quarta-feira, abril 25, 2012

Pixel - História 3

Enviei ontem a minha última história para o Pixel sobre temática LGBT dedicada ao tema «Aquele abraço». Não pensava em escrever mais depois da última, mas a redescoberta pelo gosto de pensar personagens e um momento de aborrecimento no trabalho, trouxe-me à imaginação uma história muito dura e feia, sobre um lado outsider do mundo para o qual não se olha. Assim no total, escrevi um drama, uma comédia e uma história noir (tal como está abaixo):

Odiei aquilo. O filho da puta veio-se na minha boca depois de eu lhe dizer que não queria, mas prendeu-me a cabeça. Não pude fazer nada. Depois riu-se quando me soltou. Qual é a graça, cabrão? Deves pensar que és a última bolacha do pacote. Ando à meia hora agoniado com um gosto a ovos podres e salgados na boca. O que é que o gajo tinha nos tomates? Nojento de merda. Se pudesse cortava-lhe os dois. O gajo até gosta de mim. Com ele estou sempre garantido. E hoje em dia não há muita coisa com a qual podemos contar. Na verdade nunca consegui contar com grande coisa por parte de ninguém. Quando se nasce na merda pouco mais se é que merda e ninguém quer ter merda agarrada aos sapatos. E o gajo está aqui todos os dias, aparece todos os dias sem falhar um. No outro dia deu-me um abraço. Disse-me que me amava enquanto desapertava as calças e me empurrava a cabeça para eu lha chupar. O meu pai também dizia que me amava enquanto me arreava 2 socos no focinho que me faziam espirrar sangue do nariz e da boca. Era para o meu bem, dizia ele. Eu era muito rebelde e esse castigo era amor… Anda tudo fodido dos cornos? Calem-se com a merda do amor. O gajo deve pensar que eu vou ficar aqui a vida toda. Sou puto mas não sou parvo. Daqui a 4 meses faço 18 anos. O meu pai já não me pode deitar a mão e deixo esta puta de vida e os cabrões que vêm aqui para ser chupados. Que morram todos! Mas antes que me encham os bolsos para eu me pirar para Londres… Mas o que é que aquele filho da puta tinha nos tomates. Foda-se.

8 comentários:

Sérgio disse...

Mais uma bela histórias :p

silvestre disse...

A julgar pela ausência de comentários e pela natureza dos que foram feitos, penso que as pessoas lêem e ficam engasgadas. Acho que reagimos sempre mal quando somos obrigados a lidar com coisas marginais. Mas o marginal também existe. No meu caso só tenho a agradecer-te a oportunidade de ter criado estas personagens.

Abraço-te disse...

é isto..."um lado outsider do mundo para o qual não se olha"...que tb existe!!!

Abraço-te

d disse...

É importante deixar as personagens viver fora de nós.
Isto é uma síntese, é um excerto é a história na íntegra? Se for a última só me parece um pouco curta, talvez mais umas 3 a cinco linhas para explorar algumas coisas. Mas cada um tem a sua maneira de escrever, é só uma opinião.
Gostei ;)

Anónimo disse...

S. das 3 esta é a minha preferida, sem dúvida.

Bianca disse...

Eu comentei lá no Blogue do Sad e disse tudo!

Anónimo disse...

Sim, crua é a palavra certa. Gostei, gostei muito, gosto do cru tb, é honesto. Vejo-a perfeitamente real, a acontecer vezes de mais. Mas a tua escrita tem um defeito: é uma sobremesa óptima servida numa taça pequenina; sabe a pouco. ;)

jmx disse...

Eu gostei muito! Uma das minhas 5 favoritas... ;D