domingo, dezembro 31, 2006

Li num blog...

«Put me in your supermarket list» by David Fonseca

Boa frase para se dizer a alguém.

Adeus 2006/Olá 2007

Não é que eu acredite na compartimentação do tempo e em que, de facto, algo extraordinário acontece sempre que se passa de um ano para outro. Mas acredito que amanhã é mesmo outro dia e que o futuro é escrito a cada momento. Portanto, todos os amanhãs são oportunidades, páginas fresquinhas em branco à espera para serem escritas/vividas. Cada «hoje» é também uma oportunidade de pensar sobre o que se quer viver, continuar, mudar amanhã.

O ano de 2006 será para mim um ano memorável. Porquê? Porque foi intenso, porque exigiu de mim, levou-me aos meus limites, fez-me estabelecer novos limites. Vejamos: fui feliz como já não era há anos, fui infeliz como nunca tinha sido; amei muito, fui muito amado; experimentei as alegrias da realização, experimentei a raiva da frustração; perdi o medo de estar vulnerável perante o outro; deixei-me cegar pela dor; perdi-me das coisas em que sempre acreditei, voltei a reencontrar-me.

Passei os últimos 15 dias a pensar nisto tudo, a pensar neste ano de 2006 e em como ele foi precioso. Passei estes dias a tentar fazer sentido de tudo isto, a tentar converter tudo isto em sabedoria. Parece que enfiei tudo dentro de um grande funil para um processo de refinação intenso, cujo produto final é uma garrafa com um líquido licoroso do qual irei beber durante 2007. Não sei porquê, mas tenho a sensação de que 2007 vai ser um ano tranquilo. Mas daqui a um ano cá estarei para contar como foi.

Desejo um excelente 2007. Que este ano seja a janela de oportunidade para a realização do vosso mundo interior. Vivam, realizem, realizem-se, sejam corajosos e não tenham medo de ser felizes.

Um grande abraço.
Silvestre

Madredeus

Graças à tua bela frase dei por mim a reconciliar-me com os Madredeus. Nunca tinha prestado muita atenção às letras. A voz da Teresa Salgueiro cansa-me ao fim de algum tempo, por isso nunca pensei neles enquanto obra poética. Mas agora que sei andarem pequenos duendes a cirandar por entre os versos, vou dar mais atenção.

sábado, dezembro 30, 2006

Conversa...

G.: eu só gostava de um dia ter alguém que me segurasse a mão rugosa num alpendre, numa tarde de sol, cadeira de baloiço, cobertor nas pernas, muros de buganvílias, chá...
Silvestre: epá, até me causaste um arrepio.
G.: isto é que é o amor, buganvílias, mãos, alpendre, chá... pouco mais que isso... agora somos todos beleza e pujança, mas um dia, o pior é um dia...
Silvestre: sim... o que eu quero é encontrar essas mãos novas, belas e pujantes que um dia vão estar rugosas entrelaçadas nas minhas...
G.: estas mãos?
Silvestre: não sei... achas que podem ser?
G.: não sei...

sexta-feira, dezembro 29, 2006

Verdades da nossa vida...

Neste dia 29, há um mês atrás, estava a fazer amor com alguém a quem olhei directamente nos olhos para dizer «amo-te muito... mesmo muito». Estava a transmitir o que, nessa altura, era a maior, mais importante e inviolável verdade da minha vida.

quinta-feira, dezembro 28, 2006

Um caso sério de música...


Quem aprecia o renascimento da «Nouvelle Chanson Française» com cantores como a Carla Bruni ou a Pauline Croze, não pode perder este álbum.

