terça-feira, novembro 04, 2025

Meter as pilhas

A minha mãe telefona-me a chorar porque já não aguenta tanta dor e a operação foi marcada para o fim do mês. Quando a campeã do sofrimento em silêncio se encontra neste estado, eu entro em desespero. Queria metê-la no meu colo e dizer que vai tudo correr bem, porque vai, mas metê-la no meu colo ir fazer-lhe dor também. Queria protegê-la disto, como ela me protegeu a vida toda, ser o "pai" agora.  Não sou pai, sou o filho, e sou adulto. É o que basta. Estou a meter as pilhas e tentar resolver os problemas, este e os outros que foram caindo este mês (os grandes e os pequenos), estou no olho do furacão. Mas que digo a mim mesmo, para me manter firme? Problemas reais têm as pessoas em Gaza. Aqui, na vida que tenho, o caos deixa de ser caos quando se resolve um problema de cada vez. Há que ter paciência. Há que continuar, foi por isso que há 10 anos tatuei a minha perna "má" com o Wawa Aba. Mas o que está ali sempre, com o tempo acabamos por tomar por certo e adquirido. Esbate-se. 

Olhei para esse símbolo de novo. Vou resolver uma coisa de cada vez, com perseverança, uma por uma. Ninguém me prometeu o paraíso quando cheguei à idade adulta. O mundo é um lugar imprevisível onde tudo pode acontecer e há que estar à altura. Temos sempre os nossos lugares seguros, onde podemos ser vulneráveis e expirar e (porque não) até chorar. E depois começar tudo de novo no dia a seguir. Porque estamos vivos. Tudo só acontece a quem vive, o mau, mas também o bom.

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