terça-feira, agosto 26, 2025

A criada - Freida McFadden

Comecei a ler este livro às 10h e pouco da manhã e terminei às 17h com pausa para o almoço. A linguagem é muito acessível e lê-se como quem bebe água. É sem sombra de dúvida um thriller muito bom, que tem vários plot twists. A autora Freida McFadden consegue manipular a nossa mente e fazer-nos acreditar que estamos a ver o que não estamos, até que ela revela a verdade.    

Uma ex-presidiária consegue o emprego com que sonha na casa de um casal muito rico.  A história acaba (ou começa) com um cadáver. 

18/20

Celeste


On with the show - Celeste

Vera Iaconelli (psicanalista)

"A gente quer tudo previsto e garantido. Na nossa cultura, estamos fazendo isso de um jeito tão obsessivo, que fica difícil viver. Em vez de deixar rolar, ficamos obcecados pela perspetiva do controle."

"Amor é seguir amando mesmo quando o outro não corresponde às suas expectativas. Se ele for só um reflexo delas é puro narcisismo (...) É na diferença que o amor se prova."

sexta-feira, agosto 22, 2025

Quem cospe para o ar...



Champagne Coast - Blood Orange

Quando eu era mais miúdo, o meu irmão adorava música Indie. Eu detestava. Gostava era do pop bem pastilha elástica e tudo o resto era estranho. Durante a pandemia deu-me para isto, adoro música Indie. Quem cospe para o ar...

Diferença de opinião

Quando eu era jovem e tinha um personalidade reprimida, até aí aos meus 20 e poucos anos,  olhava para o meu pai que era espontâneo e feliz e achava-o super "cringe". Ele era capaz de começar a dançar na rua; agarrava na minha mãe e começava a dançar se ouvisse uma música que gostavam (ela também de personalidade reprimida, só queria era fugir dali a sete pés). 

O meu pai cantava onde fosse se estivesse feliz, para cantarmos todos juntos (Ó Laurindinha vem à janela... entre outras canções) e queria ouvir a minha mãe a cantar o fado (como quando num casamento com 400 pessoas, subiu ao palco onde estavam os músicos e disse "quem canta mundo bem o fado é a minha mulher, anda cá cantar"). Eu enchia-me de vergonha e olhava de soslaio e muitas vezes perguntava-lhe se havia necessidade disso. Ele só respondia "estou a  fazer mal a alguém? Se alguém se sentir incomodado há-de dizer, até lá estou só a ser alegre".

O que é certo é que hoje sou eu o "cringe". Canto na rua e nos corredores do trabalho e no balneário do ginásio e também danço na rua se por acaso algo me estimular a isso. Lembro-me, em particular, de uma vez na Suíça (quando fui visitar um amigo que lá vive, mas que trabalhava durante o dia).

Num dos meus passeios sozinho a descer Lausanne em direção ao Lago Genebra, comecei a ouvir no Spotify "Walking on Sunshine" da Katrina & The Waves. Estava um sol radioso e um céu azul e eu senti-me invadido por um sentimento de felicidade e comecei a dançar e a correr enquanto descia a rua. Umas pessoas olhavam em espanto, outras como se fosse maluco, outras sorriam com cumplicidade. Ainda me lembro hoje daquela sensação de felicidade, liberdade e gratidão pela vida que que estava a viver e foi tudo muito espontâneo.

Há quem ache que eu vivo um pouco à sombra daquilo que o meu pai foi ou acreditava ou queria para nós (família), como se a palavra dele fosse lei. Não é lei. Se é uma espécie de Herói? Sim, é. Se ele foi mitificado por mim? Não, porque a experiência não é só minha, mas de todos que se davam com ele. 

O meu pai morreu, eu tinha 24 anos e creio que nunca o compreendi muito bem. Foi depois da morte dele que comecei a compreender muita coisa que me tinha escapado. A perda tem um efeito muito profundo em mim ao nível do questionamento e da descoberta (ou autodescoberta). Descobri uma coisa estupenda. O meu pai era uma pessoa simples, realizada, espontânea, com sabedoria (também era uma pessoa que dizia palavrões, falava alto, fumava, cuspia para o chão e molhava o chão todo da casa de banho a lavar a cara e não limpava). 

