quarta-feira, março 27, 2024

Dia D

Há ano e meio a enfrentar uma quase cegueira por motivo de uma operação mal sucedida, amanhã poderá ser o "Dia D" para a minha mãe. Vamos falar com um novo especialista. Pode ser que as coisas tenham solução desta vez. Venha a terceira operação e, se tiver de ser para ficar bem, que venha a quarta e a quinta e a sexta, etc.

Chateia-me mesmo que uma pessoa com 81 anos esteja a passar por isto, quando deveria estar a disfrutar pacificamente e com qualidade do tempo que lhe resta - alguém que não toma um comprimido para nada por ter uma saúde de ferro. Percebi bem a dor da minha mãe quando não conseguiu ver a comida no prato e teve de ser o meu irmão a dar-lhe à boca.

Mas cá estamos para ela porque esta mãe foi daquelas que nos protegeu e que lutou por nós, então vou lutar com ela e por ela. Até à lavagem dos cestos ainda é vindima, por isso nada de desistir. Que amanhã se abram novas perspetivas. 

Que grande molha

Nem com o impermeável me safei. Parecia o dilúvio universal.

Pobres Criaturas

Um filme fascinante. Os filmes de Yorgos Lanthimos são tudo menos convencionais e eu acho que tem faltado este sentido de aventura ao cinema - de um modo geral. Antes de mais, percebo o porquê do Óscar de melhor atriz principle para Emma Stone. A premissa de desempenhar um recém nascido no corpo de uma mulher adulta sendo na realidade mãe e filha e nenhuma das duas é impressionante. E ela conseguiu quase na perfeição oferecer um retrato credível. Voyeurístico e empirista o argumento expõe a natureza humana e o conhecimento do mundo a partir da criação de uma Eva (que se inspira - quem sabe - no Frankenstein de Mary Shelley) verdadeiramente recém-nascida, mas mulher adulta ao mesmo tempo.  As opções estilísticas entre o romantismo, surrealismo e diria até um certo steam punk, complementam na perfeição o ponto de vista filosófico do filme. Gostei muito. 

18/20

terça-feira, março 26, 2024

Chamava-se Pedro

O Pedro era um homem do meu ginásio. Era uma pessoa que falava a toda a gente "Boa tarde, como está?". Foi isso que colocou o Pedro "no mapa" para mim, a simpatia e a educação. Nunca troquei nada mais que cumprimentos com ele. Teria 1.90m ou pouco mais, uns 58 anos e bom aspeto. No final do treino comia uma banana. Soube agora que era arquiteto e uma pessoa de bastante sucesso. Tinha um sorriso amável e uma voz calma. O meu PT perguntou-me se eu sabia que o Pedro se tinha suicidado, ao atirar-se da varanda da sua casa (um 7º andar). Eu nem sabia que aquela pessoa com quem eu trocava 'bom dia', 'boa tarde' e 'tudo bem' se chamava Pedro. Sabia quem era, mas não sabia nada dele, nem o nome. É assim a vida, muitas vezes não fazemos a menor ideia sobre quem está no nosso raio de convivência e se estão bem ou mal emocionalmente, mesmo as pessoas mais próximas. Deu-me um sensação de tristeza, pensar no que iria no coração do Pedro, uma vez que na cara nunca ia outra coisa que não o sorriso afável. Que pena. 

segunda-feira, março 25, 2024

Aquaman e o Reino Perdido

 

Tenho apenas uma coisa a dizer deste filme...Blhac! Não gostei mesmo nada. O primeiro tinha sido giro.

7/10

A grande ilusão

Gostei bastante desta série de origem inglesa em streaming na Netflix. Não tive simpatia por todos os personagens, mas à medida que a trama se foi desenrolando, digamos que nem tudo era o que se pensava. Apesar de ter sido um crescendo, eu dira que o final foi um bocadinho um anticlimax. Acho que esperava mais. Não sei se no livro, a ação se passa da mesma forma que na série, uma vez que o argumento é a adaptação de um romance de 2016. Mesmo assim, eu aconselho, a narrativa não é americanizada o que é sempre refrescante nos dias que correm. Deu-me prazer ver. 

