir cantar uma canção que estava sempre a cantar naquela altura, como se isso me fosse trazer um enorme azar. É estupido. Mas o cérebro não quer saber da racionalidade das coisas a maioria das vezes. Lembro-me que esse evento de 2000 levou uma grande parte da minha ingenuidade, da minha alegria; tornei-me obcecado pelo controlo de tudo o que interagia comigo. 

Foram precisos alguns anos, para que eu voltasse ao normal, desgastando amizades e a vida familiar com a minha obsessão e desconfiança permanentes. Em 2006, outro evento difícil de integrar, leva-me ao ponto mais baixo da minha saúde mental. No processo de reabilitação fiz acordos comigo, coisas que nunca poderia esquecer e das quais tinha de tratar em nome próprio. Comecei - por fim - a ser verdadeiramente feliz. Fiz boas escolhas e essa felicidade durou 8 anos. Foram tempos em que estive presente e centrado.

Algures em 2014 mudei radicalmente de hábitos. Eram os tempos de novidade que se viviam e embarquei nessa onda, por curiosidade. Porque não? Pensei. Se os outros conseguem eu também consigo. A curiosidade não matou o gato, mas desorganizou o gato, que se viu em extremos onde 6 meses antes não se imaginava. 

Quis voltar à minha tribo e aos meus códigos, mas algo correu mal. É quase como se as trilhas de cheiro se tivessem misturado e o caminho estava dúbio. Não encontrei a minha tribo. Apesar de achar que estava viver nela e dentro das minhas convicções. Mas estava agora num meio novo, outra geração, outro tipo de gente e a viver de acordo com eles, mas sem dominar o que estava a acontecer. Estava a construir a vida privada com uma pessoa, sem saber exatamente e que estava a fazer, acreditando que ainda era o que sempre tinha sido, a criar justificações para este "erro de casting" e os que se seguiram. É quase como se existisse a realidade e uma realidade fantasma a perpassa-la, onde eu me movia realmente.

Por força do destino, esta realidade nublada encontrou-se com a realidade real. Há pessoas que nos tocam de uma maneira em que tudo é espelho. Nesse espelho vi muitas coisas, umas mais rápido, umas mais lento e começou a partir-se essa camada de "ser" agarrada à alma antiga, o ser que final não era. A névoa dissipou-se, mas não sem dores, não sem custos irrecuperáveis. O amor tem destas coisas, o amor da nossa vida pode não ter vindo para ficar. Não deixa de ser o amor da nossa vida, deixa de ser o amor para nossa vida.

Há uns meses atrás citei aqui "A vida não começa aos 30 ou depois dos 40. Ela realmente começa quando você deixa de ser besta" e ainda "Imagina ler um livro em que nunca podes voltar à página de trás. Com que atenção lerias esse livro? Assim é a vida". E de repente aos 51, tive a certeza de que posso redefinir o momento em que passo a estar presente e consciente de novo. 

A consciência é um estado tramado porque não só o desejável fica claro como cristal, como o não desejável também se evidencia, na luz nada se esconde, todas as imperfeições (das maiores às mais pequenas) estão ali visíveis. Renascer de uma morte pode ser das ironias mais cruéis que existem, mas acontece e não se está treinado para isso, para as ironias da existência, para a crueldade das assincronias. Eu pelo menos não estou preparado.

Os últimos três meses e meio foram dos meses mais tristes, mais incríveis, mais desafiantes, mais belos, mais desgastantes, mais produtivos, mais melancólicos, mais esperançados que já tive emocionalmente. Tudo ficou - de repente - tão claro que me sinto confuso, o meu cérebro não se habitua. Tenho tentado treinar o cérebro e não consigo. 

Poderia ter o consolo de saber que a paz vem quando tiramos da nossa mente o que não conseguimos controlar, mas a mente é ardilosa. As opiniões das outras pessoas, as noticias, o passado, é fácil. Mas a realidade é que não estou em paz. Estou muito triste. E neste processo de luto, o presente recusa-se a ficar passado, ou melhor dito, o passado é ainda presente e não sei quanto deste passado será ainda futuro. 

Os passados são tramados. Adoecem o presente. Quando a mente não consegue distinguir o que é o quê. O passado envenena o presente, e o ego reage com todos os seus medos, pânicos, inseguranças e sistemas de preservação e ataque. Dois egos em luta e lá, bem no fundo, já esquecidas pelo outro e pelo próprio, a verdadeira essência de cada um em ausência de relação, em amor solitário, em sofrimento, quando nada tinha de ser assim. E não há volta porque o ego precisa de um enredo onde é vítima injustiçada e incompreendida. Este sofrimento do ego dá um sentimento de identidade. E já nenhum se lembra que o amor não é sofrido. Que isto é tudo uma outra coisa. Nenhum fica a ser o que realmente é, e que não voltará a ser com o outro, não aqui neste tempo presente. É deste relento, que morre a conexão. Não o sentimento.

Então são tempos muito confusos. A única coisa que se procura são lugares seguros, e a única coisa segura são os amigos, os amigos que sabem tudo de nós, que ouvem tudo de nós, que nos falam qualquer coisa sem medo, mas sempre com amor. De um lugar de amor que não está sofrido, que não faz a crítica ser ataque, que não faz a análise ser julgamento. Amor simplesmente. 

Mas estes tempos são confusos. No final de outubro deste ano de 2025 tive a minha nova "tempestade perfeita". A morte de uma relação (pela qual estou profundamente grato), a doença/sofrimento da mãe, a minha própria doença de novo a atacar. Não obstante, esta última relação tirou o véu que me cobria a realidade fazia tanto tempo. Estou aqui sem fantasia, sem justificações. O que é, é. O caos existe neste momento, mas o caos é apenas uma soma de coisas amalgamadas numa bola grande e assustadora. Se o cortarmos às fatias e se resolver uma coisa de cada vez, ele deixa de ser caos. 

Em tempos confusos há que praticar a arte da paciência (na qual não sou particularmente dotado) e acreditar que na desordem global, sempre se criarão polos de ordem local. As leis da relatividade também se aplicam aos indivíduos, a nossa visão deve estar ciente disso. E é tudo.  

Amigos

As minhas amizades variam entre 3 e 37 anos. Tem havido um movimento bastante bonito de apoio pela passagem da "tempestade" não prevista. Isso é bom de sentir.

terça-feira, novembro 04, 2025

Meter as pilhas

A minha mãe telefona-me a chorar porque já não aguenta tanta dor e a operação foi marcada para o fim do mês. Quando a campeã do sofrimento em silêncio se encontra neste estado, eu entro em desespero. Queria metê-la no meu colo e dizer que vai tudo correr bem, porque vai, mas metê-la no meu colo ir fazer-lhe dor também. Queria protegê-la disto, como ela me protegeu a vida toda, ser o "pai" agora.  Não sou pai, sou o filho, e sou adulto. É o que basta. Estou a meter as pilhas e tentar resolver os problemas, este e os outros que foram caindo este mês (os grandes e os pequenos), estou no olho do furacão. Mas que digo a mim mesmo, para me manter firme? Problemas reais têm as pessoas em Gaza. Aqui, na vida que tenho, o caos deixa de ser caos quando se resolve um problema de cada vez. Há que ter paciência. Há que continuar, foi por isso que há 10 anos tatuei a minha perna "má" com o Wawa Aba. Mas o que está ali sempre, com o tempo acabamos por tomar por certo e adquirido. Esbate-se. 

Olhei para esse símbolo de novo. Vou resolver uma coisa de cada vez, com perseverança, uma por uma. Ninguém me prometeu o paraíso quando cheguei à idade adulta. O mundo é um lugar imprevisível onde tudo pode acontecer e há que estar à altura. Temos sempre os nossos lugares seguros, onde podemos ser vulneráveis e expirar e (porque não) até chorar. E depois começar tudo de novo no dia a seguir. Porque estamos vivos. Tudo só acontece a quem vive, o mau, mas também o bom.

segunda-feira, novembro 03, 2025

Bugonia

Yorgos Lanthimos tem tanto de genial como de louco e neste último filme não consigo bem decidir de que lado ele estava quando o realizou. Emma Stone começa a entrar na categoria das minhas atrizes fetiche porque ela é efetivamente de uma versatilidade enorme. Ainda bem que se tornou a musa deste realizador que a leva ao limite da arte da representação. 

