Já estou a pensar no Natal.
quarta-feira, setembro 24, 2025
Tatuagens
Depois de muito pensar no assunto serão 4. E está encerrada a conta até ao fim dos meus dias. A que me está a dar mais entusiasmo é a imagem que me apareceu por último na cabeça e que parecia tão fora de tudo (aparentemente); o significado espiritual desta é afinal muito importante.
terça-feira, setembro 23, 2025
Quando alguém já disse...
"Há um cansaço da inteligência abstrata, e é o mais horroroso dos cansaços. Não pesa como o cansaço do corpo, nem inquieta como o cansaço do conhecimento e da emoção. É um peso da consciência do mundo, um não poder respirar da alma."
Fernando Pessoa
A feiticeira de Florença - Salman Rushdie
Nunca tinha lido nada do Salman Rushdie e o título do livro atraiu-me. Tem de facto algo de mágico, misturando habilmente realidade histórica e ficção. Este livro casa a cidade de Florença e o império mógol de Akbar I, que atingiu, na mesma época, um apogeu comparável nas artes e no pensamento filosófico. O confronto entre as filosofias europeia e as do hindustão. O livro é tanto divertido, como didático, apresentando realismo e fantasia em doses bem temperadas.
Enredo: o amigo de infância do célebre Niccolò Machiavelli, Antonino Argalia viveu na Florença renascentista até perder os pais para a peste. Sozinho, decide tentar a sorte em terras distantes, oferecendo seus serviços como mercenário. Peripécias diversas acabam por alçá-lo à frente das forças otomanas em luta contra o xá da Pérsia, em 1514. Uma vez derrotado o xá, Argalia conhece Qara Köz, ex-amante do soberano e mulher de beleza e poderes mágicos, por quem se apaixona de imediato.A história de Qara Köz, a feiticeira de Florença, é contada ao imperador Akbar, o Grande, por um atrevido forasteiro que atravessa o mundo para comunicar ao soberano mongol que é seu parente direto. Numa intrigante sucessão de aventuras, o misterioso contador de histórias vai revelando os caminhos que conduzem Argalia e sua bela mulher desde Istambul até a Florença dos Medici.
16/20
Quem tem medo dos santos da casa - Sara Duarte Brandão
Esta nova autora escreve de uma maneira muito terna. Há trechos do livro que são absolutamente maravilhosos e poéticos, enquanto formas de entender a vida ou expressão de sabedoria popular ou "sabedoria do corpo", porque o corpo sabe sempre tudo.
O livro narra a história de Maria Teresa, uma mulher de classe alta a crescer numa vila piscatória entre as obrigações familiares da época e a liberdade que encontrava nos livros apresentados pelo seu avô e que nunca mais deixou de ler. Condenada a viver oprimida pela sua condição de mulher, resolve reclamar o seu destino, encontrando a solidão e - muitos anos mais tarde - a redenção na amizade que constitui com uma criança. É uma leitura fluida que se faz com gosto.
15/20
Deixa-te de Mentiras - Philippe Besson
Li este livro pela razão superficial de não ser longo. E que bem que assim foi. Há bastantes anos atrás escreveram um conto de 10 páginas chamado Brokeback Mountain e foi excelente. Este livro curiosamente lembra imenso essa história, mas num lugar diferente, num contexto diferente. No fundo, o livro trata das consequências de se fugir à verdade intrínseca de cada um. Mas o relato é nostálgico e é delicado.
Enredo: Um escritor começa a pensar no seu primeiro amor (quando adolescente) e no que foi o tempo que viveram juntos. A história encontra um fim ao conhecer, 23 anos mais tarde, o filho desse amor.
17/20
segunda-feira, setembro 22, 2025
Uma duas - Eliane Brum
Certo dia, na Livraria da Travessa, disse ao B que achava que este livro seria a cara dele, após ter lido a sinopse. Acabei por lê-lo primeiro que ele e simplesmente achei ótimo.
