terça-feira, novembro 22, 2022

A Colega Tiazorra Porreiraça

A Colega Tiazorra Porreiraça (de quem tanto aqui falei no blogue) tem um nome, chama-se Isabel. É uma das pessoas mais vibrantes que já conheci. Viveu a vida como quis sempre rebelde, afetuosa com os que gostava, educada com os cordiais e mordaz e acutilante contra os impossíveis/imbecis.

Custa-me muito que esteja a acabar a sua "ride" espetacular aqui neste lado da vida. Ontem deu entrada no hospital e está nos paliativos, fortemente sedada, com cancro em fase terminal. Gostava muito de ir vê-la, mas estou desfeito e não sei se um choramingas não lhe iria fazer pior nestes últimos momentos.

Estou a escrever este texto porque não quero esquecer-me dela e das particularidades dela, a maravilhosa loira vistosa, que só vestia azul, vermelho, rosa, branco e preto, com saltos impossivelmente altos, calças justas, casacos de cabedal. Benfiquista do mais ferrenho que há. Voz e trato de "tia", mas depois 13 piercings nas orelhas. Era assim como uma Britney Spears Hard Rock. 

Aqueles 2 maços por dia que fumava não caíram bem à saúde, mas viveu como quis. Vai embora ainda nos cinquentas, mas a sua vida foi uma celebração e será celebrada por isso também. Ninguém lhe era indiferente e quando ela gostava de nós fazia-nos sentir, o que era muito bom. No início de me conhecer olhou para mim com alguma desconfiança, observando-me à distância até que me incluiu no grupo dos seus afetos. 

Gostava do facto de eu ser um rapaz sem papas na língua profissionalmente (como ela), e eu fazia-a rir com as minhas piadas secas ou politicamente incorretas e adorava as minhas fotos em tronco nu. Foi muito bom ter sido colega da Isabel e não me vou esquecer daquele dínamo de energia e positividade. O melhor que poderei fazer para celebrá-la é viver a minha vida à altura desta Rock Star. Isabel, gosto tanto, mas tanto de ti. 

Para não me esquecer de tudo o que dizia fui registando e vai ser sempre bom recordar.

«Tiazorra: Já sei que o colega é um moderno, mas quando colar arte na parede, lembre-se que eu sou clássica e tenho de olhar para a sua parede o dia todo. Perdoo-o porque o quadro do Michael Jackson faz-me rir».

«Tiazorra: Você sem barba ninguém lhe dá mais que trinta anos. Mas falta-lhe qualquer coisa. Não fique mais novo senão deixo de gostar de si».

«Tiazorra: Ó colega. Conte lá mais das suas piadas secas que me farto de rir. Você é mau».

«Tiazorra: Olhe, ontem contei na reunião do Jójó aquilo que me ensinou da borboleta sexual. Ninguém sabia o que era. Fiz um brilharete».

«Tiazorra: Tem de vir comer connosco, mas não se esqueça que este lugar é meu. Se alguém se senta aqui fico mais irritada do que quando me chamam Belinha. Vai logo corrido».

«Silvestre: Hoje vem vestida para matar, isso é que é dar nas vistas. 
Tiazorra: Claro, é sexta-feira e vou para a farra. Tenho muito tempo para ser discreta quando estiver morta.»

«Colega sensível: Está triste hoje?
Tiazorra: Ó querida deve estar a ver mal. Não há tristeza na minha vida... vá, talvez nos 10 minutos a seguir a uma derrota do Benfica. Mas só durante 10 minutos, percebeu?»

«Silvestre: O Donald Trump é abjecto.
Tiazorra: O menino nem me diga, aquele homem é uma esfera. Não tem ponta por onde se lhe pegue.»

«Tiazorra: O que é isto? Não acredito, esta sala está espetacular. Isto foi uma conspiração dos meninos contra mim. No meu tempo não era nada disto. Estou morta de inveja. Pareço um carapau com três dias de feira já a ficar podre».

«Tiazorra: Olá colega está bom?
Silvestre: Olá, eu estou bem e você?
Tiazorra: Eu estou sempre maravilhosa. Não tenho culpa de ter uma autoestima fantástica, não é?»

«Tiazorra: Ó colega, quero que saiba que o menino está no meu top três dos homens mais estilosos da nossa instituição. É o PC super fashion, o RV super clássico e o menino assim entre o giraço e o bruto.»

«Tiazorra: Ó colega, estou a ter um dia péssimo, mostre-me lá umas daquelas fotografias suas em tronco nu para ver se me fico a sentir melhor.»

«Tiazorra: Vi-me agora ao espelho estou cheia de má vida à volta dos olhos.  Quem pensar que é rugas está muito enganado. São muitas bebedeiras, muitos cigarros e muitas noites mal dormidas.»

«Tiazorra: O menino quer ser transferido porque não o deixam ser eficiente? O menino é um idealista. Eu pedi muitas vezes transferência de serviço, mas só porque me davam mais dinheiro. Eu cá sou como as putas, vou sempre com quem dá mais.»

«Tiazorra: Ó colega já viu, estive de férias 3 semanas na praia e venho branca. Passava as noites todas na borga e a lua não bronzeia, não é. Sou mesmo galdéria. 

«Tiazorra: Estou super infeliz. Aproveitei o domingo para apanhar sol e deixei um anel posto no dedo e fiquei com a marca. Agora parece que sou casada e que tirei a aliança. Vou mandar uma imagem errada aos homens. Vão pensar que não sou solteira. Tenho de meter base.»

«Tiazorra: Ai...morri. O seu namorado é tão giro, adorei vê-lo ao vivo. É bom que o colega continue a fazer muito ginásio para não perder aquilo. A minha vontade era despir-me toda (sim porque o corpinho ainda não caiu), mas como sei que não ia adiantar fiquei vestida»

3 comentários:

Anónimo disse...

A vida e assim, injusta para os que são bons. Mas, sorri com este teu post
Deixo um abraço com amizade
Francisco

Vida disse...

Celebrar a vida assim é lindo! Parabens Silvestre!

Ricardo - Uma Outra Face disse...

Bolas! Malditos sentimentos. Até fiquei com lágrimas nos olhos, já não me acontecia há tanto tempo. Mas também sorri muito com o teu post. Teria adorado conhecer a Isabel, apesar de achar que fiquei a conhecer um bocadinho mais com este teu post. Fazem-nos faltas pessoas assim na vida.

Queres um conselho, e se fossem bons vendiam-se, vai ver a Isabel. Mesmo um choramingas faz-lhe bem e terás menos arrependimentos do que não indo... Todos gostamos de nos sentir amados, seja em que momento da vida for.

Um abraço e muito amor, para ti e para a Isabel.