Li um no Facebook de
um amigo uma partilha de um post de um jornalista gay que falava sobre a
tirania do corpo no mundo gay, e que isso era ainda mais terrível nas apps de
encontros. O argumento era de que era terrível para um gay que já é
discriminado na sociedade ainda ser discriminado por causa do corpo. E invocava
exemplos como o de lhe dizerem que até era bonito, mas era muito gordo e por
isso não era atraente o suficiente.
Na
realidade, por muito duro que seja, acho que toda a gente tem direito à sua
opinião. E se pessoas musculosas só querem pessoas idênticas a si, estão no seu
direito. Se pessoas magras só querem pessoas magras e pessoas gordas só querem
pessoas gordas, estão no seu direito.
Por
outro lado, acho que quem se submete a este tipo de exposição (em apps) tem de
estar preparado para o facto de ser avaliado e da avaliação (sempre subjetiva)
não ser positiva e ir de encontro às suas expectativas.
Todas
as pessoas têm a sua zona de gosto. Acho que é um facto que deve de ser aceite
sem drama. Eu gosto de carros com cor, agora mesmo comprei um no mínimo
"vistoso", com uma cor que a maioria das pessoas detesta. Isso não me
demove minimamente. Não é porque falamos de pessoas que temos de fingir que os
gostos existem. Quando se fala de sexo a avaliação é puramente imagética. Logo,
é natural que a pessoa seja julgada com base nisso. Não há que fazer drama
sobre o assunto.
Lembro-me
de um caso de há anos trás (cerca de 2003) em que uma miúda muito gira se
apaixonou por um rapaz que achava muito feio. A questão é que ela o conheceu, e
adorou tudo no que ele era como pessoa. Muitos anos de casados e dois filhos
depois. Ela continua a ter a mesma opinião. Fisicamente acha-o feio. Mas tudo o
resto é o melhor que já conheceu. E ele aceita perfeitamente que a mulher o
ache feio. Ele não se esgota na aparência física.
Fechando
o círculo, tudo me leva a crer que quem arranja um drama enorme porque alguém o
acha feio ou pouco desejável fisicamente, ainda não percebeu que não se esgota
no físico e provavelmente tem pouca autoestima. No final, ninguém é responsável
pela autoestima dos outros, é uma dimensão pessoal que tem de ser alicerçada no
próprio. Se ela é construída pela validação externa é falsa e frágil. A
autoconfiança também não pode ser construída na validação externa.
Não existem vítimas.
Se decidirmos que não somos vítimas. E se aceitarmos quem somos com um sorriso
rasgado e a “cagar” para a opinião dos demais, somos eminentemente felizes. Eu
determino-me a mim próprio. Não deixo que uma opinião externa me determine, para
mim é apenas uma opinião. Para mim resulta.