A Maria Rita no seu melhor...(Jazz meets Bossa Nova)

Ficou difícil
Tudo aquilo, nada disso
Sobrou meu velho vício de sonhar
Pular de precipício em precipício
Ossos do ofício
Pagar pra ver o invisível
E depois enxergar

Que é uma pena
Mas você não vale a pena
Não vale uma fisgada dessa dor
Não cabe como rima de um poema
De tão pequeno
Mas vai e vem e envenena
E me condena ao rancor
De repente, cai o nível
E eu me sinto uma imbecil
Repetindo, repetindo, repetindo
Como num disco riscado
O velho texto batido
Dos amantes mal-amados
Dos amores mal-vividos
E o terror de ser deixada
Cutucando, relembrando, reabrindo
A mesma velha ferida
E é pra não ter recaída
Que não me deixo esquecer

Que é uma pena
Mas você não vale a pena

(CD Maria Rita - Não vale a pena - faixa 4)

quarta-feira, dezembro 27, 2006

Postais de Natal...


Hoje recebi dois postais de boas festas. Fiquei contente que nem um miúdo. Já não recebia cartas manuscritas pelo correio há anos. De repente lá estava eu a ler o meu nome a minha morada em letras redondas, a identificar os nomes dos remetentes e a ter uma adrenalina enorme pela antecipação do conteúdo.

Sempre gostei de receber cartas e nos dias que correm, cada vez mais, acho que uma carta manuscrita é um presente especial. Escrever à mão demora tempo e receber uma carta manuscrita significa que alguém perdeu o seu tempo connosco. Oferecer tempo é um presente fantástico, afinal o tempo é um elemento precioso e um recurso escasso. As últimas cartas que escrevi à mão foram escritas por essa razão, porque entendi que pelo simples facto de estar a manuscrevê-las estava a dar mais de mim ao destinatário, a dar-lhe mais importância e a dizer-lhe «fazes-me querer gastar o meu tempo contigo».

Hoje, recebi dois postais com longas missivas. Isso fez-me feliz.
"às vezes no silêncio da noite
eu fico imaginando nós dois
eu fico ali sonhando acordado
juntando o antes, o agora e o depois..."

(caetano veloso)

terça-feira, dezembro 26, 2006

Os mais velhos...

Ontem vi um filme chamado «O amor não tira férias». Voltei aos filmes depois de um mês de ausência. Escolhi este filme porque não precisaria mais do que o neurónio de emergência para digeri-lo. Contudo acabei por ser supreendido por um dos personagens, Arthur Abbott (um argumentista aposentado de 90 anos), que é um exemplo de sabedoria e um repositório de experiência e conhecimento.
De repente fui transportado para o tempo em que a única avó que conheci ainda era viva. Ela esteve uns 5 anos num lar e nesse lar convivi com gente impressionante que, apesar dos corpos vencidos, ainda eram donos de uma centelha de vida invulgar.
Senti muita saudade da D. Arménia, uma ex-violinista que recitava poesia com uma candura desarmante; da D. Elvira que foi trapezista e que apesar da bengala e dos 82 anos não perdia a oportunidade de dançar uma valsa comigo quando me apanhava a jeito, pois sabia que eu praticava danças de salão e que conhecia as "danças de outros tempos"; a D. Isaura com aquelas gargalhadas que saiam do fundo do peito no fim de cada anedota que contava (muitas delas picantes). Lá acabava a minha avó por ficar com ciúmes por eu ser neto dela e estar a ouvir as histórias de todos os outros. Mas sabia bem. Eram belas histórias, histórias de vida. Saía de lá contente e com a convicção de que a D. Isaura tinha razão quando dizia que «velhos são os trapos».

Sobre amor...(II)

O amor maduro pensa «preciso de ti porque te amo». O amor imaturo pensa «amo-te porque preciso de ti».

segunda-feira, dezembro 25, 2006

A Consoada...