De novo o filme: ele brinca com o "envenenamento" que a Internet nos provoca. Apesar de ser uma comédia é profundamente perturbador e negro. O filme é desagradável de ver, pela loucura do argumento e dos personagens, mesmo pelo modo como é filmado, mas é intrigante de uma maneira quase suja.  E somos tomados pelos juízos de valor, para no final sermos nós julgados e ridicularizados pelo realizador com o término da história.

Ontem pensei que não tinha gostado muito. Hoje, depois de ter literalmente dormido sobre o assunto, achei muito bom. Pela irreverência e pelo ridículo a que fui submetido (muito inteligente).

17/20

As Horas

Laura Brown.

Estrelícia

Tenho uma planta nova - gigante. Sempre quis ter na sala uma estrelícia gigante, era isso ou uma bananeira. Realizou-se o sonho por acaso.

Metáforas

Quando se vai para reabilitação por motivos de adição, há uma dor física e psicológica por via da abstinência da substância viciante. O que dizer ao meu cérebro ou será ao meu corpo ou será aos dois?

sábado, novembro 01, 2025

Casa

O mais ensurdecedor de todos os silêncios.

Onde há amor...

Cuidar da minha mãe é terapêutico. 
Onde há amor ninguém se lembra de desamor.

sexta-feira, outubro 31, 2025

Casulo

Quando há privação de estímulo (não ativação dos sentidos) nada entra e nada sai. 

Novo

Inscrevi-me numa escola de dança. Antes de ser operado à coluna tinha feito danças de salão (7 anos), hip hop (2 anos) e estava a fazer dança contemporânea/expressão corporal quando fiquei incapacitado. Foi há 10 anos. 

Fiquei forte de novo e 'Ela' disse-me que eu sou da fala, da expressão. Pareceu mais que certo. Vamos ver como corre a experiência. O que consigo fazer com este corpo de hoje. 

PhD

Depois de na semana passada me ter sentido mal com as observações analíticas que recebi em Historiografia, bem duras, esta semana recebi boas críticas e a professora disse que este ensaio não tinha nada a ver com o outro. "Está muito bom, fiquei a saber que você ouve". Nem sabe ela a importância simbólica do que me disse.

Terapeuta Nº4

A mudança de terapeuta foi uma coisa que aconteceu como uma necessidade de ser agradável, não por vontade individual, não obstante estou muito feliz por ter chegado a ela. Diz poucas coisas, mas muito acertadas (acho eu) e escava. Eu nem percebo que ela está a escavar, mas quando faz um sentido daquilo que eu estive a dizer, eu percebo que escavou. Em 4 sessões cheguei a conclusões que, parece incrível nunca as ter tido. É quase como respirar, que é um ato involuntário mas que também pode ser voluntário. 

Ela disse que estava cá para me ajudar a descobrir e eu estou a dar-lhe todo o material possível, porque estou muito interessado na descoberta. A raiz está a nutrir a planta de novo.

quinta-feira, outubro 30, 2025

Estranheza

O meu PT disse que o cérebro e a parte do corpo mais fácil de treinar. Não sei porquê, mas não consigo acreditar muito nele. 

Depois da caçada

Estava muito curioso por ver o retorno da Julia Roberts aos filmes e foi estranho. É bom vê-la fazer um papel em que ela não parece ela, mas ao mesmo tempo há sempre uma vontade de rever o estilo a que nos habituou. O filme fala de uma acusação de abuso sexual numa instituição do ensino superior e do que envolve as dinâmicas de poder e desejo de ascensão, dentro da mesma. O realizador consegue manter-nos durante quase todo o filme com uma dúvida que parece que nunca vai ser satisfeita até que é (ou talvez não). Há aqui neste filem, talvez, um tender para a tendência de mostrar cruamente os tempos cínicos em que vivemos. Não sei se gostei muito, precisei de tempo para pensar. Acho que não gosto de coisas assim tão reais e veladas.

13/20

quarta-feira, outubro 29, 2025

Hoje

Hoje gastei o euro mais parvo da minha vida. Mas deu para rir um bom bocado e agora devo frequentar eventos públicos de história e literatura (riso número 2). 

Winston Churchill knows best

«Quanto a mim, sou um otimista - não me parece muito útil ser outra coisa».

Safe Spot

O Blogue do Silvestre é o meu "safe spot". Estive a ler o que o (Ex)Namorado escreveu no blogue dele e sim, concordo muito. Este diário é uma terapia em si mesmo. 

terça-feira, outubro 28, 2025

Além da chuva

Nunca pensei que uma ida ao Pingo Doce pudesse ser tão triste. Mas numa nota positiva, cozinhei as melhores marmitas da semana de sempre, aquele frango está delicioso.

Já me esquecia de deixar nota

O novo álbum da Lily Allen é verdadeiramente estupendo. Senti uma espécie de sensação idêntica a quando ouvi o novo da Lorde, musicalmente falando. Mas West End Girl é além de tudo mordaz. A Lily sempre foi boa por fazer letras mordazes.

Instagram

Sempre achei lindo no Instagram o poder olhar para a linha do tempo em eventos fotográficos, não é como aqui no blogue em que falamos de um sorriso de uma experiência estética, lá temos a imagem desse sorriso e dessa experiência. 

O que acrescentei na minha nova filosofia de Instagram (em que foto e texto formam o mesmo veículo) foi poder também relembrar - nesses textos ou legendas - momentos de súbita clareza ou compreensão profunda sobre situações, sobre existência - seja através de palavras originais ou citações das palavras de outra pessoa.  

Hoje reli num post que fiz sobre igrejas gregas:

"Quem acredita entrega-se à fé. E nesse caminho nenhum inimigo o derrota. Porque mesmo que as adversidades alterem a sua rota, só se perde quem desiste da sua fé. As sementes do medo estão no nosso íntimo e não na mão que nos ameaça." (JLN Martins)

Tal como Heráclito de Éfeso dizia que "ninguém entra duas vezes no mesmo rio", hoje também não li a mesma frase. 

Everything I wanted



Everything I wanted - Billie Eilish

segunda-feira, outubro 27, 2025

Relatividade

Os colegas são amigos? O que é um colega na realidade? Qual a dimensão social e emocional desta figura no local de trabalho? Ontem, tive duas notícias muito más que me afetaram do ponto de vista emocional e vieram juntar-se ao stress acumulado de não poder ajudar a minha mãe numa situação de saúde que a deixa em muita dor. O meu stress emocional disparou ao ponto de hoje eu estar à beira de uma crise grave. Eu comecei a falar com ele sobre uma das notícias de ontem ao ponto de me ter transtornado (como não fazia há 13 anos) e ele acalmou-me como se fosse meu irmão ou um amigo de sempre. Acabei por lhe dizer que sou neurodivergente e ele foi muito empático. Não me vou esquecer nunca deste dia. 

domingo, outubro 26, 2025

Crescer

Não são as apenas as orelhas e o nariz que não deixam de crescer até ao dia da nossa morte. A nossa consciência vai continuar a expandir e nem sempre sem dores. As dores de crescimento não são apenas na adolescência, as dores de crescimento podem ser eternas. 

Ontem de noite fui correr

Ontem de noite fui correr, ou fazer jogging melhor dito. Já não o fazia há muito tempo e soube-me muito bem. O meu coração aguentou os 30 minutos sem cansaço nenhum (bem diferente do que se passou da última vez antes da operação). Estava a chover uma chuva miúda. Tive de ter algum cuidado para não cair, mas foi tudo em bom. 

A noite, haver pouca gente na rua, a minha música nos ouvidos, deixa-me ter momentos muito bons de paz e até de reflexão, de clareza. Vim para casa com o corpo moído, comi um gelado de iogurte, e estou ansioso para repetir. Quero ver se organizo a minha rotina ara fazer isto 2/3 vezes por semana. Também quero voltar a ir mais ao cinema e voltar às minhas tabelas de Excel para não me esquecer das coisas que tenho para fazer (seja contactar comum amigo, costurar roupa, remendar um casaco, limpar debaixo dos sofás). 