O livro fala sobre a dificílima relação entre uma mãe e uma filha. O Goodreads diz:
"Como é tecida a trama de ódio e afeto entre duas mulheres (des)unidas pela carne? Uma duas é um retrato expressionista tão dramático quanto nauseante que foge de clichês e eufemismos que costumam cercar o tema. Dotada de um humanismo visceral, a autora entrelaça os narradores do mesmo modo que o acaso embaralha integrantes de uma família numa teia de subjetividades".
Pois o livro é tudo isto e muito mais. É psicanalítico, é disruptivo, vira os conceitos de amor e ódio do avesso. Acabei o livro a chorar. Adorei.
19/20
O que te pertence - Garth Greenwell
Talvez eu tenha um problema com livros em que não gosto do personagem principal, neste caso um professor americano que conhece Mitko, um jovem prostituto carismático num zona de cruising e cria uma obsessão. Desejo e angústia é o mote que vem com a busca de intimidade e amor que não chegam. No processo é-nos dada a saber a historia deste professor, as suas experiências formadoras de amor, a rejeição pela família e amigos e as dificuldades de se crescer como gay nos anos 90.
Podia ter sido mais emocional, ou erótico ou intenso. Falhou em cativar-me.
13/20
Os abismos - Pilar Quintana
Este segundo romance de Pilar Quintana fala sobre os abismos que vivem na obscuridade do mundo dos adultos relatados através do ponto de vista de uma menina - Cláudia como a sua mãe - que, desde a memória de sua vida familiar, tenta compreender a estranha relação entre seus pais. Das suas observações revela-se a matriz de um mundo feminino preso a um ciclo vicioso de que não pode ou não sabe escapar. Acaba por ser um livro sobre a queda eminente de cada um desde os degraus da sua infelicidade. Achei interessante, mas não me senti cativado por nenhum personagem.
14/20
A cabeça do Santo - Socorro Acioli
Tive muito prazer a ler este livro. No início não sabia bem qual o rumo que ia tomar, mas no final a sensação é muito boa. É cómico, espiritual, dramático, paranormal, brutal, terno.
O enredo: A Cabeça do Santo conta a história de Samuel que viaja até a cidade de Candeias pedido de sua mãe no leito de morte, para que o jovem encontre sua avó. Ao chegar na cidade, um temporal atinge o local e o único lugar em que o jovem encontra para se abrigar é em uma enorme cabeça abandonada em um canto isolado, que seria uma estátua de Santo António.
A partir deste enredo as personagens apresentadas são muito bem urdidas para construir uma história densa e bem estruturada, apesar de surreal, mas que passará a ser credível se assim quisermos.
17/20
Nada cresce ao Luar - Torborg Nedreaas
Fui ler este livro motivado pela curiosidade de o Pedro Almodovar (realizador) ter gostado bastante do mesmo. A história começa com um homem anónimo que se sente atraído por uma bela e solitária desconhecida que vê no átrio de uma estação ferroviária, e a quem oferece ajuda. Ela acompanha-o até casa e, durante uma noite inebriante de vinho e cigarros, conta-lhe a história devastadora da sua vida.
Esta mulher é uma alma despedaçada cujo destino comeca quando aos 17 anos se torna do professor de liceu. O desgoverno começa com um amor não correspondido e com uma obsessão descontrolada. É suposto durante a sua narrativa sermos tomados pelo significado de uma mulher navegar numa sociedade opressiva feita para homens, num sistema capitalista e patriarcal que obriga as mulheres a desempenhar papéis que as tornam emocional e economicamente dependentes.
Eu basicamente vi uma mulher com um comportamento autodestrutivo que, em virtude do seu amor alienado, se coloca em posição de abuso constante. Não consegui ter simpatia prlo personagem e o livro acabou por me deixar até irritado. Não obstante, a autora sendo nórdica e escrevendo sobre o início do século, refere-se certamente a uma realidade que não ressoou comigo.