Passamos os dois sozinhos, os três. Foste sensível ao facto de este ano quase não ter existido Natal, ao facto de eu não ter organizado nada como é meu costume. Disseste-me que não fazia mal o facto de eu não ter bacalhau ou os ingredientes necessários para fazer uma refeição típica dos teus Natais. Disseste-me que nem que comêssemos ovos estrelados, o importante é que estávamos juntos. Foi o suficiente para eu querer fazer ainda mais um esforço, para eu querer inventar um prato delicioso, criar um momento especial para ti. Disseste-me no fim que esta consoada tinha sido especial. Rimos, chorámos, brindámos à vida, aos vivos e a ele. Abrimos as prendas, conversámos e adormeceste no sofá com os óculos postos. Acordei-te e fui-te deitar. Disseste «até amanhã» e sorriste aquele sorriso quentinho que conheço há tantos anos. Fechei a porta do teu quarto e fui deitar-me. Adormeci também.

domingo, dezembro 24, 2006

Sinto-me grato (não, não é o síndrome da Floribela).

Sinto-me grato, pelas coisas que tenho e pela vida que tenho vivido. Às vezes é tão difícil fazer esse exercício, isto é, enumerar aquilo que se tem e sentir gratidão por isso. Lembrei-me de um poema da Violeta Parra (mais tarde cantado pela Elis Regina), do qual deixo um excerto.

Gracias a la vida que me ha dado tanto.
Me dio el corazón que agita su marco
cuando miro el fruto del cerebro humano;
cuando miro el bueno tan lejos del malo,
cuando miro el fondo de tus ojos claros.
Gracias a la vida que me ha dado tanto.
Me ha dado la risa y me ha dado el llanto.
Así yo distingo dicha de quebranto,
los dos materiales que forman mi canto,
y el canto de ustedes que es el mismo canto
y el canto de todos, que es mi propio canto.
Gracias a la vida que me ha dado tanto.

Os paradoxos da memória

A memória trai algumas pessoas porque falha e trai outras pessoas porque não falha. A minha memória tem vida própria e por vezes presenteia-me com flashes repentinos. Às vezes é bom, às vezes é como uma chicotada. Hoje, saído do nada, veio-me ao pensamento um poema que dediquei em tempos. Andei dias à espera do momento certo para o oferecer. Esse momento chegou e na manhã seguinte, antes de sair de casa, escrevi numa folha de papel (estrategicamente colocada perto dos cereais, para ser descoberta):

Tu eras também uma pequena folha
que tremia no meu peito.
O vento da vida pôs-te ali.
A princípio não te vi: não soube que ias comigo,
até que as tuas raízes
atravessaram o meu peito,
se uniram aos fios do meu sangue,
falaram pela minha boca,
floresceram comigo.
«P.N.»


Estarei eu a ser traído pela memória?

ps. Para quem não sabe, P.N. é Pablo Neruda.

sábado, dezembro 23, 2006

Este ano quase deixei cair o Natal


O Natal para mim sempre foi algo de especial. Não sei bem explicar porquê. Dava-me uma sensação de calor muito forte. Acho que no meu imaginário de criança acreditava que os anjos deviam andar à solta e, quem sabe, algum repararia em mim. Nunca acreditei no pai natal, mas acreditava que algo andava no ar, algo bom.

As prendas não eram o que mais me fascinava, mas sim os enfeites pela casa, a árvore de Natal (que eu ganhei o direito de decorar a partir do 14 anos), as luzes da árvore de Natal.

A música de Natal que mais gosto chama-se Silent Night (sim, em inglês). A certa altura comprei umas luzes de Natal que tocavam o Silent Night e passava um tempão deitado com a cabeça debaixo da árvore de Natal a ouvir a música, a olhar para as luzes, para as cores dos enfeites... sentia-me pacífico.... Pelo menos até à altura em que aparecia a mãe a dizer o que é que um marmanjo de 14, 15, 16, 17 anos fazia deitado debaixo da árvore de Natal.

