quinta-feira, junho 26, 2025

Baz Luhman e a vida

Em 1998 Baz Luhrmann editou uma canção - com base no ensaio da colunista do Chicago Tribune Mary Schmich - com uma mensagem para os jovens da altura, onde eu me incluía. Essa canção cuja letra deixarei abaixo é uma peça fundamental de sabedoria popular para cada um enfrentar a vida da melhor maneira possível. É curioso como um mundo tão atafulhado de informação faz deixar cair pelas gretas do supérfluo coisas realmente importante de estarem presentes.

As atribulações que tenho vivido nas últimas semanas e o desespero e a confusão em que mergulhei trouxeram-me hoje à cabeça essa canção em particular o trecho «don't feel guilty if you don't know what you want to do with your life…the most interesting people I know didn't know at 22 what they wanted to do with their lives, some of the most interesting 40 year olds I know still don't.».

E aos 50, o que é suposto saber? Existe uma métrica? É suposto estar no topo da nossa sabedoria e maturidade? Eu tenho descoberto que não. Sei mais coisas porque vivi um longo período de tempo, mas não ficar no passado e entrar na corrente da vida de modo assumido, faz com que muita coisa seja nova. E na novidade que vivemos somos novamente "virgens", talvez aconselhados pela experiência que tivemos - o que é válido mas não é necessariamente o melhor conselho, porque as experiências que tivemos foi com outros contextos, outras situações, outras pessoas. Há sempre um novidade algo para o qual não estamos preparados e não conhecemos. 

Então fica a questão podemos ser maduros e imaturos ao mesmo tempo? A resposta é sim. A maturidade não é um estado completo e categórico. Fui obrigado a refletir que a maturidade é um conjunto de aspetos e atributos que não são constantes em todas as áreas da vida e em todos os momentos. Se tenho sido muito maduro em relação à minha carreira, aos meus investimentos, à gestão da casa, nem sempre fui maduro nos meus relacionamentos. Acima de tudo porque me faltou inteligência emocional, que definitivamente ela não está desenvolvida em todos os meus processos emocionais em particular quando se me colocam desafios na vida quotidiana. Perante essas situações posso ficar rígido, sem capacidade de adaptação e ao não ter capacidade de lidar com as emoções de ambos, acabo por fazer um desvio (fugas silenciosas ou estrondosas) que me impede de aprender com os erros. Fico apenas animal: reativo, incapaz de lidar com frustração e egocêntrico, porque a minha dor não me deixa pensar em mais. A dor grita e ocupa-me o corpo e a mente - na realidade, mesmo sem ser propositado, o meu nível de empatia desce.

A maturidade é um processo de aprendizagem permanente, com muitos espaços por preencher quando se transportam traumas do passado, memórias que nunca foram renegociadas e ficaram como impressões no cérebro que funcionam como interrupções da condução elétrica nos músculos (já nem sabemos exatamente o que elas foram, mas os seus efeitos ficam, a pegada emocional fica ali, e a emoção do passado é o que volta sempre a ser ativado). Imobilizamos ou caímos até, e fica um espaço por preencher porque a vida avança. Quantos mais anos e experiências mais buracos existem - é um rendilhado - e para piorar há cansaço acumulado que nos momentos de embate aumenta o frustração e incapacidade de reação calma, racional e informada. 

É mesmo muito importante que se reconheçam essas características, as fragilidades que impedem a calma, a empatia, a tolerância/aceitação. Mas mais que tudo é importante tratar as características, mesmo quando o cansaço, o desconforto ou a dor apertam, porque não vale de nada diagnosticar uma doença sem tratamento efetivo.

Voltando ao Baz Luhrmann, a único grande conselho para a vida cientificamente provado é: usem protetor solar

Senhoras e senhores da turma de 99: Usem protetor solar.

Se eu pudesse dar-vos apenas um conselho para o futuro, seria o protetor solar. Os benefícios a longo prazo do protetor solar foram comprovados por cientistas, ao passo que o resto dos meus conselhos não têm uma base mais fiável do que a minha própria experiência... Vou dispensar este conselho agora.

