Tenho zero tolerância para pessoas que apostam na chantagem emocional e na manipulação de informação para conseguir simpatia e atenção do outro. A vitimização sobre terceiros pode ser uma coisa tramada. Quando estou perante situações assim e estas não têm diretamente a ver comigo, fico "possuído" mas não posso/devo fazer nada.
Já usaram esses artifícios comigo, ainda não há muito tempo, e foi uma escola. Ajudou-me a ver muito melhor a verdadeira cara das pessoas. Quem muito acusa, acusa pelo que é capaz de fazer. Tem medo daquilo que faz parte do seu repertório, não tendo noção de que temem aquilo que são. A sorte destas pessoas é que, regra geral, se sabem fazer rodear de pessoas com melhor carácter e sentimentos e que as vão aguentando, ora fazendo as vontades ora desvalorizando e não conferindo muita credibilidade sem que elas saibam. No meio também aparecem as que podem ganhar com isso, fornecendo uma ideia de segurança a alguém que é estruturalmente inseguro.
A mim parece-me triste aquela conversa "A gente finge que sim, já sabes como a pessoa é. lá no fundo não é má pessoa. Se fizermos o que a pessoa quer está sempre bem disposto". A questão é que eu acho que não é boa pessoa, é má. As más pessoas são todas aquelas que lesam terceiros (vingança, más palavras, mesquinhez, etc) quando as coisas não são exatamente como querem, ou quando não correm de acordo com a sua perceção pessoal de correto (e estas pessoas acham que estão sempre certas e que a sua verdade é mais válida que qualquer outra).
A grande ironia é que graças a este tipo de comportamento, estas pessoas vivem com uma grande dose de mentira nas suas vidas, porque amigos/colegas/familiares não têm coragem de lhes dizer a verdade para que eles nunca arranjem problemas e/ou porque outros amigos/colegas/familiares sabem que estas pessoas (de ego frágil) bem engraxadas são bem generosas e podem ganhar bastante com elas.
No caso que me dizia respeito e que já passou, quando fiquei psicologicamente sóbrio e segui com a vida, fui até capaz de me rir com a ironia de saber quem faz a pessoa de totó sem que ela saiba, mesmo ali debaixo das suas barbas. Mas no outro que não me diz respeito, é como ter uma laranja atravessada na garganta. Custa-me horrores engolir o que vejo. Custa-me horrores ver fazerem mal a alguém decente, mesmo que esta pessoa desvalorize porque não se pode deixar que a outra pessoa descompense e ela até tem bom fundo. E vai aguentado más palavras e desconsiderações, porque aquilo é a voz da frustração e da insegurança.
Eu acho, ou quero acreditar, que as pessoas podem ser inseguras, mas podem ser verdadeiramente boas, de bom coração e expressar a sua insegurança com educação, com gentileza e não culpando as pessoas que as deixam inseguras por problemas que são seus e por não as estarem a validar constantemente.
Como vivi isso, agora causa-me arrepios ver seja quem for a ser vítima desse tipo de pessoa insegura. Pior ainda, se for alguém por quem eu tenha genuíno afeto. Mas não tenho nada a ver com isso, a única coisa que faço, é validar as vítimas deste tipo de gente, quando está ao meu alcance. Dizendo-lhes que não fizeram nada de mal, que são humanas e gentis e decentes, e que são apenas um dado colateral.
3 comentários:
A verdade é que fala dessa forma, mas com toda a certeza que já o fez no passado. Todos nós vivemos doses de mentiras e arranjamos desculpas para os nossos comportamentos e justificações que as validem. Mas não somos diferentes disso.
Antes de apontar o dedo precisamos de olhar para nós e pensar se não estamos nós a nos desresponsabilizar do mal que fizemos ao outro. Por vezes são boas pessoas, outras vezes nem tanto.
E cuidado com quem se faz muito seu amigo e “faz a outra pessoa de totó mesmo ali nas barbas dele”. Quem sabe se não apenas para o calar e está a fazer o mesmo consigo.
Ninguém é assim “tão bom”, e duvido que não tenha tambem as suas particularidades e defeitos!
Eu sugeriria à vítima e a quem a está a vitimizar/manipular/procurar validar-se através dela a leitura das “Meditações” de Marco Aurélio. Vão lá encontrar resposta a muitas destas questões: a desvalorização completa de qualquer validação pessoal, ou mesmo ideia, especialmente as muito fixas; a nossa imensa pequenez e o desapego a tudo o que seja contrário ao bem comum, à justiça, à integridade. A afetação das ideias, do individualismo e a manipulação do outro, mesmo encoberto de “no fundo é boa pessoa” - que não o é. Marco Aurelio só diz isto: devemos detestá-los? Não, porque são seres humanos como nós, parte do todo universal, dessa divindade que é o todo. Então o que fazemos? Ao contrário deles, eliminamos o nosso julgamento (que é o que nos faz sofrer com isto) e simplesmente vêmo-los como ignorantes no uso da razão e integridade. E perdoamos estas pessoas, e se tivermos coragem, porque estaremos a trabalhar para o bem comum, oferecemos-lhe um exemplar das Meditações. Lê-se tão pouco hoje, mas pode-se aprender tanto com Marco Aurélio, imperador romano e filósofo, que sem distrações, se retirava em silêncio no meio das campanhas de defesa do império romano, para pôr no papel reflexões para si mesmo, como tu fazes neste blog. Abraços!
Sergio, muito bem dito :)
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