12/20
O escritório - Frida McFadden
Depois de ler A Criada - que é verdadeiramente fascinante - nem sei bem o que dizer sobre este livro. Não posso dizer que como thriller a ideia seja má. Mas o livro é um aborrecimento desde o início ao fim. As personagens são chatas, escrita é chata, para no final tudo se desenrolar de repente, muito gira a volta e tarde de mais porque já não se aguenta tanta chatice.
11/20
A cadela - Pilar Quintana
Enredo: Na costa da Colômbia virada ao Pacífico – num lugar onde a paisagem luxuriante contrasta com uma pobreza extrema e o homem é uma migalha diante da força dos elementos – vive Damaris, uma negra com cerca de 40 anos que toda a vida quis ser mãe. A sua relação com o marido tornou-se, aliás, fria e turbulenta à medida que o casal foi sacrificando tudo o que tinha à obsessão de Damaris e, apesar disso, ela nunca conseguiu engravidar. Mas a vida desta mulher frustrada parece encontrar uma réstia de esperança no dia em que adota uma cadela a quem dá todo o seu amor.
A verdade é que, a história simples mas laborada fenomenalmente, cria neste livro uma atmosfera opressiva e o que é dito e tudo o que se sente como sub-reptício, vai crescendo como uma bolha interna de de angústia que impede o luminoso, crescendo, apertando, ocupando espaço interno até ao desespero. É triste.
16/20
Lar em chamas - Kamila Shamsie
Não foi fácil entrar neste livro, talvez porque a sua realidade é bem diferente da minha enquanto homem branco e a história é narrada do ponto de vista feminino de uma família islâmica. O livro fala de luta de classes, género, islamofobia, identidade e terrorismo. Só posso dizer que acaba de modo chocante, apesar de brilhante e que a autora se inspirou na peça Antígona de Sófocles para a trama.
O livro trata de duas famílias britânico-paquistanesas que habitam mundos distintos na Londres rica e na Londres pobre. Uma família foi "europeizada" e outra vive na sombra de um pai que optou pelo terrorismos. As suas histórias vão ligar-se de forma dramática. Primeiro estranha-se e depois entranha-se.
17/20
domingo, setembro 21, 2025
Primeira vez
Foi a primeira vez que em duas semanas de férias li nove livros. Sol, mar, paz e livros. Tudo casou.
terça-feira, setembro 16, 2025
Grécia
Nunca tirei um período de férias tão grande num único lugar. A Grécia nunca decepciona. Mais uma vez encontro coisas de que precisava por estas bandas. Espero que no futuro continue a ser assim.
sexta-feira, setembro 05, 2025
Uma colega disse algo que me deixou a pensar
Ela ama o marido, mas não gosta do marido. Aquilo fez-me espécie. Mas depois lembrei-me do que a Bell Hooks disse sobre o amor ser uma ação e percebo que ela escolheu e tem o compromisso de amar o marido, mas não sente afinidade ou apreço por ele. Será que é por causa dos filhos? E se não houvesse filhos? Eu custa-me integrar que alguém me ama sem ter apreço por mim, não gostando de mim como pessoa; mas percebo que é possível, o exemplo está ali. Acho triste estar nesse papel (do marido). Na realidade não sei bem o que pensar, o certo é que sinto desconforto perante a ideia. Acho que não quereria estar nesse papel. Mas também não sei qual a implicação de estar nesse papel. É apenas algo em que nunca tinha pensado.
O mundo é estranho
É muito doloroso o acidente que se deu em Lisboa com o elevador da Glória e que ceifou (para já) a vida de 16 pessoas e no mundo multiplicam-se mensagens de pesar. Acho bonito e solidário. Mas no mundo, estamos a viver genocídios en Gaza, Sudão, Birmânia, para elencar alguns e não há pesar em lado nenhum por isto. A hipocrisia social é danada.
quinta-feira, setembro 04, 2025
Segurança Social
Estive hoje numa Loja do Cidadão para ser atendido pela Segurança Social. As 2h30 de espera deram para perceber, no final do meu atendimento (uns 6 minutos), que o modo de funcionamento da segurança social é super 1992.