A partir dos meus 33 anos quando comecei a ser feliz e realizado, comecei também a fazer coisas cada vez mais espontâneas e comecei a ser mais parecido com o meu pai. É bom quando os nossos pais são um referência para nós porque lhes reconhecemos sabedoria, dignidade, integridade (mesmo que a nossa relação tenha sido marcada por entropias/dificuldades em dado momento). É bom ter referências dos nossos progenitores, porque lhes reconhecemos valor intrínseco e saber que de alguma forma somos parecidos com essas pessoas que cuidaram de nós com esmero.  

Hoje sou "cringe" para uma parcela do mundo exterior e está tudo bem. Por exemplo, ontem vi uma mulher a dançar no ginásio com os auriculares metidos, não sei se aquilo era uma rumba ou uma salsa. Não era muito boa a dançar, mas enquanto algumas pessoas olhavam com riso na cara, eu olhei a sorrir e fiquei absorvido por ela. Achei-a corajosa, livre e espontânea e feliz. Hoje em dia o que eu acho "cringe" não é isto. Há tanta, mas tanta coisa pior.

Diferença de opinião rocks!

Valor.

É importante sabermos o nosso valor. Quando, inadvertidamente ou propositadamente, nos desvalorizam ou as nossas ações, decisões, etc., essa desvalorização não deverá ser mais que um desconforto ou uma desilusão passageira, se soubermos que temos valor (pensado e pesado). 

quinta-feira, agosto 21, 2025

Respirar fundo e continuar.

Tomar notas, respirar fundo e continuar com o mesmo compromisso, vontade e dedicação. É isso.

quarta-feira, agosto 20, 2025

Tudo sobre o amor: Novas Perspetivas - Bell Hooks

Gostei muito de ler este livro que discute o amor e o ato de amor de forma científica pela perspetiva das ciências sociais. É muito interessante e levanta questões muito importantes na sociedade moderna (apesar de ter já 25 anos). Apesar de ser um livro de pensamento crítico, o fato de a experiência da própria como base para questionamento, acaba por lhe dar um cunho de guia de autoajuda para compreender o que é o amor, o que precisamos e o que podemos dar. 

A ideia base a toda a argumentação é a de que o amor não é um sentimento, mas sum uma ação. Ela define o amor como "a vontade de se expandir com o objetivo de nutrir o próprio crescimento espiritual ou o de outra pessoa... O amor é um ato de vontade, ou seja, tanto uma intenção como uma ação. A vontade também implica escolha. Não temos de amar. Escolhemos amar". 

16/20

Aula de cerâmica

Desde que nos conhecemos que o B falava em fazermos uma aula de cerâmica juntos. Finalmente aconteceu ontem. Foi um sensação muito boa estar a modelar com as mãos e pintar peças de barros. Se tudo correu bem, eu vou ter um combo brunch (caneca e prato de tosta) e ainda um castiçal para velas. Foram umas horas bem passadas. 

terça-feira, agosto 19, 2025

Acreditar

O que importa se o dia chegou?
O que importa se nunca virá?
O que importa é aqui e agora,
Toda hora é hora, enquanto eu posso estar.
O que importa se escorregou?
O que importa é se levantar.
O que importa é saber amar.
O estado contente da mente,
Depende somente de acreditar,
Depende da gente, é só acreditar.

- Marisa Monte -

Não fechar os olhos

Não fechar os olhos da mente é algo que (agora) tenho por necessário. Nada é garantido, absolutamente nada. O que é hoje pode não ser amanhã. E o que não for, mas que nós queríamos que fosse, que não aconteça porque estávamos de olhos fechados a pensar que era um dado adquirido. 