Diferença de capitais

Ao haver 18 anos de diferença entre os membros de um casal, é muito provável que os capitais de cada um sejam diferentes (cultura, finanças, etc.). O meu caso não foge à regra, e ambos estávamos muito conscientes disso quando demos o passo de avançar. Mas ao contrário do que me aconteceu em relações passadas, o Beto disse-me que não queria que eu lhe pagasse nada ou mudasse o meu estilo de vida, o que tinha de acontecer era ele trabalhar mais para fazer um vencimento mais parecido com o meu. O resultado é que ele trabalha que se "desunha", para fazer o tal dinheiro extra (após o horário de trabalho normal) e não poupa nada, ao contrário do que costumava acontecer. 

Como em tudo até hoje, ele cumpre sempre aquilo que diz, por isso uma mão tem mesmo de lavar a outra, ou seja, sou mesmo muito consciente de que ele merece ser compensado de todas as formas possíveis por tudo o que investe nesta relação. E o facto de (com ele) ser sempre tudo transparente, torna muito fácil a retribuição. 

Acabamos por viver muito bem com as diferenças nos capitais, nos gostos e nos consumos materiais e culturais, porque nos valores não há diferenças, mas sim comunhão. A vida ensinou-me que é um processo evolutivo e que nada obrigatoriamente permanece igual, por o isso o de hoje pode não ser o de amanhã. Agora mesmo, respeito, empatia e lealdade são valores comuns e facilitam tudo.

Santo da Serra

Este fim de semana tive a experiência madeirense de ir passar "fora lá dentro". O Beto reservou um hotel para passarmos o fim de semana no Santo da Serra, a passear, a fazer piscina, sauna, etc. Não foi uma celebração, ele simplesmente quis dar-me um mimo de surpresa, mas acabou por coincidir com os seis meses de relação e, portanto, é um fim de semana que quero lembrar pelo facto de ser um dois em um. 

Agora quando ele menos esperar trato eu de lhe dar um mimo aqui no continente. Até já tenho uma ideia de onde vai ser. Espero mesmo que ele goste.

sexta-feira, março 22, 2024

35 anos de Like a Prayer

Lembro-me, como se fosse hoje, do momento em que comprei o vinil numa discoteca de Corroios e corri para casa para o colocar a tocar. Tinha adorado o ritmo festivo do anterior álbum 'True Blue' daí que a primeira audição do álbum Like a Prayer tenha sido uma lástima. Detestei aqueles sons mais rock e gospel e não consegui fazer sentido das letras. Aos 14 anos (quase 15) a única canção que fez sentido foi a faixa Express Yourself. 

Não obstante, este viria a tornar-se o meu segundo album favorito de Madonna (perdendo apenas para o Ray of Light). O que não apreendi logo em miúdo foi o que me cativou (não muitos) anos depois, o estilo confessional das letras, a estrutura menos óbvia das progressões de cordas e uma música levemente mais sombria, por vezes, e com maior profundidade mesmo nos temas dançantes.

Os críticos, por oposição ao que se passou com os trabalhos anteriores da cantora,  tiveram por este álbum uma aceitação extraordinária, prevendo que se tornaria um clássico. E sim, dele saíram dois dos maiores clássicos dos anos 80 (Like a Prayer e Express Yourself) e algumas canções que nunca viram "a luz do dia" como singles, mas que são extraordinárias: a estranhíssima Til Death Do Us Part, a introspetiva Promise to Try, a tantalizante Love Song.   

Madonna convertia-se numa artista respeitada a 31 de março de 1989. 


terça-feira, março 19, 2024

Dia do Pai

Que sorte tive em ter tido o meu pai. Que sorte tive em ter tido a capacidade de compreender os anos em que as coisas foram complicadas, porque ele queria que eu fosse forte e não o miúdo sensível e medroso. Que sorte ter tido o exemplo dele como pessoa, continuar a tê-lo como inspiração. 

Os pais não se escolhem, mas obrigado a quem me fez cair na casa onde nasci. Eu acredito que as coisas não são por acaso no caminho da nossa evolução de existência física para existência subtil. Nascer nesta casa colocou-me um passo mais próximo de tudo o que interessa. 

Há 7 anos na Tailândia

Quando estive na Tailândia, fui beber um cocktail e duas senhoras sexagenárias meteram conversa comigo e eu já não as larguei. Eram cunhadas. A mais nova era viúva do irmão da mais velha. Conversa vai, conversa vem, elas estavam a fazer uma viagem de 4 meses pela Ásia. 