O jogging acalma, motiva e faz bem à saúde.

sábado, outubro 25, 2025

Paz

Quando alguem faz anos desejo paz.  A paz é muito subvalorizada. Tenho tido uma grande ausência de paz e isso transtorna todas as dimensoes da vida. Só  quero descansar, que me deixem sossegado, na permissão de poder existir como sou em mim.

sexta-feira, outubro 24, 2025

All I know


You gotta be - Des'ree


Remember: Listen as your day unfolds
Challenge what the future holds
Try and keep your head up to the sky
Lovers, they may cause you tears
Go ahead, release your fears
My, oh my
You gotta be bad
You gotta be bold
You gotta be wiser
You gotta be hard
You gotta be tough
You gotta be stronger
You gotta be cool
You gotta be calm
You gotta stay together
All I know, all I know
Love will save the day.

Amigos

Não sei porquê, se é normal, mas acabo sempre por negligenciar os meus amigos durante as relações amorosas que mantenho, apesar disso só ser verdadeiro desde que namoro pessoas muito mais novas que eu e, de alguma forma, tento acomodar-me e/ou adaptar-me a essa maneira diferente de ver as coisas. O que é certo é que nos últimos 3 meses tenho estado mais atento aos amigos. E tem sido bom. Também percebo que esta coisa da amizade é bem mais fluida na malta até aos 35 e muito condicional. Também é mercantilizável como quase tudo agora. É bom saber que tenho referências que nunca vão embora e que embora a gente evolua a nossa espinha dorsal mantém-se. Os amigos estão ali para nos lembrar disso. 

quinta-feira, outubro 23, 2025

Melhor que sexo

Nesta altura do campeonato só quero dormir 12h de seguida.

quarta-feira, outubro 22, 2025

Malabarismo

Tenho de levar a minha mãe ao médico. Este fim de semana serão mais maratonas entre a margem sul e a margem norte. Tenho de continuar a fazer os trabalhos do Phd, que logo na primeira semana foram bastantes. Tenho de acabar tudo no meu trabalho atual e passar as pastas (muitas delas incompletas, sem que eu tenha o poder de as completar) antes de começar o novo desafio profissional e ainda tenho de tratar do "coiso". O "coiso" está a ser uma desgraceira e ainda tenho de arranjar tempo para a terapia x2.

O meu gato anda carente e os meus amigos a solicitarem-me a presença, mas está a ser complicado (e quando tudo o que eles querem é oferecer e não receber um abraço). Cada vez mais acho que os Fleetwood Mac são uma banda do caraças. Para além de a canção 'Dreams' se ter tornado uma constante nos meus lábios, outras há que se aplicam a cada momentito das nossas vidas. 

É importante ter em conta que isto é um desabafo e que desabafar não é sentir-se uma vítima. Não sou vítima de nada, de ninguém, sou responsável pelos meus atos e os meus problemas são de homem branco do primeiro mundo. Quem tem problemas a sério são os palestinianos em Gaza. Eu sou apenas um gajo assoberbado a ver a vida desfolhar à sua frente de formas que não previa, só isso. Chama-se ventilação. Para que não haja um fogo, ventila-se. Aí sim seria complexo, um fogo. Agora os Fleetwood Mac.

 

Landslide - Fleetwood Mac

terça-feira, outubro 21, 2025

Sou uma pessoa horrorosa

No meu trabalho do doutoramento já recorri à IA. Gostaria que não fosse assim, mas a ando com a vida virada do avesso e muito gostaria de ter espaço mental para tal. Não tenho. Melhores dias virão.

Serenidade

  Feel So different - Sinead O'Connor 

God grant me the serenity
to accept the things I cannot change
courage to change the things I can
and the wisdom to know the difference.

Why do I?

 É a última vez. Por isso é com tudo. I'll make it count. 

segunda-feira, outubro 20, 2025

A Madonna escreveu para a mãe // eu dedico ao meu pai



Inside of me - Madonna


I can't stop thinking of you
The things we used to do
The secrets we once shared
I'll always find them there
In my memories

But this heartache isn't going anywhere
In the public eye I act like I don't care
When there's no one watching me
I'm crying

I will always have you, inside of me
Even though you're gone
Love still carries on
Love, inside of me

I keep a picture of you
Next to my bed at night
And when I wake up scared
I know I'll find you there
Watching over me

When my world seems to crumble all around
And foolish people try to bring me down
I just think of your smiling face
And I'm flying

I will always have you, inside of me
Even though you're gone
Love still carries on
Love, inside of me

You'll always be inside of my heart
Inside of me

When my world seems to crumble all around
And foolish people try to bring me down
I just think of your smiling face
And I'm flying

I will always have you, inside of me
Even though you're gone
Love still carries on
Love still carries on
I will always feel you
You'll always be inside of my heart
I'll always have you inside of me
I will always have you (dad)

Sinto a minha cabeça

 Sinto a minha cabeça como se ela fosse Gaza e Israel tivesse feito o que fez durante este tempo todo.

Como uma criança

Há pessoas que quando não foram amadas em criança e têm esse vazio desocupado, mas tapado pelo acontecer da vida, quando amam muito, esperam (como uma criança essa que persiste) a reposição desse amor que tanto mereciam, de alguém que finalmente as vê e às suas necessidades. Mas o que o outro vê é um adulto (homem ou mulher) e que não vai amar a criança, mas sim o adulto que tem diante de si, com as particularidades do amor adulto, que nem sempre é maduro, mas é adulto. Esse amor vem para ser igual entre os dois e por sorte, pode preencher parte do vazio existencial da criança que nunca foi amada. Mas é outra época, outra pessoa, outro amor, e não obstante esse adulto receptor (como uma criança), fica frustrado quando esse amor não vem exatamente como ele quer e precisa, porque as crianças gostam de ser adivinhadas nas suas necessidades. Se não são adivinhadas, porque não têm a capacidade de explicar o que realmente sentem fazem "birras" exigindo esse amor que para elas é tão claro e que os outros não vêem. Isso complica muito a orientação da pessoa que quer oferecer amor porque umas vezes está a amar o adulto (homem ou mulher) e outras vezes a criança. É confuso, e nunca sabe bem o que está a fazer. Podendo errar milhentas. A coerência é impossível nestas condições porque o objeto do sei amor é rotativo em si. 

domingo, outubro 19, 2025

Dançar

Dançar lembra-me sempre como é bom estar vivo e a felicidade da situação. Não exige ninguém, exige música que goste e me faça feliz e depois fones para não incomodar a vizinhança e o gato. O canto, a música e a alegria lembram-me sempre que sou demasiado alto para me sentir em baixo. Por cada ninharia de merda que a vida nos impõe devíamos olhar sim para o bom que resta e que é sempre bem maior. E agora um cinema vinha bem a calhar para acabar a noite que começou na cozinha (em cuecas) a dançar como se não existisse amanhã. Porque estou vivo e a vida presta. 

Going, going, gone.

Out of my mind. 

sexta-feira, outubro 17, 2025

Atração

É inevitável, mas há pessoas que se atraem, porque a matéria sólida e etérea de cada um se conhece e revê. A natureza é muito mais simples no seus processos naturais e físicos do que o próprio do "humano". O ego gosta de chegar e estragar tudo com a sua necessidade absoluta de defesa. 

...

 (suspiro)

Primeiro dia

Primeiro dia de aulas. Novo ambiente, pessoas simpáticas, perdi as chaves da mota, tive de voltar de boleia com um colega. Amanhã é uma incerteza. 

Hoje caiu-me a ficha de uma perda muito grande e estou a tentar praticar a 'aceitação radical', mas não está fácil. Reconhecer que a realidade, mesmo que dolorosa, não pode ser mudada e que a recusa em aceitá-la só aumenta o meu sofrimento é agora uma luta entre o racional e o irracional.

quinta-feira, outubro 16, 2025

De longe

De longe é isto. Só consigo sentir amor e desejar bem. Só consigo desejar que a paz esteja sempre presente e a sensação de calor e casa aconteça, no local onde queres estar. 

quarta-feira, outubro 15, 2025

Cebola

 Hoje a cebola descasca-se.

Polissemia

Polissémico é um termo usado para descrever uma palavra ou expressão que tem mais de um significado, e o seu sentido é determinado pelo contexto em que é utilizada. O contexto é fundamental porque o significado de uma palavra/ frase polissémica é descoberto com base no contexto em que é usada. A polissemia é um desafio.