Atos Humanos - Han Kang

Este livro da mesma autora de "A vegetariana" é muito cru e muito duro, mas muito bem escrito. A ação passa-se em 1980 durante as manifestações contra o ditador Chun Doo-hwan na cidade de Gwangju, que deu origem a um dos maiores massacres levados a cabo na Coreia do Sul. A história parte de um rapaz Dong-Ho que procura um amigo no meio dos mortos e segue com todos os que se cruzaram com ele naquela fatídica noite. 

A brutalidade humana, a tortura, o stress pós-traumático, a justiça, a luta pelo direito a existir dignamente, o amor, são aqui abordados de forma muito inteligente pela autora que usa uma escrita muito crua e pragmática, mas sem deixar de conferir uma enorme humanidade a todos os personagens, dignificando a memória de quem caiu por terra em todas as ditaduras. 

17/20 

Gerês

Há muito que ameaçava ir ao Gerês mas sem cumprir. Graças ao B acabei por ir este mês e foi muito bom. As paisagens, a paz, as águas. Trago o rio Cabril e o Poço Verde como os lugares de melhor memória, apesar de ter gostado de estar nas cascatas. No meio disto houve boa comida e boas conversas. Mas o mais importante é a paz. Reinou a paz.

quarta-feira, agosto 13, 2025

.

 Acho a maldade gratuita uma coisa feia (ponto).

É só isto

I know where beauty lives
I've seen it once, I know the warmth she gives.
The light that you could never see,
It shines inside you can't take that from me...

#conscienteepresente

Dopamina

A dopamina é um neurotransmissor que desempenha um papel crucial no sistema de recompensa do cérebro, influenciando o prazer, a motivação, a excitação e a sensação de bem-estar. É habitualmente referida como a “hormona da felicidade”. Níveis adequados de dopamina são essenciais para a saúde mental e física, e seu desequilíbrio pode levar a problemas como depressão, ansiedade, problemas de memória, dificuldade de concentração e comportamentos inflamados pela raiva/frustração. 

A dopamina rápida é libertada rapidamente em resposta a estímulos como jogos de vídeo, redes sociais, alimentos açucarados, fast food, drogas/tabaco/álcool, pornografia, scrolling infinito (na web), compras constantes  e outras atividades que proporcionam prazer imediato, mas que podem levar ao vício e à procrastinação.

A dopamina lenta é libertada gradualmente em resposta a atividades que promovem bem-estar a longo prazo, como exercício físico, trabalho focado, ouvir música, ler livros, cozinhar, meditação, passar tempo na natureza, hobbies, etc.


Boas decisões:
Alimentar-se bem, mexer-se, celebrar pequenas vitórias/progressos, dormir bem, ouvir música, aprender coisas novas, meditar/relaxar, conectar com quem se ama (parceiros, amigos, familiares).

Reduzir muito o tempo online, abandonar comportamentos impulsivos (compras e outros), deixar a prática de mexericos, não consumir substâncias psicoativas e evitar alimentação demasiado processada.   




Não há silly season este ano

Este ano não há silly season. Os noticiários estão tomados pelas notícias de incêndios. O que é que os nossos políticos/governantes aprenderam desde 2017? Rigorosamente nada.

terça-feira, agosto 12, 2025

Lições

 "Cair em si talvez seja o melhor tombo da sua vida".

A house is not a home



A house is not a home - Ella Fitzgerald

"A chair is still a chair, even when there's no one sittin' thereBut a chair is not a house and a house is not a homeWhen there's no one there to hold you tightAnd no one there you can kiss goodnight..."

