Hoje estava a descer a rua para ir tomar o café quando vi um senhor a pedir no semáforo. Esse senhor tem uma perna que está atrofiada e pede esmola entre os carros arrastando-se de joelhos entre eles. No sábado estava a tomar café de manhã, e no espaço de 30 minutos entraram 3 pessoas na pastelaria a pedir esmola nas mesas. Sou tomado por uma quantidade de sentimentos contraditórios. Por um lado, desagrada-me ver as pessoas a pedir esmola com base na sua desgraça (a perna do senhor exposta com recurso a uma calça cortada, os bébés das senhoras romenas numa moldura), por outro lado, chateia-me mais ainda saber que as estruturas que deveriam tomar conta das camadas excluídas da população não fazem o seu trabalho (ou têm muitos poucos recursos para o conseguir cumprir). Finalmente, senti-me quase prisioneiro na pastelaria onde procurava ler o jornal com algum sossêgo. Dei uma moeda à primeira senhora, mas depois já não dei à outra senhora e à menina que também pediu. Contudo tive de ficar a ouvir uma ladainha imperceptível depois de ter dito "não" no primeiro caso. E tive de ficar a ouvir a mesma ladainha quando outras pessoas não contribuíam. Quase que me senti um mau ser humano, por não ter dado dinheiro a todos. Sei, contudo, que isso não resolve nada. Sei que é fácil culpar o Estado, sei que o nosso país é uma espécie de 3º mundo europeu com pretensões a desenvolvido. As coisas não se fazem, os dinheiros gastam-se estupidamente. E depois assume-se que está feito e segue-se em frente. Gostava de ser mais jovem, acho que me sentia mais seguro nessa altura, porque não queria saber da política, não queria saber da pobreza, não queria saber de muito mais a não ser música e aprender na escola. Hoje penso nas coisas e sinto-me, por vezes, esmagado. Se não penso, sinto-me irresponsável ou fútil. O país inflinge-me sentimentos contraditórios, afinal não sou uma ilha.
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