A minha reflexão para 2018 não é minha. Exponho-a, talvez por pensar que existem demasiados equívocos sobre o que é ser feliz, em função da racionalização excessiva da ideia de "bem" para nós mesmos e para os outros. Esquecemos, no nosso desejo de transcendência, que somos parte integrante de um equilíbrio natural e da maravilhosa realidade das coisas, interiorizada cada vez mais por via dos conceitos "das coisas" e cada vez menos pelo sentir das coisas. Assim, o meu (humilde) contributo para a vivência tranquila de 2018 é relembrar um texto de Fernando Pessoa/Alberto Caeiro.
Se eu pudesse trincar a terra toda
e sentir-lhe um paladar,
e se a terra fosse uma coisa para trincar,
seria mais feliz um momento...
Mas eu nem sempre quero ser feliz.
É preciso ser de vez em quando infeliz
para se poder ser natural...
Nem tudo é dias de sol,
E a chuva, quando falta muito, pede-se.
Por isso tomo a infelicidade com a felicidade,
naturalmente, como quem não estranha
que haja montanhas e planícies
e que haja rochedos e erva...
O que é preciso é ser-se natural e calmo
na felicidade ou na infelicidade,
sentir como quem olha,
pensar como quem anda,
e quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre,
e que o poente é belo e é bela a noite que fica...
E que se assim é, é porque é assim.
Alberto Caeiro
e sentir-lhe um paladar,
e se a terra fosse uma coisa para trincar,
seria mais feliz um momento...
Mas eu nem sempre quero ser feliz.
É preciso ser de vez em quando infeliz
para se poder ser natural...
Nem tudo é dias de sol,
E a chuva, quando falta muito, pede-se.
Por isso tomo a infelicidade com a felicidade,
naturalmente, como quem não estranha
que haja montanhas e planícies
e que haja rochedos e erva...
O que é preciso é ser-se natural e calmo
na felicidade ou na infelicidade,
sentir como quem olha,
pensar como quem anda,
e quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre,
e que o poente é belo e é bela a noite que fica...
E que se assim é, é porque é assim.
Alberto Caeiro