Julie London


Cry me a river - Julie London

Simplesmente adoro esta cantora de voz quente e macia, que tanto sucesso fez nos anos 50. O que eu não sabia é que a canção Cry me a River foi feita para ela. Foi a primeira pessoa a cantá-la e com que elegância o fez. 


segunda-feira, agosto 11, 2025

Irantzu

Passou um ano da morte da Irantzu. Houve uma missa em sua memória e mãe enviou-me o que leu durante essa missa. Uma das coisas que fiquei a saber foi que o dia em que ela morreu estava nublado e chuvoso e quando ela expirou pela última vez, abriu o céu e o sol brilhou. Pode ser uma coincidência, mas a Irantzu era um sol, de certeza que foi ela dizer que estava tudo bem. 

quinta-feira, agosto 07, 2025

Erich Fromm: A arte de amar

“A principal condição para alcançar o amor é superar o narcisismo. A orientação narcisista é aquela em que a pessoa experimenta como real apenas o que existe dentro de si mesma, enquanto os fenómenos do mundo exterior não têm realidade em si mesmos, mas são experimentados apenas do ponto de vista de serem bons ou perigosos para ela. O pólo oposto ao narcisismo é a objetividade; é a faculdade de ver outras pessoas e coisas como elas são, objetivamente, e ser capaz de separar essa imagem objetiva da imagem formada pelos próprios desejos e medos.”

“O amor vivenciado é um desafio constante; não é um lugar de descanso, mas de movimento, crescimento e trabalho conjunto; mesmo quando há harmonia ou conflito, alegria ou tristeza, isso é secundário em relação ao facto fundamental de que duas pessoas se experimentam a si mesmas, em vez de fugirem de si mesmas. Há apenas uma prova da presença do amor: a profundidade da relação e a vitalidade e força em cada pessoa envolvida; este é o fruto pelo qual o amor é reconhecido (...) No amor, ocorre o paradoxo de que dois seres se tornam um e, ainda assim, permanecem dois.”

― Erich Fromm, A Arte de Amar

quarta-feira, agosto 06, 2025

Jazz


Trust in me - Dakota Staton

Apego

Tenho tido ao longo da vida problemas com o apego a pessoas, coisas e hábitos. Não chega a ser um trastorno de acumulação, mas tem traços deste, nomeadamente a dificuldade de descartar coisas que não têm valor ou utilidade para o próprio. As causas disto podem ser a necessidade de segurança, a sensação de que sempre se perdeu algo (ou um vazio de algo que não se teve), a busca incessante pelo perfecionismo e consequente perda da capacidade de decisão que depois vai afetar a capacidade de eliminar, dispensar. Mas tenho aprendido recentemente que tudo o que se compreende, pode ser trabalhado e tem sido um percurso feliz. A abordagem tem sido muito mais incisiva na busca de padrões e na sua desconstrução, do que na procura das razões de origem. A reconstrução pessoal é uma oportunidade fascinante de fazer bem feito.

terça-feira, agosto 05, 2025

Música que faz bem.

Redescobri os jazz standards que me deixavam tão feliz e calmo. Este tipo de canções apenas me fazem bem. A melodia, a música, as vozes; não há excitação, não há tristeza, há apenas uma tranquilidade a espalhar-se de neurónio em neurónio.

Julie London, Ella Fitzgerald, Sarah Vaughan, Billie Holiday, Nina Simone, Etta James, Lena Horne, Nancy Wilson, Dinah Washington, Helen Forrest, Chet Baker, Louis Armstrong, Nat King Cole, Frank Sinatra, etc., etc., etc...

Sobre Bell Hooks e o amor

“O amor não é o cuidado". É apenas uma dimensão que não consegue cobrir os aspetos do afeto, da responsabilidade, do reconhecimento e da justiça. Quando só há reconhecimento do cuidado, a negligência ou o abuso (presentes em pequenas coisas aparentemente vãs) são validados como normais. Assim, desde a infância que criamos uma visão iludida do que é o amor, aprendemos o amor como substantivo por oposição ao amor ação/construção. Cuidar e amar não é a mesma coisa.

Amar é construir algo e deixar-se vulnerabilizar, perdendo ilusão, narcisismo e espaço de idealização. O amor cria-se num vínculo trabalhado num espaço de diferença/conflito em que se aprende a não violar o outro. 