Exposição / Aprendizagem

Aprendi muito neste último ano sobre exposição, por um lado, a exposição física que era comum na minha rede social de eleição (o Instagram) e, por outro, a exposição de sentimentos em locais públicos como este blogue. A questão do Instagram, foi resolvida abandonando o perfil com milhares de seguidores e passando para um perfil com uma centena de seguidores, que são amigos do presente, do passado e/ou pessoas que me inspiram positivamente. A questão do blogue foi mais complexa, porque este blogue era uma espécie de diário para mim - continua a ser um "travel log" - e de algum tempo a esta parte tornou-se mais seletivo, fundamentalmente porque sou conhecido de alguns leitores. A solução é que arranjei mesmo um diário old school, em papel, onde escrevo o que de mais visceral me acontece, os sentimentos mais viscerais. O privado deve ficar privado. Não quer dizer que sendo isto um "travel log" (onde venho e olho para o passado), que não tenha informação relevante, escrita de forma que apenas eu percebo a que se refere. Porque estou a escrever este post hoje? Porque que me quero lembrar dos efeitos da exposição para sempre. 

terça-feira, outubro 14, 2025

Terapias

A terapia humanista existencial é uma abordagem psicológica que foca no autoconhecimento, na liberdade e na responsabilidade do indivíduo, considerando a pessoa como um todo e o seu processo de busca por significado. O terapeuta atua como um facilitador, criando um espaço seguro para que o paciente explore as suas experiências, emoções e desafios existenciais, como a ansiedade, a solidão e a mortalidade. O objetivo é promover a autorrealização através da aceitação de si mesmo e da tomada de decisões mais conscientes e autênticas.

A terapia histórico-cultural é uma abordagem psicológica que foca na ideia de que a subjetividade e o desenvolvimento humano são moldados pela interação dialética entre o indivíduo e o seu contexto histórico, social e cultural. A terapia utiliza a linguagem como principal ferramenta mediadora e o diálogo entre terapeuta e paciente para construir novos sentidos, expandir a consciência e aumentar a autonomia do indivíduo, não se limitando a aliviar sintomas.

Autárquicas 2025

O pesadelo de ver Lisboa em pedaços segue. Não consigo mesmo compreender como alguém que vive em Lisboa possa votar no Carlos Moedas para um segundo mandato quando estes 4 anos viram a cidade degradar-se a olhos vistos.

O resto é Portugal a ser Portugal, "um povo que não se governa nem se deixa governar" (nas palavras de Júlio César) - o que mostra como somos um exemplo de consistência desde o tempo dos romanos.

segunda-feira, outubro 13, 2025

Nossa

 Hoje é dia de Nossa Senhora de Fátima.

Cadáver esquisito

Quebrar brutalmente é porque temos uma direção de partida, que é muito, constantemente inteiro. Sei domar. Não percebo mas estou. Felizmente o querem muito bem quem. De sofrer me sinto ranger no ponto de quando se bebe um xarope. Sinto que do universo, desta vez é isso mesmo. Às vezes, nos cura, mas com vontade como merda - e até faz crescer. Está curiosamente cansado a fazer-me dentes e do meu lado sou na correta - mas que quando os azedo .

Direta

Hoje não dormi. Dormitei talvez, não sei.

sábado, outubro 11, 2025

The conjuring 4: Extrema-unção

Nunca tinha visto nenhum dos filmes da série e achei engraçado. Talvez tenha sido um pouco omisso, uma vez que se trata de encerrar a franquia e foi pouco específico.

Esperava mais contextualização, por exemplo, o tipo de demónio, o porquê daquelas orações e não outras, não sei. Acho também que o filme faz um certo branqueamento da vida de Ed e Lorraine Warren, mas para fãs acho que foi bom. 

Para mim deu para entreter e depois acho que se torna esquecível. Daqui a 3 meses nem me lembro que vi. A caracterização dos anos 80 estava muito boa, isso sim. 


13/20

quinta-feira, outubro 09, 2025

Tattoo

Queria tatuar uma versão minimalista do Limão e o B pediu uma ajuda à IA. Ficou engraçado, mas ainda gostaria mais minimal. A foto que escolhi do Limão é uma de quando ele era gordo o que, esperemos, não vai voltar a ser.


Novo trabalho

Dia 1 de novembro, vida nova. O reset fica completo.

Escolhas

Quando sabemos que escolhemos pelas razões certas, desistir não é uma opção. Make it work!

Boas notícias.

Outro dos meus grandes amores, o meu gato, teve as melhores análises dos últimos 4 anos. Está normalíssimo. O mais saudável desde que foi diagnosticado com a doença renal. Portanto é tentar manter as coisas como estão e ver se ele ainda anda cá com qualidade não digo mais 11 anos (a idade dele) mas uns 8 pelo menos. Estou muito feliz pelo Limão.

Estoicismo

A minha mãe é muito estoica. É daquele tempo em que as pessoas ou aguentavam ou aguentavam. Ouvi-la dizer que está com dores é mesmo porque as dores estão ao nível do insuportável. E não poder fazer nada sobre o assunto é pior. Os analgésicos não estão a funcionar e ainda faltam 5 dias para saber se o estrago é grande. Enfim, um teste à paciência. Eu não sou tão estoico como ela.  

quarta-feira, outubro 08, 2025

Esquecimentos

Às vezes esqueço-me de que a minha mãe tem 83 anos. O corpo dela tem fraquejado. Isto de continuar linda e a parecer 15 anos mais nova, é um engano aos olhos. Aqueles ossos têm 83 anos e estão a dizer que idade têm. Esta coisa de andar nos médicos e "fazer piscinas" entre Lisboa e a margem sul para dar apoio à mãe pode ser o novo normal (não sei já já é, mas gostava de a ver ter ainda mais uns 5 anos de vida aventureira e autónoma).

1 ano

Fez este domingo 1 ano, de aprendizagens e de evolução, porque o amor não é só beijinhos.

sexta-feira, outubro 03, 2025

Pensamentos do momento

Estou calmo porque tenho de estar. A minha mente tem de continuar lúcida e a funcionar corretamente se quero tentar meter algum bom senso nisto. A dor é inimiga da lucidez e eu recuso-me a senti-la, já chega de ceder às emoções. Se estou a aprender algo é isto.

Joana Marques absolvida

Felizmente a justiça não é uma brincadeira. Joana Marques absolvida no ridículo processo dos Anjos. O fairplay resolveria com menos gastos de recursos públicos. 

quinta-feira, outubro 02, 2025

O poder

A minha mãe amava o meu pai e amava os filhos. Educou-nos (a mim e ao meu irmão) para nos amarmos. Sempre nos explicou a importância da família nas nossas vidas, do que significava o nosso laço de sangue e da força que ele realmente tinha (mãe/filho, pai/filho, irmão/irmão). A vida e todos os seus desafios podem, por vezes, fazer-nos (fazer-me) perder o foco, mas essa é a fonte primordial de amor - a família. A que nunca será quebrada, a que nunca irá embora (quando esse amor existe lá). Na segunda-feira, no meio de uma conversa, veio-me todo este amor ao pensamento/coração, em toda a sua incondicionalidade. É um poder muito grande. O amor da minha família (mãe, pai e irmão) nunca me deixa ir ao chão, mesmo quando estou perto. 

Disse a Madonna



Why's it so hard - Madonna

What do I have to learn to know what's right for me
What do I have to know?
What am I going to do when I feel righteous
Where do I have to go?
Who should get to say what I believe in
Who should have the right?
What am I going to do with all this anger
Why do I have to fight?
Why's it so hard to love one another.
Bring your love, sing your love
Wear your love, share your love.

quarta-feira, outubro 01, 2025

Disse a Garota Não

Tenho medo destes muros
Pensamentos crus e duros
Sempre prontos a julgar.
E eu já nem sei rir direito
Toda a graça é um parapeito
Calma, foi em paz que vim.
Que venha quem vier por bem
Mas não se trate com desdém
Quem tratou deste lugar.

terça-feira, setembro 30, 2025

As aulas do PhD começam a 13 de Outubro

 Things are getting real.

