Hoje, se fosse vivo, o meu pai faria 88 anos. Que homem extraordinário tive por pai. Sempre soube que eu era gay (vá-se lá saber como teve essa intuição quando eu tinha apenas 2 anos e disse-o à minha mãe que não acreditou até eu lhe contar aos 19 anos). Foi por isso sempre muito duro comigo, levou-me ao limite até um dia eu me revoltar a sério contra ele. Tinha atingido o objetivo dele, ver-me ser capaz de me defender sem medo, porque a vida fora de casa não ia ser fácil para uma pessoa como eu. Depois desse dia, tinha eu 14 anos, a nossa relação mudou completamente. Passamos a dar-nos muito bem. Ele tinha orgulho em mim e sabia que eu era capaz de lutar por mim. Pena que só tivemos 10 anos em harmonia porque ele morreu quando eu tinha 24 anos. Mas esses 10 anos serviram para perceber o pai que tinha, a dimensão do seu amor por todos nós em casa e tudo o que ele fez na vida para nos dar o melhor.
Para um homem que tirou a 4a classe aos 20 anos e que trabalhava desde os 7 anos, ele foi verdadeiramente prodigioso. De engraxar sapatos na rua (e passar fome) a ter 150 pessoas a trabalhar para ele foi muito esforço, muito trabalho, muita fé. Para isso também muito ajudou a minha mãe que foi uma copiloto de eleição. Um soldador e uma costureira acreditaram que um dia teriam uma família a quem poderiam dar tudo o que não tiveram, mas o meu pai era, sem dúvida, a força motriz. Foram pais dos primeiros licenciados na família e eu e o meu irmão tivemos acesso a tudo o que poderíamos almejar.
Tudo o que sou agradeço ao meu pai. Antes de morrer ele disse-me que eu ainda ia ouvir muito as palavras dele na minha cabeça. É verdade, oiço quase todos os dias e espero nunca me esquecer das mesmas e de toda a sabedoria nelas contida.
7 comentários:
Escreves de forma muito bonita sobre ele. É muito bom quando as pessoas que verdadeiramente devem importar nas nossas vidas são realmente importantes. Lamento muito que o tenhas perdido tão cedo mas enche o coração saber que te pode ter dado mais nesses dez anos de vida em que vocês se entenderam do que muitos, em toda uma vida, não conseguem.
O melhor de tudo é que ele continua vivo em ti... no que te moldou, naquilo que és e na tua memória.
Deixo te uma abraço apertado com amizade
Verdade Ricardo. O legado dele continua vivo e assim continuará até eu e o meu irmão fecharmos os olhos. Sabemos bem que nos criou.
Ainda assim, mesmo ele não estando por cá, ele e vocês todos estão de parabéns. Um aniversário é sempre um aniversário. Ate porque uma pessoa pode desaparecer fisicamente, mas permanecerá sempre que se falar dela. E é importante manter essa memória. Não só para aqueles que o conheceram em vida, mas também para todos aqueles que não tiveram esse privilégio, mas que acabam por saber quem é, como foi e o que fez, pela perspetiva de quem conviveu e admira. É talvez aquilo, que temos mais próximo da vida eterna.
@francisco: obrigado Francisco é mais um ano de memórias presentes :)
@lobo: sem dúvida. Sei que serei o último a manter viva a chama (se atentarmos à lei da vida)
:)
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