Já falei noutro post que no ano de 2021 lidei com uma depressão. Falo de lidar com ela ativamente, uma vez que, sem perceber, eu estava num estado depressivo há uns 2 anos. Ainda não percebo bem as nuances de uma depressão e, no meu caso e de outros que são pessoas extrovertidas, pode ser bem difícil de perceber. Só quando ela se tornou "major" e começou a interferir com o meu funcionamento normal (em coisas tão simples como me levantar da cama, ou de imaginar um dia depois de amanhã) e a produzir uma alternância constante entre inação e irritabilidade é que resolvi procurar ajuda.
A medicação ajudou imenso e fez-me ter uma lucidez que há muito não tinha. Passei a olhar para a minha vida de uma forma diferente e reduzi, na medida do possível, os facilitadores do meu estado depressivo. Parece-me, contudo, que este estado não deixa de ser como uma espécie de "cancro latente" que volta e meia dá sinal de si. Tenho permanecido vigilante e, quem sabe, até policio demasiado as minhas emoções em busca de algo que possa não ser proporcional ao que estou a viver.
No meu contexto geral está tudo bem com a exceção do trabalho. É a segunda vez que mudo em 2 anos e com maus resultados. Será este fator assim tão importante? A minha vida é muito mais do que isto e o que tenho fora do trabalho é tanto. Diria que só tenho razões para estar feliz, a nível pessoal, a nível familiar, mas então porquê este bicho que vem e que morde pela calada?
Há 2 dias que estou deprimido. Só a presença de alguém de gosto muito permite abstrair-me. Fora desse espaço volta aquela espécie de peso que me empurra contra o chão e diz à cabeça para não pensar e ficar apenas parado, deixar o tempo que me dói passar, até que tenha de novo uma razão para estar bem. Fora do horário de trabalho.
Fico irritado comigo mesmo porque sou o oposto disto e estou sem força. Estou exausto. Depois vem a culpa. A culpa por deixar que isto tome conta de mim. Há tantas pessoas com "problemas reais" e eu, privilegiado, estou tolhido porque não consigo lidar com a frustração e com a infelicidade de trabalhar com pessoas em quem não acredito, numa instituição que não consigo respeitar, e a fazer coisas que não têm o menor significado para mim.
Procuro todas as distrações possíveis e imaginárias. Mesmo agora, estou a escrever este post quando devia estar a trabalhar, mas fujo dessa infelicidade permanente, que me rouba tempo útil de vida que eu poderia estar a usar para fazer coisas que importassem. Pensei que 2022 começaria diferente, mas fui obrigado a continuar onde não quero - quem sabe mais 9 meses. Tento dizer que está tudo bem, mas não está tudo bem. Estou farto de ser obrigado a fazer coisas que não quero. Já não consigo fingir mais, nem para mim. Pensei que tinha deixado esse problema em 2021.
Porque é que uma pessoa forte deixa de o ser? Tenho bastante dificuldade em compreender. Porque é que o trabalho contamina tanto o resto da minha vida? Tenho de dar a volta, mas para isso é preciso acreditar em algo. Simplesmente acreditar. Não posso depender de quem me faz feliz para o meu bem-estar. E nas horas vagas?
8 comentários:
Não é fácil, creio ter alguma ideia do que seja uma depressão
Se puderes pede ajuda a alguém especialista :) ou vai viajar,
Experimenta viajar sozinho
Um forte abraço. Não sei como mas se eu de alguma forma conseguir ajudar... diz... :)
Comecei nesse estado em 2016 (fui empurrado para um serviço que não queria e onde permaneço, porque me bloquearam todas as saídas - e foram 4 tentativas de saída) e acho que ainda não recuperei. Este texto poderia ter sido escrito por mim, porque me revejo imenso nele e porque passei/estou a passar por um processo semelhante. Também não vejo uma luz e ao fundo do túnel e pior do que isso, parece que essa situação ainda adensa mais o estar a tornar-me numa pessoa que nunca quis ser e na qual começo a não me rever. Também não sei qual será a solução, mas quando a descobrir, irei partilhá-la.
Um grande abraço rapaz.
Vou meter a colher, espero que não leves mesmo a mal o que escrevo. Mas a minha ideia é provocar pensamento (e isso talvez leve a alguma irritabilidade).
Escreves ("lidei") que lidaste (passado), apesar de escreveres que entendes este lidar, como um "lidar ativamente"... Se tivesses mesmo interiorizado esse "lidar ativamente" não terias escrito: "lido desde 2021 com ..."? (lido - presente). Será que foi um lapso linguistico ou foi um lapso que revela o teu verdadeiro pensamento sobre a depressão e esse estado? "Sabes" que é algo com que se vive, mas esperas verdadeiramente que fosse apenas momentâneo, que se toma um comprimido, faz-se uma medicação/tratamento e já está, pode voltar, mas por agora ficou tratado "arrumado"...
