quinta-feira, dezembro 10, 2020

Jorge Jesus e o racismo estrutal

Não há dúvida de que considero o Jorge Jesus um homem de boas intenções, mas iguais a tantos outros homens portugueses cheio de boas intenções e com uma capacidade limitada de ver para além de coisas quotidianas (ao contrário do Mourinho que ao contrário do que se possa pensar, para além de inteligente é um homem empático).

Não vou dizer impropérios contra o Jorge Jesus, mas o que ele disse mostra que é necessário um forte trabalho para educar e transformar o racismo estrutural que existe  nas sociedades ocidentais - em particular aquelas onde existiu escravatura. 

Não se deve cair em exageros, nem em manipulações de parte a parte, ou seja, do lado da maioria étnica hegemónica das minorias étnicas, e infelizmente isso acontece na maioria das vezes. Os discursos altamente politizados são também manipuladores para "dar a razão" ao grupo de referência. 

Porque o racismo é grave (assim como a discriminação de género, religiosa, sexual ou por deficiência) não deveria ser assim. E quem percebe o problema devia educar para o mesmo, o que é algo que não se pode exigir ao bom homem (mas limitado e bronco) que é o Jorge Jesus. 

É preciso explicar aos brancos (como eu) que só ser branco já é um privilégio na nossa sociedade e a quem diz "eu não me importo que me chamem branco" tem de perceber que não é a mesma coisa que chamar "preto". Há muitos significados presos à palavra. 

Também não gosto do discurso do Mamadou Ba. Não é por ele ser negro, esclareço já, é porque não gosto da forma como ele se expressa e de como muitas vezes as suas palavras acicatam mais sentimentos de raiva, de parte a parte, do que soluções ou pontes. Há assuntos para onde a ironia e os escárnio não deveriam ser chamados (essa é uma técnica do abominável André Ventura, que - infelizmente - começa a pegar também nas populações que ele despreza e descrimina). 

Eu acredito em pontes e em paz. Condeno o racismo e as politiquices à volta do racismo. Acho que faltam ações (não só no nosso país, mas em todos onde existe racismo) que mostrem formas construtivas de andar para a frente, de que despidos de significados somos apenas pessoas. 

A maioria branca, a maioria heterossexual, a maioria sem deficiência, a maioria religiosa não se vai mexer muito, porque está confortável, porque nunca sofreu preconceito e muitas vezes nem dá por ele porque ele não faz parte dos seus contexto e não a afeta (como acontece ao Jorge Jesus).

O caminho não se constrói sozinho. Oprimido e opressor têm de trabalhar em conjunto. Não vai haver justiça imediata porque sim, eliminar séculos de história porque sim. Mas quem vê o problema tem de ser mais inteligente e mostrar que as pontes existem, que do lado hegemónico há muita gente que pode ser educada e do lado minoritário o raiva não leva a nada de bom (apenas ajudará quem pretende manter o atual estados de coisas).

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