quarta-feira, março 06, 2013

Gay Porn Star Blues

Fiquei a saber que mais um actor de filmes porno gay se suicidou. Desta vez um bastante conhecido, Arpad Miklos, que participou num vídeo de Perfume Genius que em tempos coloquei no blogue. Não deixa de ser curioso a quantidade de mortes por suicídio e por overdose de drogas que há nesta indústria, não falando dos processos de depressão. Faz-me pensar. No outro dia falei sobre uma estudo que dizia que as pessoas que vivem em relação (seja ela fechada ou aberta) são mais felizes e menos propensas ao uso das drogas. Pergunto-me como será esta dimensão para este tipo de trabalhadores do sexo. Os actores têm uma exposição que um prostituto não tem e são vistos como objectos de desejo ou até troféus a conquistar. Há tempos um outro actor que também morreu, falava da dificuldade de alguém aceitar este  modo de vida e das pessoas que se aproximam deles, mais em função do estereótipo que representam  do que pel pessoa real por trás do personagem dos filmes XXX.
 
No caso, este actor tinha uma vida privada bem distante do que representava para o imaginário sexual masculino. Era formado em Química e exerceu a profissão até entrar no mundo da pornografia. Tinha uma vida filantrópica activa para a qual contribuia com dinheiro: instituições de apoio a animais abandonados, instituições de recuperação de espaços naturais, instituições de apoio a gays doentes. Dizem os amigos e colegas que era um tipo que estava sempre a fazer os outros rir e que era muito atencioso. Ao mesmo tempo era muito fechado no que respeita as suas emoções e era sozinho.
 
Eu próprio não sei se era capaz de ser namorado de uma pessoa que trabalha na indústria de filmes para adultos. Admito que posso ser preconceituoso, mas acho que não estaria preparasdo para uma relação em que teria de lidar com a partilha íntima do corpo do meu parceiro. Não obstante, penso que muitas destas pessoas almejam a uma relação amorosa em tudo igual à que o mais comum dos mortais procura. E muito entenderão que são monogâmicos porque o sexo que têm com outros é no âmbito do trabalho.
 
O corpo nu é vulnerável. Está exposto. A alma dentro do corpo nu sofrerá a mesma ou ainda maior vulnerabilidade. Habituamo-nos a pensar alguns grupos de pessoas como objectos (de desejo, sexuais), mas são pessoas no fim de contas. E na grande maioria das vezes pessoas comuns.

5 comentários:

AM disse...

http://www.gayforit.eu/video/171211/Arpad-Miklos-and-Jessie-Colter

E também com algum sentido de humor.
(mas na entrevista do início deste vídeo porno, nota-se uma tristeza oculta por trás do sorriso e da boa disposição. parecia ser bastante humano.)

jmx disse...

Sim, sim! Todos somos "pessoas, no fim de contas, e na grande maioria das vezes pessoas comuns"... como tudo seria melhor se não pensássemos no "outro" como sendo diferente de nós (preto, emigrante, gay, etc...)!

Ex-Namorado disse...

Sim, claro que eras capaz. Por amor, somos capazes de tudo e ir contra todos. Sociedade, família, etc. Conseguimos ser bastante egoístas, quando amamos e quando acertamos. Nesse caso em concreto, admito que a solidão tenha falado mais alto, e pensar em coisas "como ficar o resto da vida sozinho" ou "toda a gente se aproxima de mim porque sou actor porno, ou sou giro, ou tenho um corpo escultural" pode dar cabo do juízo de qualquer um.

Arrakis disse...

E uma questão interessante. Acho que os actores porno ficam de tal forma agarrados à imagem que criam que os outros acabam por amá-los(?) só pelo físico e isso pode ser destruidor. O público acaba por desumanizá-los de certa maneira.
Depois penso que o trabalho que fazem esvazia uma parte importante da vida afectiva (sexo/amor) podendo levar à maior das solidões, o que pode ser fatal. Lembro-me de ler entrevistas em que diziam que depois de um dia de trabalho, chegavam a casa e a última coisa que lhes apetecia era 'estar' com o namorado, o que é compreensível mas pouco saudável em termos de equilíbrio emocional.

João Roque disse...

Muitas pessoas não conseguem ver o ser humano por detrás da máscara do seu trabalho.
Independentemente de gostar muito do seu corpo que correspondia em grande parte ao meu tipo de homem, sempre vi algo naquele rosto, que me fazia pensar num homem bom...