Depois ao longo do teu texto vais referindo situações que te irritam e que te levam a pensar e, talvez de algum modo, a não aceitar essa depressão... Não sei se a temos de aceitar, penso que não, nem deveríamos. É algo que devemos contrariar, afinal é um estado que nos causa mal estar e se nos habituarmos a ele será, certamente prejudicial.
Mas como referes, penso que devemos aceitar/compreender, que é algo com o qual temos de lidar (ir lidando) ativamente... Talvez seja mais fácil aceitar que esses estados te acompanham (talvez a todos nós, mas a quem tem depressão estão obviamente outras causas associadas e são estados mais nocivos e difíceis de se lidar), ou que te poderão ir acompanhando, aparecendo. Talvez haja alguma paz nessa aceitação. "Estou assim tenho de contrariar e fazer X, Y, uma vez que me ajuda."
O trabalho é algo que, dependendo da educação e cultura, talvez até de fatores endógenos, ocupa um grande espaço na nossa vida, queiramos ou não, e na nossa saúde mental, forma de vermos e de relacionarmos com o mundo e com os outros. Mesmo que tenhamos outras esferas e que todas as restantes corram bem. (Há pessoas que estão a cagar-se para o trabalho, há pessoas que gostariam de se estar a cagar para o trabalho e não conseguem).
Se correr tudo bem e maravilhosamente na minha vida em todos os seus âmbitos e tiver uma melga (literalmente) a incomodar-me a meio da noite ela não deixa de me incomodar, por mais pequena e sem importância que ela seja.
Penso que há também uma carga demasiado elevada nos teus ombros e na expetativa de ti próprio em relação a ti e à tua performance enquanto elemento trabalhador. Temos de ser sempre fortes? Temos de ser sempre constantes e apenas uma coisa? Há mal em ficar exausto? Em não conseguir estar sempre ao mesmo "nível"? Temos de fingir que está tudo bem? Porquê? Para quem?
Acho que essa condicionante de te veres a fazer uma coisa e obrigarem-te a esperar 9 meses te frusta, e com razão, penso que pensaste que aceitaste essa condicionante para depois ires para o que queres... Teres aceitado isso racionalmente, e isso ter-te sentido racionalmente, não faz com que deixes de sentir todas as coisas que achavas (já sabias) que ias sentir. Eles (os sentimentos) continuam lá e fazem-se sentir, mesmo quando já os esperamos - às vezes até a sua aceitação racional, à priori, faz com que pensemos, quando os sentimos: "afinal é ainda pior que o que pensava", porque estamos efetivamente a vivenciá-los...
Não sei se já fazes, se te ajuda... Mas, para além da medicação, a terapia, com um bom terapeuta, penso que ainda é a melhor forma de se lidar com a depressão...
Mas bem.. se os conselhos fossem bons vendiam-se. Acima de tudo espero que fiques bem e que, de alguma forma, este meu comentário (o de um desconhecido) ajude, ou melhor, espero que, pelo menos, eu não te piore a situação.
Força! E tudo a correr bem com o Limão :)
Um abraço.
@Francisco: fui acompanhado por um médico e as coisas correram bem. é mesmo esta questão do trabalho que me tem agastado. viajar é excelente ajuda imenso. estou expectante pela altura em que posso voltar a fazer as "viagens grandes"
@ilovemyshoes: muito obrigado. estas coisas são mesmos pessoais. é um clique que tem de partir de nós. agradeço o abraço.
@Lobo: creio que não há uma resposta "one fits all". não podemos baixar os braços, isso sem dúvida. o que me me deixa irritado comigo mesmo, é que deixo a coisa entrar nas outras dimensões da vida (ainda).
@ricardo: não prejudicas nada e pensar é sempre bom. escrevi lidar no passado e "lidar ativamente" porque só em 2021 lidei com algo que já cá andava há mais tempo e que eu não queria admitir, ou me recusava a ver. Não escrevo "lido" porque sinto que não é um estado permanente ou algo que venha para ficar. Nos últimos 6 meses as coisas endireitaram-se e é este aspeto do trabalho (sempre que tenho de lidar com a frustração em modo mais intenso) que faz a coisa aparecer. Saio do período de trabalho e as coisas são diferentes, se tenho de ficar também a trabalhar de noite, aquilo tem um efeito nefasto.
Obrigado pela "food for thought".
ps. Amanhã já saberei o estado do Limao espero que esteja tudo controlado :)
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