Conversas

É bom quando uma conversa com alguém não é um muro ou um parapeito, mas uma porta para múltiplas possibilidades. É bom quando as palavras nos trazem boas recordações, quando as nossas partilhas e as partilhas do outro nos fazem lembrar de coisas boas e abrem portas e interrogações de uma maneira fluida e leve. Uma conversa leve, mesmo quando se fala de temas pesados é uma canja de galinha para a alma (como aquele título de um livro antigo). 

sexta-feira, setembro 26, 2025

Aquela sensação estranha

Estou com aquela sensação estranha que se tem no fim de uma maratona, em que parece que nunca mais chegamos à meta. Agora que está tão perto é que parece que tudo fica complicado. Como diria o meu pai "o teu mal é sono!".

quarta-feira, setembro 24, 2025

E de repente...

 Já estou a pensar no Natal.

Tatuagens

Depois de muito pensar no assunto serão 4. E está encerrada a conta até ao fim dos meus dias. A que me está a dar mais entusiasmo é a imagem que me apareceu por último na cabeça e que parecia tão fora de tudo (aparentemente); o significado espiritual desta é afinal muito importante. 

terça-feira, setembro 23, 2025

Quando alguém já disse...

"Há um cansaço da inteligência abstrata, e é o mais horroroso dos cansaços. Não pesa como o cansaço do corpo, nem inquieta como o cansaço do conhecimento e da emoção. É um peso da consciência do mundo, um não poder respirar da alma."

Fernando Pessoa

A feiticeira de Florença - Salman Rushdie

Nunca tinha lido nada do Salman Rushdie e o título do livro atraiu-me. Tem de facto algo de mágico, misturando habilmente realidade histórica e ficção. Este livro casa a cidade de Florença e o império mógol de Akbar I, que atingiu, na mesma época, um apogeu comparável nas artes e no pensamento filosófico. O confronto entre as filosofias europeia e as do hindustão. O livro é tanto divertido, como didático, apresentando realismo e fantasia em doses bem temperadas.  

Enredo: o amigo de infância do célebre Niccolò Machiavelli, Antonino Argalia viveu na Florença renascentista até perder os pais para a peste. Sozinho, decide tentar a sorte em terras distantes, oferecendo seus serviços como mercenário. Peripécias diversas acabam por alçá-lo à frente das forças otomanas em luta contra o xá da Pérsia, em 1514. Uma vez derrotado o xá, Argalia conhece Qara Köz, ex-amante do soberano e mulher de beleza e poderes mágicos, por quem se apaixona de imediato.A história de Qara Köz, a feiticeira de Florença, é contada ao imperador Akbar, o Grande, por um atrevido forasteiro que atravessa o mundo para comunicar ao soberano mongol que é seu parente direto. Numa intrigante sucessão de aventuras, o misterioso contador de histórias vai revelando os caminhos que conduzem Argalia e sua bela mulher desde Istambul até a Florença dos Medici.

16/20

Quem tem medo dos santos da casa - Sara Duarte Brandão

Esta nova autora escreve de uma maneira muito terna. Há trechos do livro que são absolutamente maravilhosos e poéticos, enquanto formas de entender a vida ou expressão de sabedoria popular ou "sabedoria do corpo", porque o corpo sabe sempre tudo.

O livro narra a história de Maria Teresa, uma mulher de classe alta a crescer numa vila piscatória entre as obrigações familiares da época e a liberdade que encontrava nos livros apresentados pelo seu avô e que nunca mais deixou de ler. Condenada a viver oprimida pela sua condição de mulher, resolve reclamar o seu destino, encontrando a solidão e - muitos anos mais tarde - a redenção na amizade que constitui com uma criança. É uma leitura fluida que se faz  com gosto.

15/20

Deixa-te de Mentiras - Philippe Besson


Li este livro pela razão superficial de não ser longo. E que bem que assim foi. Há bastantes anos atrás escreveram um conto de 10 páginas chamado Brokeback Mountain e foi excelente.  Este livro curiosamente lembra imenso essa história, mas num lugar diferente, num contexto diferente.  No fundo, o livro trata das consequências de se fugir à verdade intrínseca de cada um. Mas o relato é nostálgico e é delicado.

Enredo: Um escritor começa a pensar no seu primeiro amor (quando adolescente) e no que foi o tempo que viveram juntos. A história encontra um fim ao conhecer, 23 anos mais tarde, o filho desse amor.

17/20

segunda-feira, setembro 22, 2025

Uma duas - Eliane Brum


Certo dia, na Livraria da Travessa, disse ao B que achava que este livro seria a cara dele, após ter lido a sinopse. Acabei por lê-lo primeiro que ele e simplesmente achei ótimo. 

O livro fala sobre a dificílima relação entre uma mãe e uma filha. O Goodreads diz:

"Como é tecida a trama de ódio e afeto entre duas mulheres (des)unidas pela carne? Uma duas é um retrato expressionista tão dramático quanto nauseante que foge de clichês e eufemismos que costumam cercar o tema. Dotada de um humanismo visceral, a autora entrelaça os narradores do mesmo modo que o acaso embaralha integrantes de uma família numa teia de subjetividades".

Pois o livro é tudo isto e muito mais. É psicanalítico, é disruptivo, vira os conceitos de amor e ódio  do avesso. Acabei o livro a chorar. Adorei.

19/20

O que te pertence - Garth Greenwell

Talvez eu tenha um problema com livros em que não gosto do personagem principal, neste caso um professor americano que conhece Mitko, um jovem prostituto carismático num zona de cruising e cria uma obsessão. Desejo e angústia é o mote que vem com a busca de intimidade e amor que não chegam. No processo é-nos dada a saber a historia deste professor,  as suas experiências formadoras de amor, a rejeição pela família e amigos e as dificuldades de se crescer como gay nos anos 90.

Podia ter sido mais emocional, ou erótico ou intenso. Falhou em cativar-me. 

13/20

Os abismos - Pilar Quintana


Este segundo romance de Pilar Quintana fala sobre os abismos que vivem na obscuridade do mundo dos adultos relatados através do ponto de vista de uma menina - Cláudia como a sua mãe - que, desde a memória de sua vida familiar, tenta compreender a estranha relação entre seus pais. Das suas observações revela-se a matriz de um mundo feminino preso a um ciclo vicioso de que não pode ou não sabe escapar. Acaba por ser um livro sobre a queda eminente de cada um desde os degraus da sua infelicidade.  Achei interessante, mas não me senti cativado por nenhum personagem. 

14/20

A cabeça do Santo - Socorro Acioli


Tive muito prazer a ler este livro. No início não  sabia bem qual o rumo que ia tomar, mas no final a sensação é muito boa. É cómico, espiritual, dramático, paranormal, brutal, terno.

O enredo: A Cabeça do Santo conta a história de Samuel que viaja até a cidade de Candeias pedido de sua mãe no leito de morte, para que o jovem encontre sua avó. Ao chegar na cidade, um temporal atinge o local e o único lugar em que o jovem encontra para se abrigar é em uma enorme cabeça abandonada em um canto isolado, que seria uma estátua de Santo António.

A partir deste enredo as personagens apresentadas são muito bem urdidas para construir uma história densa e bem estruturada, apesar de surreal, mas que passará a ser credível se assim quisermos.

17/20

Nada cresce ao Luar - Torborg Nedreaas

Fui ler este livro motivado pela curiosidade de o Pedro Almodovar (realizador) ter gostado bastante do mesmo. A história começa com um homem anónimo que se sente atraído por uma bela e solitária desconhecida que vê no átrio de uma estação ferroviária, e a quem oferece ajuda. Ela acompanha-o até casa e, durante uma noite inebriante de vinho e cigarros, conta-lhe a história devastadora da sua vida. 

Esta mulher é uma alma despedaçada cujo destino comeca quando aos 17 anos se torna do professor de liceu. O desgoverno começa com um amor não correspondido e com uma obsessão descontrolada. É suposto durante a sua narrativa sermos tomados pelo significado de uma mulher navegar numa sociedade opressiva feita para homens, num sistema capitalista e patriarcal que obriga as mulheres a desempenhar papéis que as tornam emocional e economicamente dependentes.