O amor faz-nos interessar pelo outro sem saber exatamente o motivo; este processo abre espaço à criação de motivos e à descoberta de novos motivos sempre que o ódio vem mostrar que somos somos menos complementares com o outro do que imaginávamos e que, cada um dos intervenientes é formado por si e por muitos outros. Mas se é amor, a seguir ao ódio vem um nova criação de significado amoroso para com o outro, porque descobrimos a alteridade no seu sentido mais filosófico, ou seja, na capacidade de transcender o próprio ponto de vista para compreender e respeitar a visão do outro na integração dos conflitos. Isto porque o contrário do amor não é o ódio, mas sim a indiferença.

Relação

Se uma relação é mesmo uma relação ela é bidirecional e recíproca nas suas trocas, compensações e consequências.  

Recomeçar do zero.

Recomeçar do zero é possível? Sim é. Porque esta expressão é uma metáfora. Aqui o 'zero' não é um conceito absoluto, mas sim relativo. Um modo de vida novo não significa um apagamento do passado. Um recomeço é tanto mais forte quanto mais experiência e aprendizagem do passado carrega consigo. O corte com um passado existe na medida em que se decide encerrar um ciclo - que teve as suas características - e desenhar um futuro diferente por oposição/contraste ao ciclo que se pretendeu encerrar. 

Encerrar um ciclo e começar de novo significa apenas que o que era próprio desse ciclo já não nos serve e os objetivos e metas do futuro são construídos sobre a integração de toda a experiência vivida.  É com a aprendizagem e memória do passado que conseguimos, de facto, recomeçar do zero.

sexta-feira, agosto 01, 2025

A falar com uma colega

A falar com uma colega de trabalho sobre o trilião de pensamentos que povoaram a minha cabeça, ao exercer espírito crítico sobre mim, em relações de integração iguais a uma complexa equação de física quântica; cheguei à conclusão de que x = respeito (dado e recebido) + amor + paz + humor.

Por trás dos seus olhos.

Está série da Netflix anunciada como um thriller acaba por ser, de certa forma, também de ficção científica. Podia ter 3/4 episódios e ficava muito bem. Trata-se de triângulo amoroso entre um psiquiatra, a secretária e a mulher deste (de modo resumido). O início deixa-nos curiosos, depois torna-se arrastada e chata. O episódio final (que se vê apenas para não dizer que não tinha visto a série completa) acaba por surpreender.  No global não é boa. Satisfaz nos mínimos diria. Bom começo e bom final.

12/20

Clarice Lispector


"Se você se sente infeliz agora, tome alguma providência agora, pois só na sequência dos 'agoras' é que você existe."

Esta frase é belíssima. Fala sobre agarrarmos a responsabilidade da nossa felicidade alterando o 'agora'. O futuro é uma sucessão de 'agoras', é sempre o que se faz no 'agora' que conta. É no 'agora' que somos timoneiros da nossa existência. 

"A vida me fez de vez em quando pertencer, como se fosse para me dar a medida do que eu perco não pertencendo. E então eu soube: pertencer é viver."

Outra frase belíssima. Dá-nos vida a vida a que pertencemos. Há tanto que ganhamos com essa pertença, quando é uma escolha feita e vivida de forma consciente. 

quinta-feira, julho 31, 2025

Extinção

Anunciou-se hoje a extinção do meu organismo de trabalho. Desde que entrei para a função pública é a terceira extinção pela qual passo. Espero que seja a última. 

Verdade La Palice

 Manter tem muito menos custos que reparar.

