segunda-feira, julho 15, 2024

Aceita que dói menos

Tenho a perfeita consciência de que não podemos agradar a gregos a troianos e que o amigo de um é inimigo do outro. Mas continua a chatear-me muito que se passe por cima do sofrimento alheio sem pelo menos reconhecê-lo. Vamos supor isto:

Eu tenho um amigo que arranja um namorado. O meu amigo não se porta nada bem com ele e eu até testemunho e até lhe digo que ele deveria sair daquela situação. O outro acaba, despede-se de mim e sem pedir nada da minha parte eu digo que quero continuar a vê-lo. Depois percebo que o meu amigo (que comigo é porreiro, apesar do que fez ao namorado) não gosta muito que esta ligação exista e como o outro até está longe o melhor é ir desaparecendo de mansinho da vida do outro, assim como quem não quer a coisa para o meu amigo voltar a confiar em mim e o outro achar que foi um afastamento progressivo e natural. Isto aconteceu-me, mas fui eu o que viu alguém desaparecer de mansinho.

Continuo a achar difícil de engolir que as agendas pessoais de cada um sejam mais importantes que a verdade ou a justiça, ou simplesmente a transparência. Acho reprovável que uma pessoa vá atrás de outra, que não lhe pediu nada, para lhe fazer juras que não pretende cumprir. 

Viver num mundo verdadeiro e justo é complexo. Nem todas as pessoas de que gostamos têm poder de encaixe para tal. É difícil e faz-nos perder coisas. A maior parte das relações entre pessoas obedece a estratégias para obter o máximo das pessoas e das situações. Mesmo que isso signifique ser injusto e/ou enganador para terceiros. 

Só tenho de aceitar que este é o mundo em que vivemos e que não há volta a dar. Há de haver sempre pessoas com interesses que se sobrepõem à justiça ou à verdade, quanto mais não seja para se protegerem ou para terem o mínimo de chatices. Isto acontece até com governos (que são entidades supra) por isso com pessoas mais ainda. 

O mundo não é um lugar de verdade, apesar de ela existir no mundo. Só tenho de integrar a realidade e vai fazer menos confusão. Compreender que é assim já o faço, não concordo apenas que prometamos a terceiros coisas que não fazemos intenção de cumprir. E se por acaso inicialmente até tínhamos intenção de cumprir, quando deixamos de ter damos uma justificação e partimos. Não fingimos que está tudo bem e saímos de mansinho. 

Há sempre uma parte de nós que clama por justiça pessoal ou universal, porque quando deixamos de acreditar num mundo justo ou em amizades justas, então o que resta para acreditar? Ao mesmo tempo, tudo isto é apenas um processo depurativo e é por isso que embora não deixe de ser triste a falta de transparência, por outro lado é a fruta podre a cair sozinha da árvore. Deixando o que é sano. No final de contas tudo é aprendizagem e contributo para uma vida melhor. E só está ao meu alcance o controlo da  minha palavra e das minhas ações. 


2 comentários:

Sergio disse...

Acho que não precisamos de “amigos” egocêntricos, orgulhosos e manipuladores. Out! Mas antes do “out”, uma palavrinha a explicar o porquê. Não é só evitar: é explicar o porquê se está ou vai evitar aquela pessoa. É desagradável mas assim fica tudo esclarecido.

silvestre disse...

É algo que realmente me custa aceitar: a falta de transparência e consideração. Porque é que alguém vem atrás de ti sem pedires nada e depois...pufff. Desaparece porque percebe que tem de o fazer, mas uma satisfação não ficava mal, até para manter a boa imagem. Assim fica apenas um rasto de dúvida. Mas por outro lado, há também o alívio de sabermos que ao menos ja não há engano possível. Que já era, limpeza feita.