Eu basicamente vi uma mulher com um comportamento autodestrutivo que, em virtude do seu amor alienado, se coloca em posição de abuso constante. Não consegui ter simpatia prlo personagem e o livro acabou por me deixar até irritado. Não obstante, a autora sendo nórdica e escrevendo sobre o início do século, refere-se certamente a uma realidade que não  ressoou comigo.

12/20

O escritório - Frida McFadden


Depois de ler A Criada - que é verdadeiramente fascinante - nem sei bem o que dizer sobre este livro. Não posso dizer que como thriller a ideia seja má. Mas o livro é um aborrecimento desde o início ao fim. As personagens são chatas, escrita é chata, para no final tudo se desenrolar de repente, muito gira a volta e tarde  de mais porque já não se aguenta tanta chatice.

11/20

A cadela - Pilar Quintana

Enredo: Na costa da Colômbia virada ao Pacífico – num lugar onde a paisagem luxuriante contrasta com uma pobreza extrema e o homem é uma migalha diante da força dos elementos – vive Damaris, uma negra com cerca de 40 anos que toda a vida quis ser mãe. A sua relação com o marido tornou-se, aliás, fria e turbulenta à medida que o casal foi sacrificando tudo o que tinha à obsessão de Damaris e, apesar disso, ela nunca conseguiu engravidar. Mas a vida desta mulher frustrada parece encontrar uma réstia de esperança no dia em que adota uma cadela a quem dá todo o seu amor.

A verdade é que, a história simples mas laborada fenomenalmente, cria neste livro uma atmosfera opressiva e o que é dito e tudo o que se sente como sub-reptício, vai crescendo como uma bolha interna de de angústia que impede o luminoso, crescendo, apertando, ocupando espaço interno até ao  desespero. É triste.

16/20


Lar em chamas - Kamila Shamsie

Não foi fácil entrar neste livro, talvez porque a sua realidade é bem diferente da minha enquanto homem branco e a história é narrada do ponto de vista feminino de uma família islâmica. O livro fala de luta de classes, género, islamofobia, identidade e terrorismo. Só posso dizer que acaba de modo chocante, apesar de brilhante e que a autora se inspirou na peça Antígona de Sófocles para a trama.

O livro trata de duas famílias britânico-paquistanesas que habitam mundos distintos na Londres rica e na Londres pobre. Uma família foi "europeizada" e outra vive na sombra de um pai que optou pelo terrorismos. As suas histórias vão ligar-se de forma dramática. Primeiro estranha-se e depois entranha-se. 

17/20

domingo, setembro 21, 2025

Primeira vez

Foi a primeira vez que em duas semanas de férias li nove livros. Sol, mar, paz e livros. Tudo casou.

terça-feira, setembro 16, 2025

Grécia

Nunca tirei um período de férias tão grande num único lugar. A Grécia nunca decepciona. Mais uma vez encontro coisas de que precisava por estas bandas. Espero que no futuro continue a ser assim. 

sexta-feira, setembro 05, 2025

Uma colega disse algo que me deixou a pensar

Ela ama o marido, mas não gosta do marido. Aquilo fez-me espécie. Mas depois lembrei-me do que a Bell Hooks disse sobre o amor ser uma ação e percebo que ela escolheu e tem o compromisso de amar o marido, mas não sente afinidade ou apreço por ele. Será que é por causa dos filhos? E se não houvesse filhos? Eu custa-me integrar que alguém me ama sem ter apreço por mim, não gostando de mim como pessoa; mas percebo que é possível, o exemplo está ali. Acho triste estar nesse papel (do marido). Na realidade não sei bem o que pensar, o certo é que sinto desconforto perante a ideia. Acho que não quereria estar nesse papel. Mas também não sei qual a implicação de estar nesse papel. É apenas algo em que nunca tinha pensado.

O mundo é estranho

É muito doloroso o acidente que se deu em Lisboa com o elevador da Glória e que ceifou (para já) a vida de 16 pessoas e no mundo multiplicam-se mensagens de pesar. Acho bonito e solidário. Mas no mundo, estamos a viver genocídios en Gaza, Sudão, Birmânia, para elencar alguns e não há pesar em lado nenhum por isto. A hipocrisia social é danada. 

quinta-feira, setembro 04, 2025

Segurança Social

Estive hoje numa Loja do Cidadão para ser atendido pela Segurança Social. As 2h30 de espera deram para perceber, no final do meu atendimento (uns 6 minutos), que o modo de funcionamento da segurança social é super 1992. 

O cultivo de Flores de Plástico - Afonso Cruz

Sou um fã da escrita do Afonso Cruz e como tal acabei de ler mais um livro. Não obstante, este será o livroque menos prazer me deu ler. Poderá ser porque está escrito ao jeito de diálogo de teatro, não sei. 

O livro pretende ser o retrato da vida de sem abrigo na nossa sociedade, ficcionando um grupo de pessoas que dorme junto durante uma noite. Os personagens estão pouco aprofundados e mesmo a crítica social ou a dimensão humana ficam um pouco pela rama.

12/20


terça-feira, setembro 02, 2025

Sobre a eutanásia

Li no Sapo um artigo de um médico de cuidados paliativos (Abel Gabejas) e fiquei a pensar nisso. Tive bastante dificuldade em concordar porque ele, no seu discurso, transforma a eutanásia no oposto da defesa dos cuidados paliativos ou continuados. 

A hipótese é "Num país onde a oferta de cuidados paliativos continua limitada, a possível legalização da eutanásia levanta uma questão preocupante: estar-se-á a propor a morte como substituto de uma presença que falha?"

Termina o artigo com "A eutanásia não é apenas uma questão de direitos individuais. É, acima de tudo, um espelho da ética coletiva que estamos dispostos a sustentar. Que tipo de sistema queremos? Um em que o sofrimento é acompanhado ou um em que o sofrimento é descartável? O sofrimento não pode ser um fim mas um meio para esta aliança de cuidado. Se não garantirmos primeiro a dignidade do cuidado oferecer a morte não será progresso, será desistência: social, institucional e ética. E eu pergunto-me: será isto realmente progresso?"

A eutanásia está a ser diabolizada. Eu tenho direito a não querer viver o resto da minha vida como um dependente ou em dor profunda (porque infelizmente ainda não há resposta para todo o tipo de dor). A eutanásia trata-se disso. A aprovação da eutanásia não impede as pessoas que querem usar cuidados continuados de os requererem.  A linha da dignidade é inerente ao sujeito (como a dada altura ele diz no seu texto) e não à sociedade onde ele se insere. Para lá dos deveres da sociedade para com os seus cidadãos e da dignidade do direitos humanos que tem de ser respeitada a todo o custo, existe uma dimensão pessoal e subjetiva que tem de ser valorizada. 

Eu tenho de respeitar, por exemplo, uma pessoa que não quer viver tetraplégica ou dependente para o resto da vida. Há pessoas que, mesmo nesta condição, conseguem arranjar um propósito na vida, aprendem a pintar com a boca, estudam, entre outras atividades. E fico sinceramente feliz por isto, pelas pessoas que conseguem passar pelo sofrimento sem sofrimento, reacomodando a sua vida. Mas pessoas há que vão sofrer muito emocional e psicologicamente; pessoas para quem ter alguém a alimentá-los, lavá-los, virá-los na cama, limpar as fezes, etc, é um suplício, um tormento, uma tortura.

Parecendo uma comparação tola, é como casamento gay. Os homossexuais não são obrigados a casar, mas essa decisão deve ser sua. Devem poder escolher casar ou não, por isso a lei foi necessária, para haver possibilidade de escolha na gestão privada das vidas afetivas. 

O que me parece mesmo tolo é reduzir a eutanásia à existência de uma sistema de cuidados paliativos ou continuados eficaz. Os países mais avançados socialmente e por isso com maior nível de progresso, permitem optar pelas duas coisas. A linha da dignidade humana definida por cada um (elaborada em função das crenças e convicções de cada um) é que vai ditar a escolha informada, que não deve ser coletiva. Quando se trata de pessoas não existe um "one fits all".