A mais velha era diretora de um colégio, tinha sido jogadora de hockey e uma ativista dos direitos dos gays nos anos 70 e 80. Resolveu tirar 6 meses de sabática para a apoiar a cunhada (bancária) que tinha ficado combalida pela morte do marido. 

O que eu mais fixei da conversa foi que a mais nova encontrou o amor da sua vida aos 58 anos. Para o perder 5 anos depois vítima de um cancro. Mas segundo ela, não estava zangada, ainda se sentia triste pela saudade, mas sentia-se grata ter tido a oportunidade de passar 5 anos ao lado daquela pessoa extraordinária. E a mais velha concordou. Disse que o irmão era mesmo alguém especial e que eles tinham tido algo muito bonito os dois.

Gosto desta visão celebratória do amor. Não se lamenta o que se perdeu, celebra-se o que se viveu. A saudade é da pessoa. O amor nunca se perde. Na pior das hipóteses transforma-se. 

Uma casa e um lar

Uma casa pode ser bastante pobre, mas a realidade é que isso é pouco relevante quando as pessoas que nela habitam são solidárias e têm amor entre si. Uma casa que não é um lar é sempre fria, mesmo não deixando entrar chuva ou não deixando aparecer humidade nas paredes. 

É assim a casa da minha "sogra", um lar. Apesar de ser a sogra mais desafiante que já tive, não vou tapar o sol com a peneira, por algumas razões que já elenquei aqui (teve de ser dura para sobreviver e tratar dos filhos e não mais despiu a personagem da guerreira, querendo tudo sempre de acordo com a sua visão e liderança), a casa dela é uma casa quentinha, onde as pessoas recebem amizade e generosidade e o sentimento de que fazem parte da família. 

A família do meu pai também era gente de aldeia, rústica e bruta, mas genuína. Gente verdadeira que é aquilo que é e não finge ser outra coisa. O que é mais refrescante neste contacto com o Beto e com a mãe, é que tudo é aquilo que aparenta ser. É tudo verdadeiro. Já tive a minha cota parte de pessoas que não dizem o que realmente pensam ou sentem. Assim, mesmo tendo sido difícil adaptar-me à personalidade forte da sogra, é bom saber que estou no meio de gente boa. A casa pobre onde venho ficar quando estou na ilha, é um lar e gosto muito de lá estar. Há conforto, há calor humano.

Organização

O Beto é incrivelmente organizado. Fico admirado com a quantidade de caixas, micas, organizadores que ele mantém na perfeição. Sabe onde tem tudo. Já eu sei onde tenho tudo se mandar as coisas que tenho sempre para a mesma gaveta, se começo a arrumar com sobriedade, perco o tino a tudo.  Pode ser que vá aprendendo com ele a organizar (entre outras coisas que me vai ensinando). 

sexta-feira, março 15, 2024

A quem é, de facto, bom.


As pessoas realmente boas nunca são condicionais ou estratégicas, não usam a "bondade" como compensação, como elemento de troca ou exercício de charme. É isto.

 

quinta-feira, março 14, 2024

Adorava

Adorava, um dia, ver o Benjamin Netanyahu a apodrecer na prisão. 

quarta-feira, março 13, 2024

Duna: Parte 2

O filme Duna de1984 tem, desde sempre, sido uma das minhas referências em ficção científica. Isso porque a densidade da narrativa era muito contrastante com outras obras do género. Muito filosófico, sem descurar alguma ação. Claro que os meios técnicos da altura não permitiram elevar os efeitos especiais ao patamar da nova versão de Denis Villeneuve.

A qualidade literária da obra original de Frank Herbert encontra na arte poética visual de Denis Villeneuve o encaixe perfeito. É curioso como ele consegue levar a profundidade filosófica ao seu limite com sugestões imagéticas ou simplesmente com luz. Não tenho dúvida de que - visualmente - o que vi foi arte. 

Precisava contudo de algo mais forte para o final, o final deste filme deixou-me um pouco aquela sensação de anticlimax por ser o compasso intermédio de uma trilogia. Normalmente nunca gosto do segundo filme das trilogias porque me deixam frustrado na espera pelo final. Tenho a certeza de que a Parte 3 vai ser extraordinária. 

