quinta-feira, novembro 24, 2022

Fui visitar a Isabel

Fui hoje visitar a Isabel. Seria o que ela teria feito. Não foi tão mau como eu pensei, foi aliás muito bom. Quando me viu entrar a porta ficou extremamente feliz, não estava minimamente à espera que eu aparecesse ali (não trabalhamos juntos desde março de 2020). Ela estava bonita, bem tratada, apesar de não ter as suas pestanas postiças e a sua maquilhagem do costume. Não consegue falar mais do que algumas palavras e percebe-se a sua frustração por não conseguir dizer uma frase que nitidamente tem na cabeça, mas que não sai pelos lábios. 

Mostrei-lhe fotos minhas em tronco nu (para manter a tradição) e disse que lhe ia arranjar mais cartões, porque os que as enfermeiras deixaram não estavam completos ia levar-lhe: "pindéric@", "malvad@" e o famoso " TAU!". Ela riu-se bastante, não esteve muito desorientada. A colega que foi comigo - e a tinha visitado na segunda-feira - disse que nesse dia a coisa estava mesmo agreste, mas que hoje havia um salto na disposição. 

A colega que foi comigo, e que eu não conhecia bem em privado, disse que estava a pensar organizar uma surpresa de aniversário no domingo (se a minha irmã fosse viva fazia anos no sábado), vamos levar balões com pilas, adereços de princesa, muita coisa cor-de-rosa e purpurinas. Espero que seja outra boa recordação que fica. E vamos ver, tumores no cérebro são erráticos, há falsas melhoras, piora-se, e anda-se neste loop por meses. Enquanto houver vida, marcho para o hospital. Hoje fui importante ali, se posso trazer conforto e alegria, é ali que quero estar. 

Ps. Outra surpresa foi a colega que foi comigo. É uma pessoa extraordinária e eu não sabia. Como as vidas podem ser parvas, com a pandemia (e por estar noutro departamento) ela nem percebeu que eu já não trabalhava com elas. Não importa o que se passou antes, o dia acabou em beleza. 

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