Livros

Com as férias à porta decidi rentabilizar a subscrição Kobo Plus carregando o eReader com 30 livros em português. Não obstante, ainda não deixei de investigar os vencedores e os finalistas dos principais prémios internacionais a ver se algum deles consta no acervo. Ler é bom e voltou-me a vontade de escrever pelo que ler, além do prazer, é também uma necessidade.

sábado, agosto 30, 2025

Bye bye Miss American Pie

Drove my Chevy to the levee, but the levee was dry. 
And them good ole boys were drinkin' whiskey and rye.
Singing this'll be the day that I die, this'll be the day that I die.

terça-feira, agosto 26, 2025

A criada - Freida McFadden

Comecei a ler este livro às 10h e pouco da manhã e terminei às 17h com pausa para o almoço. A linguagem é muito acessível e lê-se como quem bebe água. É sem sombra de dúvida um thriller muito bom, que tem vários plot twists. A autora Freida McFadden consegue manipular a nossa mente e fazer-nos acreditar que estamos a ver o que não estamos, até que ela revela a verdade.    

Uma ex-presidiária consegue o emprego com que sonha na casa de um casal muito rico.  A história acaba (ou começa) com um cadáver. 

18/20

Celeste


On with the show - Celeste

Vera Iaconelli (psicanalista)

"A gente quer tudo previsto e garantido. Na nossa cultura, estamos fazendo isso de um jeito tão obsessivo, que fica difícil viver. Em vez de deixar rolar, ficamos obcecados pela perspetiva do controle."

"Amor é seguir amando mesmo quando o outro não corresponde às suas expectativas. Se ele for só um reflexo delas é puro narcisismo (...) É na diferença que o amor se prova."

sexta-feira, agosto 22, 2025

Quem cospe para o ar...



Champagne Coast - Blood Orange

Quando eu era mais miúdo, o meu irmão adorava música Indie. Eu detestava. Gostava era do pop bem pastilha elástica e tudo o resto era estranho. Durante a pandemia deu-me para isto, adoro música Indie. Quem cospe para o ar...

Diferença de opinião

Quando eu era jovem e tinha um personalidade reprimida, até aí aos meus 20 e poucos anos,  olhava para o meu pai que era espontâneo e feliz e achava-o super "cringe". Ele era capaz de começar a dançar na rua; agarrava na minha mãe e começava a dançar se ouvisse uma música que gostavam (ela também de personalidade reprimida, só queria era fugir dali a sete pés). 

O meu pai cantava onde fosse se estivesse feliz, para cantarmos todos juntos (Ó Laurindinha vem à janela... entre outras canções) e queria ouvir a minha mãe a cantar o fado (como quando num casamento com 400 pessoas, subiu ao palco onde estavam os músicos e disse "quem canta mundo bem o fado é a minha mulher, anda cá cantar"). Eu enchia-me de vergonha e olhava de soslaio e muitas vezes perguntava-lhe se havia necessidade disso. Ele só respondia "estou a  fazer mal a alguém? Se alguém se sentir incomodado há-de dizer, até lá estou só a ser alegre".

O que é certo é que hoje sou eu o "cringe". Canto na rua e nos corredores do trabalho e no balneário do ginásio e também danço na rua se por acaso algo me estimular a isso. Lembro-me, em particular, de uma vez na Suíça (quando fui visitar um amigo que lá vive, mas que trabalhava durante o dia).

Num dos meus passeios sozinho a descer Lausanne em direção ao Lago Genebra, comecei a ouvir no Spotify "Walking on Sunshine" da Katrina & The Waves. Estava um sol radioso e um céu azul e eu senti-me invadido por um sentimento de felicidade e comecei a dançar e a correr enquanto descia a rua. Umas pessoas olhavam em espanto, outras como se fosse maluco, outras sorriam com cumplicidade. Ainda me lembro hoje daquela sensação de felicidade, liberdade e gratidão pela vida que que estava a viver e foi tudo muito espontâneo.

Há quem ache que eu vivo um pouco à sombra daquilo que o meu pai foi ou acreditava ou queria para nós (família), como se a palavra dele fosse lei. Não é lei. Se é uma espécie de Herói? Sim, é. Se ele foi mitificado por mim? Não, porque a experiência não é só minha, mas de todos que se davam com ele. 

O meu pai morreu, eu tinha 24 anos e creio que nunca o compreendi muito bem. Foi depois da morte dele que comecei a compreender muita coisa que me tinha escapado. A perda tem um efeito muito profundo em mim ao nível do questionamento e da descoberta (ou autodescoberta). Descobri uma coisa estupenda. O meu pai era uma pessoa simples, realizada, espontânea, com sabedoria (também era uma pessoa que dizia palavrões, falava alto, fumava, cuspia para o chão e molhava o chão todo da casa de banho a lavar a cara e não limpava). 

A partir dos meus 33 anos quando comecei a ser feliz e realizado, comecei também a fazer coisas cada vez mais espontâneas e comecei a ser mais parecido com o meu pai. É bom quando os nossos pais são um referência para nós porque lhes reconhecemos sabedoria, dignidade, integridade (mesmo que a nossa relação tenha sido marcada por entropias/dificuldades em dado momento). É bom ter referências dos nossos progenitores, porque lhes reconhecemos valor intrínseco e saber que de alguma forma somos parecidos com essas pessoas que cuidaram de nós com esmero.  

Hoje sou "cringe" para uma parcela do mundo exterior e está tudo bem. Por exemplo, ontem vi uma mulher a dançar no ginásio com os auriculares metidos, não sei se aquilo era uma rumba ou uma salsa. Não era muito boa a dançar, mas enquanto algumas pessoas olhavam com riso na cara, eu olhei a sorrir e fiquei absorvido por ela. Achei-a corajosa, livre e espontânea e feliz. Hoje em dia o que eu acho "cringe" não é isto. Há tanta, mas tanta coisa pior.

Diferença de opinião rocks!

Valor.

É importante sabermos o nosso valor. Quando, inadvertidamente ou propositadamente, nos desvalorizam ou as nossas ações, decisões, etc., essa desvalorização não deverá ser mais que um desconforto ou uma desilusão passageira, se soubermos que temos valor (pensado e pesado). 

quinta-feira, agosto 21, 2025

Respirar fundo e continuar.

Tomar notas, respirar fundo e continuar com o mesmo compromisso, vontade e dedicação. É isso.

quarta-feira, agosto 20, 2025

Tudo sobre o amor: Novas Perspetivas - Bell Hooks

Gostei muito de ler este livro que discute o amor e o ato de amor de forma científica pela perspetiva das ciências sociais. É muito interessante e levanta questões muito importantes na sociedade moderna (apesar de ter já 25 anos). Apesar de ser um livro de pensamento crítico, o fato de a experiência da própria como base para questionamento, acaba por lhe dar um cunho de guia de autoajuda para compreender o que é o amor, o que precisamos e o que podemos dar. 

A ideia base a toda a argumentação é a de que o amor não é um sentimento, mas sum uma ação. Ela define o amor como "a vontade de se expandir com o objetivo de nutrir o próprio crescimento espiritual ou o de outra pessoa... O amor é um ato de vontade, ou seja, tanto uma intenção como uma ação. A vontade também implica escolha. Não temos de amar. Escolhemos amar". 

16/20

Aula de cerâmica

Desde que nos conhecemos que o B falava em fazermos uma aula de cerâmica juntos. Finalmente aconteceu ontem. Foi um sensação muito boa estar a modelar com as mãos e pintar peças de barros. Se tudo correu bem, eu vou ter um combo brunch (caneca e prato de tosta) e ainda um castiçal para velas. Foram umas horas bem passadas. 

terça-feira, agosto 19, 2025

Acreditar

O que importa se o dia chegou?
O que importa se nunca virá?
O que importa é aqui e agora,
Toda hora é hora, enquanto eu posso estar.
O que importa se escorregou?
O que importa é se levantar.
O que importa é saber amar.
O estado contente da mente,
Depende somente de acreditar,
Depende da gente, é só acreditar.

- Marisa Monte -

Não fechar os olhos

Não fechar os olhos da mente é algo que (agora) tenho por necessário. Nada é garantido, absolutamente nada. O que é hoje pode não ser amanhã. E o que não for, mas que nós queríamos que fosse, que não aconteça porque estávamos de olhos fechados a pensar que era um dado adquirido. 

