Hoje

Hoje é o primeiro dia do resto da minha vida. 

Cada novo dia é sempre o primeiro dia do resto das nossas vidas, mas há dias em que um acontecimento influencia mudanças estruturais na nossa vida para o futuro e sentimos que nada é igual ao que era ontem. Hoje, 21 de setembro, será um desses dias para mim. É também o dia mundial da paz, o que simbolicamente torna tudo ainda mais bonito.

Coincidências

Aparecia-me ouvir algo de diferente e cliquei numa playlist de música clássica. Logo à cabeça vem a minha peça favorita, o Adagio for Strings de Samuel Barber,  e a seguir as Gymnopédies de Erik Satie que também gosto muito. Que coisa mais porreira. Vou ouvir tudinho, é um sinal. :)

Aqui na aldeia

Há dois dias fiz amizade com o dono do café "trendy" aqui da aldeia. Tivemos conversas reveladoras de parte a parte. Temos a mesma idade, somos os dois gays, tivemos relações parecidas com os nossos pais. Uma das diferenças entre nós é que ele tem uma relação há 23 anos. A tal relação longeva que eu tanto gostaria de ter. Mas ele está quebrado, pesado, destruído. Nitidamente não tem uma relação com alguém que é um amigo. Tenho muita pena das pessoas que talvez se acomodem a relações tóxicas. Ele teve uma vida tão gira, empregos tão interessantes, viajou pelo mundo e os olhos estão vazios de alegria.  Não vale a pena 23 anos assim, com olhos tristes, com o peso do mundo nos ombros. Pareceu-me uma pessoa muito solitária. Ontem enquanto subia a estrada para a minha casa pensava, que bom que escolhi trilhar outro caminho, onde mesmo sozinho estive sempre com um amigo que me tratava bem. 

Memoriais: Porque somos fracos de memória

Os Memoriais existem para que a humanidade não esqueça acontecimentos/pessoas que foram extremamente importantes para a história dos países e mesmo do mundo. O seu papel é ainda mais intenso quando falamos de eventos trágicos como o holocausto. O fotógrafo judeu  Shahak Shapira decidiu chamar a atenção para o desrespeito dos turistas para com lugares como o Memorial ao Holocausto em Berlim, através de uma série de montagens das suas fotos e outras que estão na base da existência desse monumento. E o resultado é, a meu ver, poderoso. 

As redes sociais

Muito se diz sobre as redes sociais. É verdade que ter amigos no Instagram é o mesmo que ser rico no monopólio. Mas como tudo na vida, as redes sociais são o que fazemos delas, o que damos e o que recebemos através desse meio. Já fiz vários amigos que conheci em tempos através das redes (facebook e instagram) e que hoje fazem parte da minha vida. Tive na semana passada um problema bastante complicado e contei com um amigo do IG para o resolver e sem sombra de dúvida, ficamos amigos para lá da rede. Cá estou para ele como ele esteve aqui para mim. No fim de contas o que deitamos ao mundo volta para nós. E não tem a ver com fotos mais ou menos bonitas e mais ou menos vestidas. Tem a ver com a consideração com que tratamos o outro. Quem nos procura e que também vem por bem. 

O Beto mais uma vez

Quando um amigo me falou do Beto há muito tempo disse "o Beto é uma joia". O Beto é mesmo uma joia, acho que o outro nem tinha bem noção do quão verdadeiro era o que estava a dizer. Há aquelas coisas se dizem por empatia, mas que depois são incrivelmente verdade. 

Comunicação

Quando a comunicação não é boa, muito se perde na tradução. Quando a comunicação é boa percebemos 100% do que até pode ser 60% do que tínhamos para escutar do outro lado menos eficiente. Mas no fim de contas interessa a mensagem que recebemos. O que não sabemos nunca terá efeito sobre nós. 

Feel so close

Feel so close - Nelly Furtado

Já gostava imenso desta canção que é um original do Calvin Harris, mas ouvi-la desta forma despojada deu-lhe um outro cunho. Nunca me esquecerei do momento em que a ouvi pela primeira vez, em que serviu de pano de fundo a algo muito especial. As coisas especiais são isso mesmo, efemérides que acontecem num lugar e num tempo. Mas quando volto a esse dia e ao local onde tudo aconteceu só posso dizer que nada mais vejo que pura emoção e magia. 

Mais um Big Brother

E sai mais uma fornada de gente desinteressante de quem somos obrigados a ouvir falar durante uns bons anos. O BB2020 até foi interessante, esse e os primeiros três em 2000. Mas lá está, todos os restantes reality shows têm sido de cortar as veias, até aqueles com celebridades de terceira e quarta linha. O formato poderia ser engraçado, mas é o terror. E na "Era Cristina" pior que depois ela mete essa gente toda a render e é impossível ver a TVI. 

Igual

For twenty-nine years I've been trying
To believe and confide in
Different people I've found
Some of them got closer than others
And some wouldn't even bother
And then you came around
I didn't really know what to call you
You didn't know me at all
But I was happy to explain
I never really knew how to move you
So I tried to intrude through
The little holes in your veins
And I saw you.