quarta-feira, julho 30, 2025

Desafios de cada um

"Porque eu me imaginava mais forte. Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões, é que se ama verdadeiramente. Porque eu, só por ter tido carinho, pensei que amar é fácil. É porque eu não quis o amor solene, sem compreender que a solenidade ritualiza a incompreensão e a transforma em oferenda. E é também porque sempre fui de brigar muito, meu modo é brigando. É porque sempre tento chegar pelo meu modo. É porque ainda não sei ceder. É porque no fundo eu queria amar o que eu amaria - e não o que é. É também porque eu me ofendo a toa. É porque talvez eu precise que me digam com brutalidade, pois sou muito teimosa. É porque sou muito possessiva e então me foi perguntado com alguma ironia se eu também queria o rato para mim. Talvez eu me ache delicada demais apenas porque não cometi os meus crimes. Só porque contive os meus crimes, eu me acho de amor inocente. Talvez eu tenha que chamar de "mundo" esse meu modo de ser um pouco de tudo. Eu, que sem nem ao menos ter me percorrido toda, já escolhi amar o meu contrário (...). Eu que jamais me habituarei a mim, estava querendo que o mundo não me escandalizasse. Porque eu, que de mim só consegui foi me submeter a mim mesma, pois sou tão mais inexorável do que eu, eu estava querendo me compensar de mim mesma com uma terra menos violenta que eu."

Clarice Lispector
Felicidade Clandestina: Perdoando a Deus

Mantra

Comecei a meditar em segredo.

PhD

Ganhei a bolsa de doutoramento. É uma notícia feliz. 

Pessoas Importantes

O ano de 2024 deu-me duas pessoas que mudaram a minha vida. O B e a Vogal da Direção que se tornou uma mentora e uma amiga. O que levo da influência destas pessoas é inestimável. Não tem preço. Que a vida siga com este nível de positividade. A minha gratidão não tem fim.

terça-feira, julho 29, 2025

Amor

Ontem fiz amor. Puro, profundo, íntimo, com a alma no corpo, com carinho na ponta dos dedos, com querer no abraço. Não quero esquecer este dia. Quase 10 meses depois não tenho a menor dúvida de quem é o amor da minha vida. 

segunda-feira, julho 28, 2025

Luz natural

"A vida não começa aos 30 ou depois dos 40. 
Ela realmente começa quando você deixa de ser besta".

Esta frase parece quase cómica, mas tem um alcance muito amplo. A verdadeira vida começa quando somos capazes de abandonar comportamentos que só revelam falta de inteligência, imaturidade e simplismo. Uma pessoa, certa vez e há não muito tempo, fez-me ver que quem tem onde cair fofo não ganha medo de se aleijar. E quando a ajuda aparece sempre não terá tanto pelo que se responsabilizar, e mesmo inconscientemente, acaba por viver de forma mais inconsequente e/ou displicente. 

Pais ternos produzem adultos mimados? Pode ser que muitas vezes sim, outras não. Tenho pensado muito a este respeito desde o momento em que fui operado, não exatamente pela facto em si, mas por outro que aconteceu paralelamente. Quando a queda não é fofa o que se faz? Quando não há mimo o que se faz? Tem de se pensar a sério na realidade das coisas. As ações e as razões para a queda, porque é que dói o que dói, o que é que se faz para não cair, o que é que se faz para recomeçar mais forte e melhor equipado. É de repente começar a processar factos e acontecimentos a uma velocidade enorme e de uma forma que ainda não tinha sido feita. Como quando um suporte importante morre e temos de nos alterar para ser a nova estrutura de suporte e aprender isso à velocidade da luz. 

A resposta agregada é deixar de ser besta. Não sejas besta. Não ser besta faz-te ser consciente e presente. Não há mi-mi-mis. Consciência e presença. O ser presente e consciente tudo pode. 

"Imagina ler um livro em que nunca podes voltar à página de trás.
Com que atenção lerias esse livro? Assim é a vida."

A vida não anda para trás e o que fizeste quando eras besta não podes mudar. Mas podes definir o teu momento de mudança e começar a viver assim (presente e consciente). No início contar-se-ão dias, depois semanas, depois meses e anos. No final vai ser um modo de vida e sabes que a tua vida começou ali. 

Um dia ao fechar os olhos e partir desta terra vou saber onde começou a minha vida e contemplar o que vivi e o bem que vivi para mim e para os outros. Mas também me vou lembrar com grande lástima do que perdi antes desse momento. Algumas coisas são um preço demasiado alto para se deixar de ser besta. 

Que a abertura da nossa consciência para o significado da luz natural não seja demasiado tardia, que a abertura da minha consciência para o significado da luz natural não tenha sido demasiado tardia.