Outra pessoa na minha casa partilhava a mesma paixão que eu pelo Natal. Ele partiu, mas o Natal continua a ser a minha ligação especial a ele. É a altura em que os dois nos encontramos na partilha de um segredo só nosso. E este ano, por vicissitudes da vida, deixei cair o Natal. Mas acordei a tempo... e amanhã lá estaremos os dois, a partilhar o nosso segredo. Eu aqui, tu aqui... em mim.

Para quê procurar fora de nós o que transportamos dentro? Estou em paz, reencontrei-me comigo e a minha casa voltou a estar quente. Esta casa está cheia de amor. E nestes dias vou estar a enviá-lo em pensamento a todos a quem desejo bem, porque ele é muito e não o consigo conter. E ninguém precisa de saber.

UM FELIZ NATAL A TODOS!!!!

Fecha-se o círculo

Não consigo deixar de pensar que fui salvo. Que estranho presente de Natal.

sexta-feira, dezembro 22, 2006

Para quem gosta de muffins...


Base:
1 ovo
1 colher de sopa bem cheia de farinha
1 colher de sopa bem cheia de açucar (2 para os gulosos inveterados)
1 colher de sopa de chocolate em pó
1 colher de sopa de azeite
Bater tudo muito bem e adicionar à base pedacinhos de chocolate, ou frutos secos, ou frutos silvestres (sem trocadilhos...). Deita-se numa almoçadeira e vai ao microondas na potência máxima, durante 2 minutos certos. E está pronto.

Quando estou apaixonado escrevo coisas destas...

Como-te, devoro-te
Até ao último gomo.
Perco o sono
E o juízo
Nesse teu sorriso
Que não é uma referência batida.
Antes inferência,
Incitamento ao avanço desejado
E permitido.
Como-te, devoro-te
Até ao último gomo
E sou sugado,
Sorvido,
Amado e compreendido
Sem razão e sem siso.
Como-te e sou comido.

O Robbie Williams deu-me esperança hoje...

Custou-me a acordar hoje, outra vez. A minha casa está vazia, a minha cama está vazia. O meu peito está vazio de correspondência. Não consigo produzir pensamentos felizes... No entanto vinha no carro e ouvi o Robbie Williams na rádio. Uma canção que não acabando com o frio que sinto, me deixou menos gelado.

Something beautiful

You can't manufacture a miracle
The silence was pitiful that day.
A love is getting too cynical
Passion's just physical these days
You analyze everyone you meet
But get no sign, love ain't kind
every night you admit defeat and cry yourself blind

If you can't wake up in the morning
Cause your bed lies vacant at night
If you're lost, hurt, tired or lonely
Can't control it, try as you might
May you find that love that won't leave you
May you find it by the end of the day
You won't be lost, hurt, tired and lonely
Something beautiful will come your way

Some kind of beautiful (will come your way)

quinta-feira, dezembro 21, 2006

Sobre amor...

"As palavras são fáceis e amar não é suficiente.
Mas é suficiente amar... "


No dia que comecei este blog, fiz o primeiro post com um poema que escrevi. O verso acima é o que resta dele, pois é do poema original a única coisa que me interessa. Amar não é suficiente quando as palavras são fáceis e as verdades são fátuas. Mas amar é suficiente, quando o sentimento é irrefutável.

Às vezes cruzamo-nos com pessoas que nos enganam simplesmente porque vivem uma mentira pessoal, uma mentira que é só sua mas que acaba por nos enredar com consequências dramáticas. Porque fomos enredados, dizemos e fazemos coisas que não somos e durante algum tempo deixamos de ser nós para ser nada mais que dor e desespero. Mas algures no caminho, porque as palavras deixam de ser fáceis para serem verdadeiras e porque amar é suficiente, não voltamos a olhar para trás. Vamos descobrindo quem somos e acima de tudo que não somos vítimas. Só está sujeito quem vive e eu quero viver muito e, no caminho, aprender e amar o máximo que puder e souber.

É sem pretensiosismos que vos digo «benvindos ao Blog do Silvestre, alguém que vive».