9

Um 9 encontra um 9. Quais seriam as probabilidades?

Depp vs Heard

Resolvi ver este documentário sem grande expectativa a pensar que seria, talvez, mais uma viagem pelo mundo do sensacionalismo. Estava enganado. Não só oferece uma visão analítica do que foi o julgamento, como ainda apresenta a forma como os média, influenciadores digitais e outros estavam a ver e a viver o julgamento forçando a elasticidade da opinião pública. É também muito triste, através dos testemunhos de ambos os intervenientes, perceber como um amor que nasce bonito e inocente se pode tornar azedo de forma tão visceral. O estranho é que no final do julgamento, embora pareça evidente que não houve agressão física, percebemos que aquele "lago" é um "pântano" de coisas por dizer e por esclarecer, que trariam efetivamente a verdade da violência (outras formas que não físicas) à tona. Sociologicamente interessante para estudos judiciais e sociologia do casal. 

O universo

Às vezes não queremos aquilo que o universo nos está a querer dar porque só vemos com os olhos, achamos que já estivemos ali e que não foi a melhor coisa para nós. Recusamos, colocamos barreiras e o universo agarra numa colherzona e enfia o que nos estava a querer dar pela goela abaixo e temos mesmo de deglutir. Depois de deglutir até começamos a ver que o que nos foi dado não tem o mesmo sabor, não causa mal estar e o corpo até assimila esta energia com um prazer que não pensava ser possível. Obrigado universo!

Outra música que me conquistou

Five and Dime - Hazel English

Apaixonado por esta música

Tension - Kylie Minogue

Diz que...

Diz que quem procura encontra.

Unorthodox

Belíssima minissérie sobre uma rapariga nascida numa comunidade judaica ultra ortodoxa que decide escapar ao seu destino. Deita uma luz interessante sobre um tipo de fundamentalismo e radicalismo religiosos que coexistem conosco sem que sejam vistos como problemáticos (como é, por exemplo, o fundamentalismo islâmico), e isto apesar da profunda misoginia lesiva às mulheres que são reduzidas ao seu papel de reprodutoras e pouco mais. 

A narrativa e a realização estão muito bem construídas. A progressão da narrativa com recurso aos flashbacks está muito interessante e é virtuosa na interiorização da história pelo espetador. Vale a pena ver. 

José Sousa Campos

O Zeca foi um dos meus mais antigo amigos do Facebook. Tinha mais 16 anos que eu. Quando iniciamos o nosso contacto ele já era um senhor aos meus olhos. Adora arte, nas sua mais variadas formas, e por isso tinha uma empresa de produção de eventos. 

Amava o teatro, amava a sua mãe (que morreu talvez um ano antes que ele), amava uma boa conversa, pessoas com criatividade e pessoas que olhavam para o mundo com olhos diferentes (onde ele me incluiu). 

Durante anos fomos tendo conversas sobre arte, sobre fotografia (ele gostava muito da forma como eu fotografava e era fotografado) e era uma convivência boa. Ele a viver em São Paulo onde me convidou para ir várias vezes e eu protelei sempre, porque havia locais mais baratos, locais mais perto. 

O Zeca apanhou COVID em setembro de 2021. Mas disse que estava bem e que estava em isolamento. Dei os parabéns ao Zeca a 29 de Dezembro por Facebook, no mural. Em 2022 veio um ano muito atribulado na minha vida, e eu nem dei conta que o Zeca não respondeu, como sempre fazia. 

Há dois dias atrás lembrei-me do Zeca, que não lia nada dele há muito tempo. Fui ao perfil dele e vi que agora era um memorial. Foi um choque tremendo, mas pior foi ver que o Zeca morreu em Outubro de 2021. Demorei quase dois anos para perceber. Fiquei a sentir-me muito triste, culpado, impotente por não ter tido uma última conversa com ele, sobre teatro, sobre novelas, sobre atores. 

Quando a nossa vida aperta, vemos apenas o que está no nosso caminho, no nosso contexto, no nosso ambiente, e cegamos a tudo o que está fora desse círculo. Não me vou autoflagelar, mas é importante que aprenda desta história que devia ter ido a São Paulo e que um lugar onde temos gente que gosta de nós nunca é longe. A amizade de rede social é uma amizade também. 

2023 tem sido um ano de regeneração para mim, voltei a ser ou estar muito próximo da pessoa que era -antes de algumas experiências menos boas - e Zeca, prometo-te isto: vou continuar a vida e ser o portuga curioso e de coração aberto que de alguma forma cativou a tua gentileza. E faço votos de tratar o meu semelhante, assim seja um bom ser humano, com o mesmo respeito e carinho que tu.

Espero que o universo traga ao meu contacto mais gente com o coração no sítio certo e tu, onde quer que estejas, espero que estejas feliz. Um grande abraço! 

PS: O sacana do Bolsonaro caiu!