Atos Humanos - Han Kang

Este livro da mesma autora de "A vegetariana" é muito cru e muito duro, mas muito bem escrito. A ação passa-se em 1980 durante as manifestações contra o ditador Chun Doo-hwan na cidade de Gwangju, que deu origem a um dos maiores massacres levados a cabo na Coreia do Sul. A história parte de um rapaz Dong-Ho que procura um amigo no meio dos mortos e segue com todos os que se cruzaram com ele naquela fatídica noite. 

A brutalidade humana, a tortura, o stress pós-traumático, a justiça, a luta pelo direito a existir dignamente, o amor, são aqui abordados de forma muito inteligente pela autora que usa uma escrita muito crua e pragmática, mas sem deixar de conferir uma enorme humanidade a todos os personagens, dignificando a memória de quem caiu por terra em todas as ditaduras. 

17/20 

Gerês

Há muito que ameaçava ir ao Gerês mas sem cumprir. Graças ao B acabei por ir este mês e foi muito bom. As paisagens, a paz, as águas. Trago o rio Cabril e o Poço Verde como os lugares de melhor memória, apesar de ter gostado de estar nas cascatas. No meio disto houve boa comida e boas conversas. Mas o mais importante é a paz. Reinou a paz.

quarta-feira, agosto 13, 2025

.

 Acho a maldade gratuita uma coisa feia (ponto).

É só isto

I know where beauty lives
I've seen it once, I know the warmth she gives.
The light that you could never see,
It shines inside you can't take that from me...

#conscienteepresente

Dopamina

A dopamina é um neurotransmissor que desempenha um papel crucial no sistema de recompensa do cérebro, influenciando o prazer, a motivação, a excitação e a sensação de bem-estar. É habitualmente referida como a “hormona da felicidade”. Níveis adequados de dopamina são essenciais para a saúde mental e física, e seu desequilíbrio pode levar a problemas como depressão, ansiedade, problemas de memória, dificuldade de concentração e comportamentos inflamados pela raiva/frustração. 

A dopamina rápida é libertada rapidamente em resposta a estímulos como jogos de vídeo, redes sociais, alimentos açucarados, fast food, drogas/tabaco/álcool, pornografia, scrolling infinito (na web), compras constantes  e outras atividades que proporcionam prazer imediato, mas que podem levar ao vício e à procrastinação.

A dopamina lenta é libertada gradualmente em resposta a atividades que promovem bem-estar a longo prazo, como exercício físico, trabalho focado, ouvir música, ler livros, cozinhar, meditação, passar tempo na natureza, hobbies, etc.


Boas decisões:
Alimentar-se bem, mexer-se, celebrar pequenas vitórias/progressos, dormir bem, ouvir música, aprender coisas novas, meditar/relaxar, conectar com quem se ama (parceiros, amigos, familiares).

Reduzir muito o tempo online, abandonar comportamentos impulsivos (compras e outros), deixar a prática de mexericos, não consumir substâncias psicoativas e evitar alimentação demasiado processada.   




Não há silly season este ano

Este ano não há silly season. Os noticiários estão tomados pelas notícias de incêndios. O que é que os nossos políticos/governantes aprenderam desde 2017? Rigorosamente nada.

terça-feira, agosto 12, 2025

Lições

 "Cair em si talvez seja o melhor tombo da sua vida".

A house is not a home



A house is not a home - Ella Fitzgerald

"A chair is still a chair, even when there's no one sittin' thereBut a chair is not a house and a house is not a homeWhen there's no one there to hold you tightAnd no one there you can kiss goodnight..."

Julie London


Cry me a river - Julie London

Simplesmente adoro esta cantora de voz quente e macia, que tanto sucesso fez nos anos 50. O que eu não sabia é que a canção Cry me a River foi feita para ela. Foi a primeira pessoa a cantá-la e com que elegância o fez. 


segunda-feira, agosto 11, 2025

Irantzu

Passou um ano da morte da Irantzu. Houve uma missa em sua memória e mãe enviou-me o que leu durante essa missa. Uma das coisas que fiquei a saber foi que o dia em que ela morreu estava nublado e chuvoso e quando ela expirou pela última vez, abriu o céu e o sol brilhou. Pode ser uma coincidência, mas a Irantzu era um sol, de certeza que foi ela dizer que estava tudo bem. 

quinta-feira, agosto 07, 2025

Erich Fromm: A arte de amar

“A principal condição para alcançar o amor é superar o narcisismo. A orientação narcisista é aquela em que a pessoa experimenta como real apenas o que existe dentro de si mesma, enquanto os fenómenos do mundo exterior não têm realidade em si mesmos, mas são experimentados apenas do ponto de vista de serem bons ou perigosos para ela. O pólo oposto ao narcisismo é a objetividade; é a faculdade de ver outras pessoas e coisas como elas são, objetivamente, e ser capaz de separar essa imagem objetiva da imagem formada pelos próprios desejos e medos.”

“O amor vivenciado é um desafio constante; não é um lugar de descanso, mas de movimento, crescimento e trabalho conjunto; mesmo quando há harmonia ou conflito, alegria ou tristeza, isso é secundário em relação ao facto fundamental de que duas pessoas se experimentam a si mesmas, em vez de fugirem de si mesmas. Há apenas uma prova da presença do amor: a profundidade da relação e a vitalidade e força em cada pessoa envolvida; este é o fruto pelo qual o amor é reconhecido (...) No amor, ocorre o paradoxo de que dois seres se tornam um e, ainda assim, permanecem dois.”

― Erich Fromm, A Arte de Amar

quarta-feira, agosto 06, 2025

Jazz


Trust in me - Dakota Staton

Apego

Tenho tido ao longo da vida problemas com o apego a pessoas, coisas e hábitos. Não chega a ser um trastorno de acumulação, mas tem traços deste, nomeadamente a dificuldade de descartar coisas que não têm valor ou utilidade para o próprio. As causas disto podem ser a necessidade de segurança, a sensação de que sempre se perdeu algo (ou um vazio de algo que não se teve), a busca incessante pelo perfecionismo e consequente perda da capacidade de decisão que depois vai afetar a capacidade de eliminar, dispensar. Mas tenho aprendido recentemente que tudo o que se compreende, pode ser trabalhado e tem sido um percurso feliz. A abordagem tem sido muito mais incisiva na busca de padrões e na sua desconstrução, do que na procura das razões de origem. A reconstrução pessoal é uma oportunidade fascinante de fazer bem feito.

terça-feira, agosto 05, 2025

Música que faz bem.

Redescobri os jazz standards que me deixavam tão feliz e calmo. Este tipo de canções apenas me fazem bem. A melodia, a música, as vozes; não há excitação, não há tristeza, há apenas uma tranquilidade a espalhar-se de neurónio em neurónio.

Julie London, Ella Fitzgerald, Sarah Vaughan, Billie Holiday, Nina Simone, Etta James, Lena Horne, Nancy Wilson, Dinah Washington, Helen Forrest, Chet Baker, Louis Armstrong, Nat King Cole, Frank Sinatra, etc., etc., etc...

Sobre Bell Hooks e o amor

“O amor não é o cuidado". É apenas uma dimensão que não consegue cobrir os aspetos do afeto, da responsabilidade, do reconhecimento e da justiça. Quando só há reconhecimento do cuidado, a negligência ou o abuso (presentes em pequenas coisas aparentemente vãs) são validados como normais. Assim, desde a infância que criamos uma visão iludida do que é o amor, aprendemos o amor como substantivo por oposição ao amor ação/construção. Cuidar e amar não é a mesma coisa.

Amar é construir algo e deixar-se vulnerabilizar, perdendo ilusão, narcisismo e espaço de idealização. O amor cria-se num vínculo trabalhado num espaço de diferença/conflito em que se aprende a não violar o outro. 

O amor faz-nos interessar pelo outro sem saber exatamente o motivo; este processo abre espaço à criação de motivos e à descoberta de novos motivos sempre que o ódio vem mostrar que somos somos menos complementares com o outro do que imaginávamos e que, cada um dos intervenientes é formado por si e por muitos outros. Mas se é amor, a seguir ao ódio vem um nova criação de significado amoroso para com o outro, porque descobrimos a alteridade no seu sentido mais filosófico, ou seja, na capacidade de transcender o próprio ponto de vista para compreender e respeitar a visão do outro na integração dos conflitos. Isto porque o contrário do amor não é o ódio, mas sim a indiferença.