O livro Novas Cartas Portuguesas é conhecido por muito mais pessoas do que aquelas que na realidade o leram. Na época da sua edição foi uma pedrada no charco e um documento fundamental para a visibilidade dos problemas das mulheres e para dar uma voz às mulheres; uma voz franca e desafiadora do status quo liderado e dominado pelos homens.
Por um imperativo profissional fui obrigado a ler o livro. Achei-o extraordinário em conteúdo, não necessariamente em estilo - acho que sofre de um certo pedantismo artístico que era típico aos artistas portugueses na época, quando as artes eram para os mais letrados. É barroco e difícil, mais um exercício para pares do que para o público generalizado.
Ainda hoje, tenho a certeza de que muita gente desistirá de ler o documento. É mais fácil ler os milhentos artigos e teses de mestrado e doutoramento que o interpretam. Para mim é quase contraditório que uma reflexão tão interessante e importante sobre a condição feminina seja apenas para parte das mulheres. É quase um exercício burguês.
Não obstante o que importa reter é que o valor intrínseco, independentemente do estilo, é imenso. Podemos também ver que, volvidos 50 anos, alguns dos problemas identificados sofreram apenas mudanças cosméticas (mais do que outra coisa). A ideia de mulher comercializada continua bastante atual.
2 comentários:
Se tiveres oportunidade vai ver Mulheres e Resistência – Novas Cartas Portuguesas e outras lutas, uma exposição no Museu do Aljube.
obrigado pela dica. nem conhecia a existência do museu.
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