O cultivo de Flores de Plástico - Afonso Cruz
Sou um fã da escrita do Afonso Cruz e como tal acabei de ler mais um livro. Não obstante, este será o livroque menos prazer me deu ler. Poderá ser porque está escrito ao jeito de diálogo de teatro, não sei.
O livro pretende ser o retrato da vida de sem abrigo na nossa sociedade, ficcionando um grupo de pessoas que dorme junto durante uma noite. Os personagens estão pouco aprofundados e mesmo a crítica social ou a dimensão humana ficam um pouco pela rama.
12/20
terça-feira, setembro 02, 2025
Sobre a eutanásia
Li no Sapo um artigo de um médico de cuidados paliativos (Abel Gabejas) e fiquei a pensar nisso. Tive bastante dificuldade em concordar porque ele, no seu discurso, transforma a eutanásia no oposto da defesa dos cuidados paliativos ou continuados.
A hipótese é "Num país onde a oferta de cuidados paliativos continua limitada, a possível legalização da eutanásia levanta uma questão preocupante: estar-se-á a propor a morte como substituto de uma presença que falha?"
Termina o artigo com "A eutanásia não é apenas uma questão de direitos individuais. É, acima de tudo, um espelho da ética coletiva que estamos dispostos a sustentar. Que tipo de sistema queremos? Um em que o sofrimento é acompanhado ou um em que o sofrimento é descartável? O sofrimento não pode ser um fim mas um meio para esta aliança de cuidado. Se não garantirmos primeiro a dignidade do cuidado oferecer a morte não será progresso, será desistência: social, institucional e ética. E eu pergunto-me: será isto realmente progresso?"
A eutanásia está a ser diabolizada. Eu tenho direito a não querer viver o resto da minha vida como um dependente ou em dor profunda (porque infelizmente ainda não há resposta para todo o tipo de dor). A eutanásia trata-se disso. A aprovação da eutanásia não impede as pessoas que querem usar cuidados continuados de os requererem. A linha da dignidade é inerente ao sujeito (como a dada altura ele diz no seu texto) e não à sociedade onde ele se insere. Para lá dos deveres da sociedade para com os seus cidadãos e da dignidade do direitos humanos que tem de ser respeitada a todo o custo, existe uma dimensão pessoal e subjetiva que tem de ser valorizada.
Eu tenho de respeitar, por exemplo, uma pessoa que não quer viver tetraplégica ou dependente para o resto da vida. Há pessoas que, mesmo nesta condição, conseguem arranjar um propósito na vida, aprendem a pintar com a boca, estudam, entre outras atividades. E fico sinceramente feliz por isto, pelas pessoas que conseguem passar pelo sofrimento sem sofrimento, reacomodando a sua vida. Mas pessoas há que vão sofrer muito emocional e psicologicamente; pessoas para quem ter alguém a alimentá-los, lavá-los, virá-los na cama, limpar as fezes, etc, é um suplício, um tormento, uma tortura.
Parecendo uma comparação tola, é como casamento gay. Os homossexuais não são obrigados a casar, mas essa decisão deve ser sua. Devem poder escolher casar ou não, por isso a lei foi necessária, para haver possibilidade de escolha na gestão privada das vidas afetivas.
O que me parece mesmo tolo é reduzir a eutanásia à existência de uma sistema de cuidados paliativos ou continuados eficaz. Os países mais avançados socialmente e por isso com maior nível de progresso, permitem optar pelas duas coisas. A linha da dignidade humana definida por cada um (elaborada em função das crenças e convicções de cada um) é que vai ditar a escolha informada, que não deve ser coletiva. Quando se trata de pessoas não existe um "one fits all".
Livros
Com as férias à porta decidi rentabilizar a subscrição Kobo Plus carregando o eReader com 30 livros em português. Não obstante, ainda não deixei de investigar os vencedores e os finalistas dos principais prémios internacionais a ver se algum deles consta no acervo. Ler é bom e voltou-me a vontade de escrever pelo que ler, além do prazer, é também uma necessidade.
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