Acabei por sentir o Natal. Fico muito incomodado quando tal não acontece. Esta festividade é uma das coisas que me liga ao meu pai. Ele adorava o Natal - talvez como a maioria das crianças que nunca tiveram um Natal por serem extremamente pobres. Não havia decorações, não havia presentes e se ainda sobrasse dinheiro a minha avós fazia sonhos de abóbora à moda do Piodão (os melhores de sempre segundo o mau pai, o que obrigou a minha mãe a uma busca de anos por uma receita parecida).
O momento mais bonito do Natal era quando ele acordava de manhã e ia à sala de jantar para ver a árvore decorada e as luzes a piscar. Depois era aquele desejo enorme de ter a mesa da sala de jantar (enorme por sinal) toda coberta de doces a seguir ao jantar. Sem espaços vazios. Às vezes chorava quando olhava para a mesa cheia e sei que se sentia feliz porque nos estava a dar aquilo que nunca tinha tido.
O meu pai partiu há 22 anos. Continuamos a querer ter uma árvore linda e cheia de luzes, mas dispensamos a mesa cheia de doces. O que ainda é comum é o amor que a nossa pequena família sente uns pelos outros. Quando cheguei a casa da minha mãe e vi todo o carinho e cuidado que ela estava a meter na preparação da refeição da consoada o espírito acendeu. Senti aquele quentinho que só a família pode oferecer. A árvore da minha mãe estava magnífica e tenho a certeza que o meu pai andava ali a pairar sobre nós, feliz, porque a família que criou continua forte.
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