sexta-feira, maio 09, 2025

Metáfora: Hunger Games


Este pequeno vídeo é das metáforas mais poderosas e inteligentes que vi nos últimos tempos. Quem viu a trilogia Hunger Games, percebe à primeira. É claro que nós no mundo ocidental não temos de deixar de viver as nossas vidas por causa de guerras extra fronteiras, mas temos uma obrigação moral enquanto seres humanos de nos manifestarmos, de mostrarmos compaixão, de não deixar cair no esquecimento o genocídio na Palestina (e outros espalhados pelo mundo). O valor de uma criança é inestimável e é o mesmo, seja ela branca ou negra ou cristã ou muçulmana. Sinto muita vergonha pela nossa civilização calada perante a bestialidade que ocorre na Palestina e na Ásia e na Africa, mas a Palestina está "escancarada", aqui mesmo na porta da Europa a sofrer os mesmo horrores que os judeus sofreram durante a segunda guerra mundial. Sinto mesmo muita vergonha, pela falta de empatia que vejo na Europa, no meu país e até no meio de muitos conhecidos. Vivemos na suposta era "do conhecimento e da informação" todos conectados através das redes sociais e eu nunca vi tanto individualismo, tanta falta de empatia e de humanidade. Passando a expressão "Pimenta no cu dos outros não deve ser refresco no nosso". Continuemos agarrados a um falso sentimento de segurança, continuemos a pensar que as coisas não mudam, que não interessa o que se passa longe. Num mundo globalizado interessa cada vez mais. Mas mesmo que não interessasse ainda deveríamos ser orientados por um sentimento de justiça, de respeito, de bondade, de evolução. Sigamos a falar de espiritualidade, de energias, de evolução pessoal (temas da moda) e a ser ridículos. Digo ridículos, porque as pessoas tendem a esquecer que uma pessoa não é aquilo que diz, mas aquilo que faz. As nossas ações é que deixam rasto, aquilo que fazemos (na frente e fora da visão dos outros) é que diz quem somos - com as respetivas consequências boas ou más. No final vamos todos deitar-nos com uma consciência tranquila, uns porque têm a sua consciência mesmo tranquila e outros porque têm uma enorme falta de noção. Gostava de terminar com a referência a uma grande ironia. Vivemos na época da imagem, todos (em maior ou menor grau) querem ser bonitos, ter boa imagem e vê-se que a imagem global das pessoas está mais cuidada, mas há um outro tipo de beleza, subtil e interior e existencial, que tem desaparecido. A nossa sociedade está mais feia neste sentido. Quem é capaz de ver a beleza no seu todo, acaba por sofrer com isso. E aqui reside a ironia. Quem tem uma consciência expandida sofre pela degradação da beleza à sua volta, que por momentos também pode ser sua, porque todos podemos ser falhos, mas a sua consciência e sentido de responsabilidade ajudam a melhorar-se e a recuperar o "viço existencial". Quem não tem noção vive bem, porque não percebe (por incapacidade ou vontade) que por trás de todas as justificativas e desculpas arranjadas para não ser responsável pelas suas ações e pela parte coletiva que lhe compete, a falta de beleza da sociedade reside em si mesmo. A sociedade somos nós. É o nosso reflexo.

2 comentários:

Sergio disse...

Primeiro, quero desejar-te um feliz dia de anos! Obrigado por este post, e por tão eloquentemente expores o que vês à tua volta. Estamos todos conectados e interdependentes. Quando alguém sofre, nós também sofremos. Quando alguém faz algo bom, nós também nos elevamos, colectivamente. É falso que se ache que podemos viver isolados e indolentes a respeito do que se passa noutras partes do mundo. Infelizmente, muito poucos atingem essa consciência universal. O mais triste é haver líderes que nunca a tiveram. Escreveres este texto ajuda à tomada desta consciência. Sabes quê? Às vezes só quero atirar a toalha ao chão, deixar tudo - a indolência colectiva advém de como o sistema/cultura estruturam a nossa vida: trabalho, sucesso, bens materiais para “falsamente” nos darem a sensação de estabilidade, e o continuar a correr sem sair do mesmo sítio. Competir com outros… As distrações e o consumismo substituem o pensamento e a aprendizagem, a reflexão sobre a universalidade- estamos todos agarrados aos nossos espelhos do eu. Eu tenho a esperança de que como está, o sistema não vai durar muito. E que cada vez mais gente está a tomar consciência dessa consciência universal. Sempre que vejo atos de bondade e solidariedade (ainda ontem vieram várias pessoas de Vermont aqui ao Canadá para comprarem comida num Farmer’s market Canadiano, num protesto contra as tarifas do Trump - só um exemplo). Eu continuo a acreditar num fundo bom de cada pessoa. E acho que a única maneira de remarmos nessa direção é, todos os dias, fazermos gestos e ações que vão nessa direção com as pessoas com quem nos cruzamos. Começar nesse círculo. Círculos tocam círculos e expandem-se. Um forte abraço!!

silvestre disse...

Obrigado pelos parabéns!
Eu já só espero pelo nascer de uma nova ordem mais justa. Depois da implosão da nossa. Mas no entretanto farei a minha parte para melhorar o que existe.