Este fim de semana passei-o na casa do Beto e foi o primeiro com a mãe dele presente. O Beto tinha um pedacinho de receio por eu ter uma personalidade forte e a mãe dele também. Achava que mãe faz algumas coisas que me poderiam chatear. Fui de coração aberto, apesar de ter ouvido histórias que me deixaram também com um pé atrás.
No fim de contas não poderia ter sido um fim de semana melhor. A mãe do Beto é uma mulher do povo, trabalhadora, espontânea, sem filtros e aquilo a que os ingleses chamam “feisty”. Mas antes de tudo tenho um enorme respeito por ela. É uma mulher que fez das tripas coração para criar os filhos, quando o marido deixou a casa e a deixou com dois pré-adolescentes, começou a trabalhar a limpar casas, para que pudessem sustentar-se. Quando percebeu que o Beto era bom aluno e que poderia ir mais longe, endividou-se para o mandar para universidade e mantê-lo lá enquanto ele não tivesse acesso à bolsa.
É definitivamente uma leoa, luta ferozmente pelos filhos e isso agrada-me muito. Nota-se a léguas o amor que tem pelo filho e percebo também o enorme amor que ele tem pela mãe. Eles têm uma dinâmica particular que é só deles. Para quem não conhece, parece que se estão sempre a picar, mas é quase como um jogo entre eles. O Beto como é mais tranquilo e a mãe explosiva parece que ele está sempre a levar nas orelhas, mas depois não é assim. Ele é mais subtil a picá-la. Quando a vida se tornou difícil, eram eles dois contra o mundo e a proteger o irmão mais novo, então tornaram-se uma espécie de dupla inseparável.
Quando comecei a namorar o Beto, ele sondou a mãe sobre nós que se mostrou bastante desagradada com o facto de ele poder abandonar a Madeira. Ele ficou bastante nervoso com isso. Não queria fazer a mãe sentir-se abandonada uma segunda vez. Eu percebi, mas também compreendi que poderia ser um problema imenso para nós.
Este fim de semana a mãe do Beto disse-me que esperava que ele viesse para o continente. Disse-me que quer o melhor para o filho e que se ele está bem e feliz, nunca seria capaz de o prender por muito que lhe custe. Disse-me que não era esse tipo de mãe. Que o apoiava no que ele considera que é o melhor para ele.
Para o Beto era muito importante que eu gostasse da mãe dele e que ela gostasse de mim. Quando ele percebeu que eu realmente gostei muito dela e quando ela lhe disse que tinha gostado bastante de mim, parece que lhe saíram 50kg de cima.
A verdade é que não pensei que ia gostar tanto da mãe do Beto (em estado bruto, sem filtros, possessiva com o seu rebento), mas eu também tive uma excelente mãe e valorizo. Não me venham dizer que todas as mães são boas. É quando coisas realmente graves acontecem que se mostra o calibre de cada um e esta mulher lutou sozinha pelos seus dois rapazes e com tudo o que tinha, sem família, sem instrução, mas com muito coração. Talvez proteja os filhos demais, talvez seja muito galinha, mas quer a felicidade de cada um deles de forma tão ativa que me comove. Vamos ver o futuro, para já sou fã. Acho que vai ser uma convivência intensa, mas pacífica.
Gostamos os dois de dançar música dos anos 80 e 90 e por isso ainda iremos sair muitas vezes para um pezinho de dança. A nossa idade também não é assim tão diferente, existem bastantes referências em comum.
2 comentários:
Não deve ser fácil "perder" um filho para o continente, mas há aviões, telemóveis, whatsappp :)
Toda a razão Francisco :)
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