Desfrutem do poder e da beleza da vossa juventude; oh, esqueçam; não compreenderão o poder e a beleza da vossa juventude até que eles se tenham desvanecido. Mas acreditem em mim, daqui a 20 anos olharão para as vossas fotografias e recordarão, de uma forma que não conseguem compreender agora, as possibilidades que tinham à vossa frente e o quão fabulosos vocês eram... Não são tão gordos como imaginam.

Não se preocupem com o futuro; ou preocupem-se, mas saibam que a preocupação é tão eficaz como tentar resolver uma equação de álgebra mastigando pastilha elástica. Os verdadeiros problemas da vossa vida são coisas que nunca passaram pela vossa mente preocupada; o tipo de coisas que os surpreendem às 16:00 numa qualquer terça-feira ociosa.

Façam todos os dias uma coisa que os assustem. Cantem. Não sejam imprudente com o coração dos outros, não aturem pessoas que são imprudentes com o vosso. Usem fio dentário.

Não percam o vosso tempo com inveja; às vezes estamos à frente, às vezes estamos atrás... a corrida é longa, e no final, é apenas connosco.

Lembrem-se dos elogios que recebem, esqueçam os insultos; se conseguirem fazer isso, digam-me como. Guardem as vossas velhas cartas de amor, deitem fora os seus velhos extratos bancários.
Façam alongamentos.

Não  se sintam culpados se não souberem o que querem fazer com a vossa vida... as pessoas mais interessantes que conheço não sabiam aos 22 anos o que queriam fazer com as suas vidas, algumas das pessoas mais interessantes de 40 anos que conheço ainda não sabem.

Ingiram bastante cálcio. Sejam gentis com os vossos joelhos, vão sentir a falta deles quando eles se forem embora. Talvez se casem, talvez não, talvez tenham filhos, talvez não, talvez se divorciem aos 40 anos, talvez dance o "funky chicken" no vosso 75º aniversário de casamento... seja o que for que façam, não se felicitem demasiado nem se censurem demasiado - as vossas escolhas são 50/50, tal como as de todos os outros. Desfrutem do vosso corpo, utilizem-no de todas as formas possíveis... não tenham medo dele, nem do que as outras pessoas pensam dele, é o melhor instrumento que alguma vez possuirão...

Dancem... mesmo que não tenham outro sítio para o fazer senão a vossa própria sala de estar. Leiam as instruções, mesmo que não as sigam. NÃO leiam revistas de beleza, só os vão fazer sentir feios.

Conheçam os vossos pais, nunca se sabe quando eles irão embora para sempre.

Sejam simpáticos com os vossos irmãos; eles são a melhor ligação ao vosso passado e as pessoas mais suscetíveis de ficarem convosco no futuro. Compreendam que os amigos vêm e vão, mas devem agarrar-se aos poucos e preciosos. Esforcem-se por colmatar as lacunas geográficas e de estilo de vida, porque quanto mais velhos ficam, mais precisam das pessoas que conheceram quando eram jovens.

Vivam em Nova Iorque uma vez, mas partam antes que isso os tornem duros; vivam no norte da Califórnia uma vez, mas partam antes que isso os tornem moles. Viajem.

Aceitem certas verdades inalienáveis: os preços vão subir, os políticos vão filosofar, vocês vão envelhecer e, quando isso acontecer, vão fantasiar que quando eram jovens os preços eram razoáveis, os políticos eram nobres e as crianças respeitavam os mais velhos. Respeitem os mais velhos.

Não esperem que ninguém vos sustente. Talvez tenham um fundo fiduciário, talvez tenham um cônjuge rico; mas nunca se sabe quando um deles pode acabar. Não mexam muito no vosso cabelo, ou quando tiverem 40 anos, ele parecerá ter 85. 

Tenham cuidado com os conselhos que compram, mas sejam pacientes com aqueles que o fornecem. O conselho é uma forma de nostalgia, a sua distribuição é uma forma de repescar o passado do lixo, limpá-lo, pintar por cima das partes feias e reciclá-lo por mais do que vale. Mas confiem em mim quanto ao uso de protetor solar...

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