16/20

Nomadland – Sobreviver na América

Logo à cabeça tenho de realçar a delicadeza com que a realizadora abordou o tema dos "nómadas" sem teto que seguem o fluxo da oferta de trabalho temporário porque estão fora do sistema.  De certa forma, este filme é um docudrama. A história de cada pessoa com quem a atriz principal se cruza (ela própria com os seus motivos e sentimentos escondidos) é uma peça de um puzzle que se vai constituindo numa imagem complexa e muito humana. É uma bonita homenagem aos precários e aos "houseless" que é diferente de " homeless". Como a personagem principal aponta, eles têm um lar não têm é uma casa. 

O filme foi-me conquistando porque tem o ritmo de um documentário narrativo. É introspetivo e lento e no início eu não estava a entrar na "vibe". É uma peça delicada mas árida, tão árida como a vida e os mecanismos de sobrevivência que retrata.

16/20
 

Perseguição Escaldante

Para quem acha graça a ver a Sofia Vergara a fazer o tipo de papel cómico que lhe deu fama na televisão, então este é o filme certo. O filme recorre a piadas muito básicas e a prestação da Reese Witherspoon é sofrível, não convencendo grande coisa. Não obstante a Sofia Vergara consegue levar o filme nos saltos altos. Para mim os momentos altos do filme são todos onde o Robert Kazinsky aparece porque o acho giro como o caraças. E é isto.

11/20

Os Três Mosqueteiros: D’Artagnan

A "enésima" versão cinematográfica da obra de Alexandre Dumas chegou com o desejo de conferir um maior realismo social e de época à narrativa. Não há nada de novo relativo ao enredo, mas houve definitivamente uma aposta visual na contextualização histórica. Curiosamente o filme ganha e perde com esse cunho mais cru dos personagens. Alguma da mística heroica desaparece no seio daqueles homens crus e sujos e. por outro lado, apesar de serem menos apaixonantes há uma maior credibilidade no perfil de cada um.  É um bom esforço neste sentido. 

14/20


A noite do jogo

Quando se faz uma viagem longa de avião aproveita-se para olhar para a oferta de filmes e ver o que se puder, a verdade é que nem sempre corre da melhor maneira. Este 'A noite do Jogo' tinha tudo para ser uma comédia extraordinária se fosse realizada no "estilo Deadpool", mas não foi e embora o argumento tenha imenso potencial, cheira a comédia americana para a classe média por todos os prismas (não é um elogio).


11/20

segunda-feira, março 11, 2024

Sobre os cancelamentos que estou a ver online

Acho que não se devia ser rápido a condenar quem votou no CHEGA, porque esse grupo é muito heterogéneo: uma parte é fascista ok, mas a maior fatia são pessoas mal informadas, pessoas vítimas da sua frustração com os erros dos "partidos de sempre", pessoas com capacidade de análise limitada e pessoas que nem sequer lêem os programas dos partidos e não fazem ideia do que eles defendem e/ou do que era a vida antes de 1974. Além do mais as pessoas ouvem as palavras fascismo e democracia e nem sabem bem o que isso significa.

A raiva é uma inimiga na hora de decidir e mesmo muita gente caiu refém da sua raiva nestas eleições. O populismo é isto mesmo, líderes bem falantes e manipuladores que sabem mexer com as emoções das pessoas mais vulneráveis no momento da decisão. Em Portugal, jovens, idosos, pessoas com baixo rendimento são vítimas fáceis.  Conheço pessoas de bem que votaram CHEGA, e sinto de coração que não fazem ideia do que significaria um governo CHEGA. Eu que como homossexual seria uma das primeiras vítimas da nova ordem (e sei o que é ser estigmatizado e odiado), não vou ser igual ao ódio que o CHEGA propaga (contra etnias, contra raças, contra estrangeiros, contra gays, contra mulheres, contra quem aborta, etc). Eu não vou ser igual ao CHEGA ou ser vítima da mesma raiva ou ignorância que fez muitos milhares de portugueses votar nesse partido. Somos todos livres de agir, todos. 

Portanto uma certa compaixão e tentar compreender, sem preconceito, o porquê desse voto parece-me mais sensato. E de caminho fornecer informação pertinente. Formar em vez de julgar. Tenho a certeza absoluta (tal como aconteceu com o voto Bolsonaro) que com informação completa muita gente não voltará a votar uma segunda vez. Temos de saber separar o trigo do joio.

E um pouco de Blue Eyed Soul...


You are the best thing - Sophie Faith

Legislativas 2024

Os resultados das legislativas é um retrato muito interessante da sociedade que temos, da desinformação, da falta de capacidade crítica da população, da preguiça intelectual dos principais partidos e do analfabetismo funcional de que tão pouco se fala (caso AD/ADN é simplesmente delicioso). 

