quarta-feira, novembro 16, 2022

Escreveu o Luís Osório sobre a Dina Aguiar (gostei bastante de ler)

POSTAL DO DIA

O casamento de Dina Aguiar com um homem mais novo é uma notícia importante

1.
Dina Aguiar é jornalista na RTP desde que me lembro de existir.

Quando comecei no jornalismo, há cerca de 30 anos, já apresentava telejornais há mais de dez. Fez parte da célebre equipa do Jornal 2, com António Mega Ferreira e Miguel Sousa Tavares. Aprendemos a vê-la. E a respeitá-la como alguém que faz parte da família.

É engraçado que a Dina nunca foi uma estrela, nunca ganhou mundos e fundos, nunca foi amada pelo povo, nunca estraçalhou audiências. Porém, sempre existiu e sempre foi fiável como alguém que nos lembramos que existe mesmo quando não a vemos há muito tempo.

2.
Talvez algumas pessoas achem que é negativo o que digo. Acho precisamente o contrário.

As estrelas por quem nos apaixonamos têm, com exceções, vidas muito mais curtas. Por tanto as termos “amado”, por tanto as termos seguido, chega uma altura em que nos cansamos com igual intensidade.

Com a Dina Aguiar foi sempre uma relação calma. Certamente que teve e tem muitos seguidores, muita gente que dela gostava ou gosta, mas sem excessos, sem o stress doentio da audiência, sem fogachos ou fogo de artifício.

Também por isso se mantém. Aos 69 anos mantém-se entre os pivots da RTP. Correndo até o risco de exagero, há momentos em que a Dina Aguiar é a prova viva de que a RTP ainda faz serviço público.

3.
Dina anunciou nos últimos dias que vai voltar a casar com o médico que tratou do seu pai e que o acompanhou até ao seu último dia. E foi aí, nessa viagem que terminou como todas as viagens, que Dina o reconheceu. Como se já o conhecesse de sempre.

4.
Não é uma notícia mais importante do que muitas que aqui hoje poderia trazer.

Não é decisiva para o curso da guerra no coração da Europa.

Não ajuda a explicar o funcionamento do Partido Comunista na escolha do novo secretário-geral.

Ou a ignóbil escolha do Qatar para sede do próximo mundial.

5.
Mas é, ainda assim, uma notícia importante. Porque Dina Aguiar tem 69 anos e não desistiu de se iludir com a vida.

De se abandonar à ideia que tem mais passado do que futuro. Não desistiu por já ter o vivido o suficiente, por já ter sofrido o suficiente, por sentir que o tempo fez o seu caminho.

É admirável que se mantenha acordada. Viva. Com mais esperança do que medo. Com vontade de ir a jogo, com vontade de o fazer até ao último sopro da sua vida. Que extraordinário exemplo nos dá. A todos.

6.
E a todas as mulheres para quem o recomeço parece sempre ser mais difícil. Para quem voltar a acreditar parece ser coisa impossível a partir de determinada altura – por não parecer bem, por não parecer próprio, por isto e aquilo.

E que maravilha ele ser mais novo. Dez anos mais novo. Mais um preconceito derrubado, mais uma pedra do muro da vergonha da discriminação.

Por isso, não me digam que a notícia não é importante. Diria até que é a notícia mais importante que a Dina Aguiar nos deu. A que dela ficará para a história.

A partir de hoje, quando a pensar, será a mulher que não desistiu de uma ideia de felicidade até ao último dia da sua vida.

Não é coisa pouca.

1 comentário:

Francisco disse...

É a inveja onde só os homens podem casar com mais novas e até menores em certas religiões