Enviei ontem a minha última história para o Pixel sobre temática LGBT dedicada ao tema «Aquele abraço». Não pensava em escrever mais depois da última, mas a redescoberta pelo gosto de pensar personagens e um momento de aborrecimento no trabalho, trouxe-me à imaginação uma história muito dura e feia, sobre um lado outsider do mundo para o qual não se olha. Assim no total, escrevi um drama, uma comédia e uma história noir (tal como está abaixo):
Odiei aquilo. O filho da puta veio-se na minha boca depois de eu lhe dizer que
não queria, mas prendeu-me a cabeça. Não pude fazer nada. Depois riu-se quando
me soltou. Qual é a graça, cabrão? Deves pensar que és a última bolacha do
pacote. Ando à meia hora agoniado com um gosto a ovos podres e salgados na boca.
O que é que o gajo tinha nos tomates? Nojento de merda. Se pudesse cortava-lhe
os dois. O gajo até gosta de mim. Com ele estou sempre garantido. E hoje em dia
não há muita coisa com a qual podemos contar. Na verdade nunca consegui contar
com grande coisa por parte de ninguém. Quando se nasce na merda pouco mais se é
que merda e ninguém quer ter merda agarrada aos sapatos. E o gajo está aqui
todos os dias, aparece todos os dias sem falhar um. No outro dia deu-me um
abraço. Disse-me que me amava enquanto desapertava as calças e me empurrava a
cabeça para eu lha chupar. O meu pai também dizia que me amava enquanto me
arreava 2 socos no focinho que me faziam espirrar sangue do nariz e da boca. Era
para o meu bem, dizia ele. Eu era muito rebelde e esse castigo era amor… Anda
tudo fodido dos cornos? Calem-se com a merda do amor. O gajo deve pensar que eu
vou ficar aqui a vida toda. Sou puto mas não sou parvo. Daqui a 4 meses faço 18
anos. O meu pai já não me pode deitar a mão e deixo esta puta de vida e os
cabrões que vêm aqui para ser chupados. Que morram todos! Mas antes que me
encham os bolsos para eu me pirar para Londres… Mas o que é que aquele filho da
puta tinha nos tomates. Foda-se.
8 comentários:
Mais uma bela histórias :p
A julgar pela ausência de comentários e pela natureza dos que foram feitos, penso que as pessoas lêem e ficam engasgadas. Acho que reagimos sempre mal quando somos obrigados a lidar com coisas marginais. Mas o marginal também existe. No meu caso só tenho a agradecer-te a oportunidade de ter criado estas personagens.
é isto..."um lado outsider do mundo para o qual não se olha"...que tb existe!!!
Abraço-te
É importante deixar as personagens viver fora de nós.
Isto é uma síntese, é um excerto é a história na íntegra? Se for a última só me parece um pouco curta, talvez mais umas 3 a cinco linhas para explorar algumas coisas. Mas cada um tem a sua maneira de escrever, é só uma opinião.
Gostei ;)
S. das 3 esta é a minha preferida, sem dúvida.
Eu comentei lá no Blogue do Sad e disse tudo!
Sim, crua é a palavra certa. Gostei, gostei muito, gosto do cru tb, é honesto. Vejo-a perfeitamente real, a acontecer vezes de mais. Mas a tua escrita tem um defeito: é uma sobremesa óptima servida numa taça pequenina; sabe a pouco. ;)
Eu gostei muito! Uma das minhas 5 favoritas... ;D
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