Considero que até sou um pessoa informada e, por conseguinte, acabo por pensar o mesmo do meu círculo de amigos e conhecidos. Mas escavando um bocadinho mais, percebo que vão atrás das notícias flash que aparecem nos média, que não vão aos websites dos partidos para ler os programas dos mesmos (na realidade nem sabem bem o que estes defendem). 

Quem está zangado, encontra maior facilidade em votar num CHEGA do que fazer crescer as outras opções partidárias que podem trazer uma lufada de ar fresco (o CHEGA traz apenas o que já vivemos na ditadura, nada de novo). Fiquei muito contente por ter visto o LIVRE a constituir um grupo parlamentar e por ter ajudado e tive alguma pena de não ver o PAN expandir e ver alguns partidos de direita progressista a ganharem espaço. 

Este ano vai ser muito complicado e suponho que o governo vai cair quando chegar a votação do orçamento para 2025. Ou o PSD procura um orçamento muito próximo dos valores do PS ou nada. O CHEGA não ajuda por estar confiante de que pode ser governo e tem interesse em ir para eleições de novo. Eu tenho zero interesse em eleições e por viver num regime de duodécimos. 

Mais um ano de atraso para Portugal e mais um ano de atraso na execução do PRR - algo fundamental para o país e que as pessoas nem fazem ideia do que é (mas sabem que a Cristina Ferreira dançou descalça no Dança com as Estrelas).

Falo com desapego. A fé que perdi no trabalho, também perdi no nosso povo, nas instituições. etc. Limito-me a viver a minha pequena vida e a ser observador. Faço juízos, mas mantenho-me calado e lamento apenas. Não obstante, também não perco muito tempo com isso.  Há muito pelo qual viver.

 

 

quarta-feira, março 06, 2024

Não consigo

Não consigo lidar com as notícias sobre a faixa de Gaza e sobre os atos criminosos de Israel. É tudo muito mau, muito triste, muito dececionante. Dou por mim a pensar que deveria existir justiça divina, mas não há. Não haverá punição, não haverá nada para lá da barbárie. O mundo é bárbaro, nunca deixou de o ser, e eu sinto-me inseguro quando penso no precário equilíbrio da civilização. A hipocrisia, o fingimento, a mentira e a alienação são as varas de sustentação do modo de vida atual. Creio que por isso escolho não ler e não obter informação sobre certos assuntos (prefiro estar alienado de certas temáticas). Pensar é bom bom, mas pensar o mundo em que vivemos, perceber as forças em ação é como um pontapé na cabeça. Nada mais há do que impotência face ao 'macro'. Vivo assim, a minha vida em 'micro', com aquilo que é possível assimilar e transformar em contentamento e satisfação. 

segunda-feira, março 04, 2024

Nem sempre

Nem sempre a nossa maior paixão é quem nos trata melhor ou o melhor para nós. A grande paixão pode não encontrar mais tarde correspondência nas ações e nos valores, convertendo-se em dor apenas, aumentada pelo facto de não nos conseguirmos desligar do que aquela pessoa nos fez sentir. Mas a paixão é nossa, não é do outro. A agenda do outro não tem de corresponder à nossa. E sabendo o que amamos, temos apenas de sair, porque o outro nunca vai perceber a dimensão do que arde em nós, porque os seus códigos não são os nossos. Tranca-se essa paixão e espera-se que a falta de oxigénio apague a chama eventualmente. 

Outras vezes o amor nasce de uma amizade com respeito mútuo e confiança, que de forma tranquila e passo a passo vai sendo cada vez mais especial. Não vem com a excitação e a inquietude da paixão ardente. Vem suave, confortável, discreto. Um dia percebemos que está ali e que o caminho é nutrir o sentimento, porque temos confiança e respeito pelo outro, já sabemos quem o outro é, sabemos o que esperar. É um amor pequenino que vai ganhado peso e dimensão e que é uma criação dos dois. É um amor com responsabilidade partilhada, maduro, perene. Nunca se irá interromper, mesmo admitindo que um dia possa mudar de forma. 

Já vivi as duas coisas.

Descobri hoje esta canção



Easy  - James TW


Enquanto estou a trabalhar, às vezes, vou ao Spotify buscar alguma playlist de baladas soft e meto a tocar como pano de fundo. Gostei muito da sonoridade desta canção quando ela passou e gravei-a nas preferidas. do Spotify. Só há pouco é que fui ver a letra e encaixa que nem uma luva... 


