sexta-feira, agosto 25, 2017

E a família volta a ser pequena

Separações. Não há ciência que possa definir a razão pela qual elas acontecem. Cada caso é um caso. Do lado de fora, fui obrigado a ver duas pessoas que gostam imenso uma da outra terminarem uma relação por manifesta imaturidade de ambas. Penso que a maioria das pessoas se esquecem que 70% de uma relação é trabalho de ajuste entre ambas as partes. O resto é amor. Quando a pessoa A e a pessoa B se juntam, se não forem coincidentes, têm de produzir um modo de vida C onde as cabem algumas das especificidades de cada um e se trabalham consensos. Quando as pessoas pensam que estão a trabalhar consensos sem abdicarem do que lhes era estrutural numa anterior, as possibilidades de dar certo são mais diminutas.

No caso do meu irmão e da minha (suponho que quase ex) cunhada número 2 foi isso que se passou. Eu, como observador, só posso interferir até certo ponto. Eram duas pessoas que tinham tudo para dar certo, mas discordam brutalmente no estilo de parentalidade que executam. O meu irmão tem uma filha que estava a ser educada por ele e a minha (suponho que quase ex) cunhada número 2 tinha dois filhos que tinham sido educados por ela. Ela acredita não em ser mãe, mas amiga dos filhos. estilo livre, sem regras, sem orientação. O meu irmão acredita em regras, em directrizes, em recompensa pelo mérito. 

Ao juntar-se com a mãe desses dois filhos ele acreditava que agora teria algo a dizer no que diz respeito à forma como os dois filhos levam a sua vida, em especial no caso do filho que vivia em permanência com ele. Eles pensavam ou sentiam de maneira diferente. Nenhum dos intervenientes desta equação procurou no início, gerir as diferenças que a coabitam com pessoas novas iriam exigir. Ao fim de algum tempo começam a existir ressentimentos, começam a existir más palavras e a situação torna-se insustentável. 

Quem diz que o amor é suficiente engana-se brutalmente. Vi pela o meu irmão ter um encanto e um respeito por uma namorada/mulher como nunca tinha tido. Vi a  minha (suponho que quase ex) cunhada número 2 falar do meu irmão  como se o amor lhe brotasse dos dedos e desesperada para fazer os problemas dissiparem-se. 

Apesar dos esforços desesperados de ambos, continuaram a ser infantis cada um à sua maneira. Não tendo cada um deles a capacidade de se colocar nos sapatos do outro quanto ao seu sistema cultural, educacional e de referências. 

Lamentos. Duas famílias juntaram-se por causa de duas pessoas. Criaram laços e desenvolveram afectos. A minha sobrinha adorava a madrasta que era excepcional com ela, a minha mãe gostava muito da nora. Eu, desconfiado no início, abri o coração e aprendi a respeitar a minha (suponho que quase ex) cunhada número 2 pela enorme generosidade, determinação na vida profissional, carinho com que tratava as pessoas que quem gosto. A imaturidade de dois adultos com mais de 40 anos, fez que quem um número elevado de pessoas em ambos os lados da família tivessem um doce que agora lhes é retirado das mãos. 

A vida continua. Os meus Natais vão voltar a ser pequenos, só com namorado, mãe, irmão e sobrinha. Mas o amor está lá na mesma. Quanto ao meu irmão e à sua  (suponho que quase ex) mulher só espero que eles aprendam que os grandes amores não são à prova de bala. Se me perguntarem, tenho quase a certeza de que não vão aprender nada. Mas desejo o melhor aos dois.