sexta-feira, dezembro 12, 2025

Sociedade líquida

Zygmunt Bauman foi um sociólogo polaco (considerado um pessimista há 40 anos atrás) que no âmbito dos seus estudos sobre a pós-modernidade, cunhou em 2000 o conceito de "Modernidade líquida" que designa o estádio das sociedades desenvolvidas na transição do século XX para o XXI. 

As sociedades líquidas são a configuração social da nossa época, caracterizadas pelo vitória da fluidez (como os líquidos). Assim, tudo tem um carácter precário, transitório, permeável e pouco seguro. Esta condição atravessa todas as dimensões da nossa sociedade, tanto estruturais como superestruturais, tanto no plano material e económico, como no plano da vida afetiva e intelectual.

As relações humanas, neste modelo, são frágeis. Bauman usa o termo “conexão” por oposição a relacionamento, deseja-se o que pode ser acumulado em maior número, mas com superficialidade suficiente para se desligar a qualquer momento. Conexões de amizade e amor podem a qualquer momento ser desfeitas. 

As redes sociais amplificaram este processo, propiciam a  relação pseudoamorosa e a pseudoamizade. Procuram-se relações que resultam em prazer para o indivíduo (a qualquer custo) as pessoas passam a ter valor de "objeto". O número de conexões é motivo de ostentação e de satisfação pessoal.

O sexo também se reduziu a mero objeto de prazer. Nas "sociedades sólidas" o sexo tinha transitado para uma forma de partilha de emoções, de amor, símbolo de confiança entre duas pessoas. Na modernidade líquida, o sexo é mero instrumento de prazer e não deve ser medido qualitativamente, mas quantitativamente, pela quantidade de pessoas "bem cotadas" nas redes (objeto de desejo de consumo por corresponderem a modelos valorizados socialmente) com que um indivíduo consegue relacionar-se. 

Outro aspeto importante (talvez o mais importante) é o consumo. Existe todo um aparelho para que o capitalismo consiga progredir desenfreadamente por meio do consumo irracional. Há um fetiche pelo consumo, criou-se um fetiche pelas marcas, por estilos de vida "cool", por ideias e corpos modelo (que na realidade são modelos de marketing estudados para nos "enganchar"). 

O consumo e o status na sociedade líquida têm uma carga simbólica muito mais forte do que alguma vez existiu em outro modelo social. O sujeito torna-se naquilo que consome e a sua identidade depende da ostentação desse consumo. A mercantilização é total, não só dos produtos, mas das pessoas e dos afetos. É a modernidade liquida a acontecer. O que era pessimismo há 40 anos atrás, aconteceu. E nós fazemos parte.

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