Era uma vez a Sara. A Sara cresceu no meio de muita gente. Tanta gente à sua volta. Tanta gente e a Sara sempre sozinha. A Sara tinha uma sensibilidade diferente. Não conseguia comunicar, não conseguiam compreendê-la porque ela era diferente. Era muito sensível e ninguém conhecia a sensibilidade dela e isso tornava as coisas mais difíceis. A Sara cresceu sozinha e a sentir-se culpada. Sozinha porque ninguém percebia o que ia na sua cabeça e no seu coração. Culpada, porque a sua família a amava muito. Ela sentia-se culpada pela sua família não saber amá-la como ela precisava. A culpa era da Sara, pensava ela. A Sara sentia-se cada vez mais sozinha e mais culpada. Tão culpada que fazia tudo para agradar às pessoas que a rodeavam, mas cada vez mais sozinha e mais revoltada. Quanto mais revoltada, mais culpada e tornou-se vítima de um ciclo vicioso. A Sara deixou de gostar de si. A Sara deixou de se amar. A Sara deixou-se para trás. Uma vez apareceu alguém que quis amá-la, mas a Sara vive alienada. A Sara não vive cá. A Sara não quer pensar. A Sara não aguenta pensar. Quando é obrigada a pensar a sua cabeça vaza. O seu espírito fica vazio e os seus olhos vidrados. A Sara não tem paz. A Sara é da guerra, a Sara vive uma guerra dentro de si e deixou escapar esse amor. Cansada de tanta guerra a Sara baixou as armas e deixou-se embalar por mãos que a magoaram. A Sara ficou com mais raiva dentro de si, fruto de um desespero contundente. Ela tornou-se cada vez mais um cacto, pronta a picar sem dó quem lhe tenta chegar à polpa doce e macia. Como é que alguém com tanto amor, alguém que é matéria viva de amor, alguém que só pensa em amor, tem tanta raiva. A Sara é perigosa. É perigosa porque é honesta. Não esconde que quer amar, não esconde que foi feita para amar. Ela não sabe ser amada. A Sara foge, a Sara foge dela. Habituou-se a pensar que a culpa é toda sua. A Sara não se aguenta. A Sara não aguenta tanta culpa. Há quem lhe tente ensinar a gostar de si. Se eu a visse dava-lhe um grande abraço e dizia que está tudo bem. Só isso. Se a virem tentem ensiná-la a gostar de si. Ela não sabe pedir ajuda. É muito desajeitada. Está cansada e a raiva vem com muita facilidade. A Sara tem um sorriso bonito. A Sara faz 30 anos. É muito tempo, muitos anos a sentir culpa, muitos anos a acreditar que ninguém a consegue ver realmente. Se a virem não a deixem fugir. O mundo era um bocadinho melhor se um dia a Sara vivesse entre nós. Todos os dias. Plena. Ouvi dizer que alguém ama muito a Sara e que parece tem realmente uma ideia dela. Ela é terrivelmente desconfiada. Da minha parte, se a vir, dou-lhe um grande abraço e digo que está tudo bem que desta vez ela pode baixar as armas. Ninguém a vai magoar. Está tudo bem Sara, está tudo bem. Descansa e sê feliz.
1 comentário:
Nossa!!! Me identifiquei geral!!!!
To nesse texto em tudo, vc nao ta entendendo srsrsr
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