terça-feira, outubro 23, 2012

Acho que ver este vídeo nos faz um bocadinho mais humanos.

 
 
Amanda Todd suicidou-se na semana passada. Como muitos miúdos na Internet  (e graúdos também) que dominam as tecnologias, mas que não têm maturidade para compreender que aquilo que publicam na Internet sai fora do seu controle, foi vítima de falta de um erro de julgamento entre o seguro e o arriscado. Isto é, todavia, mais grave pelo tipo de mundo em que vivemos. Pior que o erro de julgamento pessoal, e o julgamento alheio, o preconceito. Que uma miúda que se mostrou nua numa fotografia seja considerada uma puta e seja ostracizada por isso incomoda-me muito. Que um miúdo apanhado a beijar outro miúdo em vídeo seja ostracizado por todos continua a incomodar-me muito. Há algo de errado com a educação que damos aos jovens. Esta geração devia ser mais livre preconceitos, mais aberta de mente e isso não é verdade. Os mais fortes continuam a espezinhar os mais fracos (de físico ou de mente) sempre que podem. É um mundo do qual não me orgulho. Voltando à Amanda, agora que a miúda morreu é só vídeos e perfis de homenagem a aparecer como cogumelos. Gostava de saber para quê? Para descansarmos a nossa consciência e dizermos que somos diferentes? Desafio cada leitor desta mensagem a ter a coragem de manter os olhos abertos e a fazer algo por quem vêem numa situação de inferioridade e expostos a agressores psicológicos ou físicos. Em tempos fui só um miúdo gordo que era gozado até à exaustão e que levava belinhas por isso, ainda por cima com uma voz fina e pequeno de estatura. A natureza foi simpática comigo, ganhei corpo de atleta e um vozeirão. Ganhei confiança e talvez me tenha safado por isso. Mas não me esqueço de onde vim. Algures dentro de mim continua e viver o puto gordo que é solidário com os seus. Quando comecei a ser legitimado pelos "cool e bonitos" não me esqueci qual é o meu "bando". Mas antes do "bando" de cada um somos pessoas. Humanos. Os humanos sabem sobre respeito. Vamos aprender e ensinar esse respeito. Não é fácil. Eu próprio sou ultra radical com os que de algum forma (conscientemente ou inconscientemente) representam a continuidade de valores de diferenciação/estigmatização, com os tradicionalistas, com os que não querem deixar espaço a pessoas e coisas diferentes. Mas há que respirar fundo e ir mais longe. Acho que já me estendi demasiado. Espero que tenha conseguido passar o meu ponto de vista. De boas intenções está o inferno cheio. Há mais mundo que o nosso umbigo.

6 comentários:

Anónimo disse...

Eu também passei por uma adolescência 'vítima' de bullying e, naturalmente, fico possesso com situações idênticas, ainda muito comuns. Posso dizer que o mundo não está a evoluir tão rápido ou tão previsivelmente como se esperava. Ainda no domingo passado, a senhora dona Teresa Guilherme deu, em direto, um sermão exemplar ao seu convidado incomodado por estar sentado numa cadeira cor-de-rosa, por esta, supostamente, o 'tornar' gay. Não foi especificamente por não gostar da cor, como é o meu caso, mas porque não ficava bem a um rapaz estar sentado numa cadeira daquela cor. O jovem convidado, na casa dos seus 20s, representa a juventude nada evoluída, de hoje em dia. Mesmo com popstars e ídolos cada vez mais assumidos, e estados de direito mais assertivos, a juventude mostra uma ignorância atroz. A culpa, naturalmente, é da educação, centrada, exclusivamente, na reprodução do modelo de aquisição de status vigente na sociedade competitiva de mercado. Não se educam humanos, formam-se (in)competentes.

Lobo disse...

Bom, também tive uma adolescência chata, em que fui gozado muitas vezes. Talvez até aos 16/17. Depois por ser um dos "melhores da turma" no que diz respeito aos estudos, a coisa não melhorou muito até aos 18 (LOL), mas pronto foi-se vivendo. Mas é interessante verificar, que hoje em dia, as "estrelas" de ontem, são uns cromos, uns coitados, e os parvos. Mas a vida é como é, e encarrega-se de colocar as coisas no lugar delas. É só esperar. Sobre a questão dos vídeos de homenagem e afins... é fácil... como costumo dizer "precisamos de morrer, para que nos dêem valor". Infelizmente não sabemos aproveitar as pessoas enquanto estão entre nós. Só queremos e damos valor depois. Depois? Depois, se calhar, é tarde! Abraço

silvestre disse...

Por acaso, a maioria das "estrelas" cai em saco roto. mas entretanto alguns destes miúdos que podiam ser alguma coisa de bom amanhã vão-se perdendo :(

Lobo disse...

Sim, mas infelizmente não conseguimos salvar todos... a minha geração sempre teve que se virar e lembro-me que na altura estas coisas não eram faladas... eram escondidas e mostradas como fazendo parte do crescimento de um ser humano. O caso que apresentas, faz-me lembrar um que ocorreu em 1996, na escola onde andei. Uma rapariga teve o "azar" de "namorar" com um bacano, que um dia levou uns "amigos" a casa dele mais a "namorada"... pormenores não sei... só sei que aquilo foi uma cena com muito sexo e que a escola no dia a seguir soube toda o que se passou. Obviamente que a miuda era olhada de lado e rotulada de qualquer coisa... deve ter sido muito complicada para ela na altura... hoje mulher deve ser algo que ainda a persegue (ou não). Tudo isto para dizer, que nada disto é novidade, já existia. Não tinha era a divulgação que hoje tem, nem sequer os agentes (professores, pais, etc.) estavam preparados para esta "nova" realidade.

Raposa disse...

Fora os preconceitos, julgamentos, opiniões, comentários e outros, frutos do que a Amanda publicou na internet, o que me deixa horrorizada é o simples facto desta criança (porque era uma criança) ter sido perseguida e chantageada continuadamente pela pessoa que a convençeu de início a mostrar os seios na internet e, até hoje, nada se fez para o parar. Não quero sequer imaginar o desespero e terror pelo qual ela passou, tanto que acabou por tomar a derradeira decisão de se matar. Só que, num fundo, ela foi levada a tomar essa decisão e, isso, no meu mundo chama-se homicídio (não suicídio).

silvestre disse...

@raposa: Não tinha pensado nisso, mas sim, foi homicídio.