Olho para ti e para as tuas penas azuis
riscadas de paz, de vontade e de luz.
Escuto essa voz que me canta todos os dias
sons de afago e outras melodias.
Esticas as asas para mim porque te faço chorar
queres salvar-me e ensinar-me a voar
Sinto os beijos dos teus olhos cheios de ilusão
quando estou no chão agarrado às pedras.
Só por isso não me levas, porque não sei ser beijado.
Ainda procuro a água de lágrimas que não chorei
e prostrado te deixo, a ti, aos teus beijos.
É a força do amor, de quem dá sem receber
e de quem quer sem saber ter.
És mais forte do que eu que sou forte como ninguém,
mas essa força que ninguém tem só a uso contra mim.
Colei os meus dedos à lava incandescente de um lugar vazio.
E nesse calor que também é frio e gelo é onde me encontras
sem terra e sem consolo, quando em voo manso
me limpas as feridas,
quando és belo e eu vejo para lá de céus cinzentos
as tuas penas azuis riscadas de paz, de vontade e de luz.
Abro a porta e deixo-te entrar, 15 segundos...
dou-te 15 segundos e depois a porta de saída.
Não sei viver esse amor, não sei ser completo,
mas é tudo mentira porque te quero. Ignoro-te, mas sigo atrás de ti.
Escondo-me debaixo da terra e sei que voas sobre mim.
Fugir é o meu hábito, habituado a ser submisso ou reactivo.
Não sei estar com ninguém, não sei estar contigo.
Sou animal, sou visceral e sanguíneo, sou perdido,
sou um universo de candura. Sou puro como o ar que não respiro.
Sou puro e tu estás comigo, sou perdido e tu estás comigo.
Riscas-me a cara com a luz e a paz das tuas penas azuis.
Queres salvar-me porque te faço chorar.
Chora então, o meu corpo e os meus dedos. Chora os meus segredos
e a minha incapacidade de me amar. Chora até não haver mais nada de mim.
O meu âmago é um risco nas tuas penas azuis.
Um risco do qual não te queres libertar.
Sou paz lá no fundo, sou amor lá no fundo, o amor que queres salvar.
E tu continuas a brotar beijos nos olhos,
Continuas querer ensinar-me a voar.
by Silvestre
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