sexta-feira, maio 08, 2009

Dos medos...

Não me lembro de todos os medos que já senti. Sei apenas que não sobreviveria à lembrança de todos eles. Recordo a minha infância e como, então, os medos eram palpáveis. O escuro, o monstro que se escondia dentro do roupeiro, o som das tábuas da escada a ranger, o fantasma no espelho do quarto - que mais não era do que a luz da lua que entrava pela janela e ali reflectia.
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À medida que cresci os meus medos foram dependendo cada vez menos das minhas percepções físicas. Deixou de bastar chamar a minha mãe para acender a luz do quarto. A minha mãe não é capaz de acender a luz dentro das pessoas para que eu descubra os monstros dentro das suas cabeças. Foi uma das minhas mais terríveis descobertas. As coisas monstruosas escondem-se na cabeça das pessoas e não se vêem. Tenho medo das pessoas com monstros dentro de si, em especial das que inventam monstros em nós para que os seus não se sintam sozinhos. Como eu gostaria de retornar aos medos da minha infância, os que eram apenas fruto da minha imaginação.
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by Silvestre

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