"Look what you done - you just crashed in, you changed my whole life.
Found a way to my heart, now it's like you've been here the whole time.
'Cause you girl make it oh so easy
Oh, so easy to love you
'Cause girl you make it oh so easy
Oh, so easy to love you..."

Futuro

Não faço puto ideia do que será o futuro. De há um ano a esta parte, limito-me a viver o presente porque ele está bom assim.

Coisas que caem bem no ouvido

"Se ainda existia alguma dúvida, esta viagem veio mostrar que és mesmo o amor da minha vida".

Férias em São Tomé e Príncipe

                         

Não estava nos meus planos mais próximos visitar São Tomé e Príncipe. Era uma daquelas viagens que eu dizia "um dia vou lá quando não estiver muito caro". Mas fui "apanhado na curva" pelo facto de ser a viagem de sonho do Beto e em novembro, a ver bilhetes para viagens, vi que os bilhetes estavam mais baratos que o normal e comprei.
 
Nunca tinha visitado um país da África negra e posso dizer que adorei. Foi uma experiência daquelas que nos tornam mais humildes diria. O país em si é um paraíso da natureza, em especial a ilha do Príncipe. As praias são de tirar o fôlego, as cascatas no meio da selva também. Toda a natureza em estado bruto é uma delícia para os olhos. 

O resto é um espetáculo entre o sociologicamente belo e o emocionalmente duro. As pessoas, na sua maioria, vivem numa pobreza considerável, não obstante, a comida não falta porque a natureza dá e tudo o resto será também para ser visto de acordo com outro prisma cultural que não aquele a que estamos habituados. Ali estamos totalmente fora da nossa zona de conforto enquanto europeus e dos nossos hábitos. 

O que me fez alguma confusão a princípio, para aquelas pessoas já foi adaptado e estruturalmente integrado. Não há grandes queixumes, lida-se com o que se tem e faz-se o melhor com o que se tem. Estar ali com as pessoas da terra, é perceber que se calhar vivemos aqui na Europa com coisas a mais, que nos queixamos demais, que não já não estamos em ligação com a nossa terra, para além de sermos totalmente insustentáveis, ao contrário deles, que por necessidade e por ideologia acabam por não agredir a natureza como nós.

O Beto esteve sempre maravilhado desde o início e foi muito bonito de ver como ele se dava às pessoas, como falava a toda a gente, como brincava com as crianças, como fazia perguntas interessado no que eles tinham para contar - de pessoa genuína para pessoa genuína. 

Para nós os dois a viagem funcionou também como um forma de vermos como lidamos um com o outro num clima bastante diferente e, por vezes, stressante devido às diferenças culturais e ao cansaço de muitas horas a conduzir por estradas que de estrada só têm o nome, com o corpo dorido. 

Um dia esqueci-me de trazer um lanche e estava cheio de fome quase a ficar rabugento, mas um guia tinha-nos ensinado que crescem amendoeiras na praia e lá fui eu catar amêndoas na areia e parti-las com uma pedra. A natureza de facto dá o que é preciso.

Esta viagem deu-nos bastante, para além de estupendas fotos. Deu-nos um novo enfoque e perspetiva cultural para olhar a vida, deu-nos a certeza de que nos respeitamos muito como casal e de que a nossa comunicação é mesmo boa. É fácil acompanhar o Beto seja no que for, porque ele é uma pessoa feliz e grata pelo que tem. Espero poder acompanhá-lo em muitas mais viagens porque me sabe bem mostrar-lhe coisas novas, ele recebe sempre tudo com interesse e alegria. Mas nesta viagem em particular foi ele que me deu bastante. 

Alexandre: o Homem, o Deus.

Foi com prazer que assisti a esta série documental, com entrevistas a especialistas e com dramatização de eventos recorrendo à utilização de atores. Do ponto de vista do espetáculo, está feito à boa maneira "americana", o que quer dizer que entretém. Pelo caminho há muitas pontas soltas e informações que são contraditórias com outras disponíveis online. Não obstante, traz ao conhecimento geral a vida de um dos maiores estrategas militares de todos os tempos. Para quem se quer aventurar no conhecimento da história deste rei Macedónio, que espalhou a cultura grega no mundo e destruiu o império Persa, é uma forma leve de entrar.