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quarta-feira, agosto 16, 2023

Férias com a família

Estive 9 dias inteiros com a minha família na casa de campo. Foi um desafio daqueles. A família é o melhor que temos, mas juntam-se na mesma casa os donos de 3 casas diferentes com forma distintas de fazer e gerir. Não obstante, a dificuldade do ajuste  -porque eu sou o mais "picuinhas" com as coisas arrumadas e preservadas, tenho de admitir - correu bem e tivemos momentos muito felizes. 

A minha sobrinha é uma luz e é bom saber que um ser humano daquela categoria saiu desta família. Não sei se fomos nós que fizemos alguma coisa de bom na educação dela (juntamente coma  mãe) ou se ela é mesmo um ser especial que espontaneamente vai crescendo como cresce, empática, justa, humana. 

O meu irmão, não tenho palavras para o descrever. É alguém que se não fosse meu irmão jamais nos cruzaríamos. Mas isso só mostra que devemos dar oportunidades às pessoas que parecem não ser da nossa tribo. No caso do meu irmão (que parou nos 17 anos mentais), por trás daquele ar de pintas, há um homem com quem podemos sempre contar apesar de rabujar um bocadinho. 

A minha mãe devido à doença nos olhos, está talvez no ponto mais inseguro em que já a vi, também revoltada, cansada dos sofrimentos sucessivos. Mas estamos cá nós para ela, porque ela nunca deixou de estar para nós.

A última consideração é que tenho saudades de quando éramos 6 à mesa e não 4. Gostava muito de ver a nossa família crescer de novo, de que houvesse mais amor e mais alegrias com as pessoas que eu e o meu irmão trouxermos. Quem sabe desta vez a família atinge a sua forma final. 

sexta-feira, fevereiro 25, 2022

Sou um menino da mamã

Tenho quase 48 anos e sou um menino da mamã. Sei que esta expressão é originalmente utilizada para designar alguém muito mimado, mas apesar de não corresponder à realidade, utilizo-a. A minha mãe mimou-nos muito, a mim e ao meu irmão, mas com tough love. Sempre a verdade na ponta do lábios, um afago se merecêssemos um afago e uma descompustura (ou uma palmada) se merecêssemos uma descompustura. 

Tem sido uma mãe extraordinária (tal como foi enquanto filha e esposa). A minha mãe de metro e meio deu-nos o lar mais perfeito em que poderíamos ter crescido, um sítio onde ela continua e onde eu posso ir quando nada parece surtir efeito para esbater as agruras da vida. 

O amor da minha mãe é real. Fala-se muito sobre os pais amarem os filhos, mas ela parece que tirou um PhD em amor. É uma coisa que a minha mãe sabe fazer bem. Teve de reinventar-se e reprogramar-se para lidar com um filho gótico e com outro gay. Para alguém da sua geração, de classe operária e com imensa fé católica, é um feito extraordinário. Se os filhos não podem ser felizes da maneira que ela imaginou, que sejam felizes à sua própria maneira (desde que não magoem ninguém e sejam honestos). 

A minha mãe vai fazer 80 anos, o que me faz admirar mais a sua incondicionalidade no amor pelos filhos, e tudo aquilo que está sempre disposta a fazer por nós - mesmo que fora da sua zona de conforto. A mística do amor da minha mãe é tão forte, que me basta ir a casa dela e ficar-lhe deitado no colo com a cabeça virada para a barriga dela. Nem precisamos falar. Ela pode ficar a ver os seus programas de TV e faz-me apenas umas festas na cabeça. Parece que limpa tudo.

A lucidez diz-me que, com quase 80 anos, ela andará por cá mais uns 15 anos. O que me faz querer estar sempre por perto, ajudar no que for preciso, encher o tempo que lhe resta com experiências entusiasmantes (para ela) e memórias bonitas (para mim). Este verão a minha mãe gostava de ir ou a Copenhaga ou a Budapeste (enquanto as pernas a deixam andar bem). Vamos sim senhor, e tudo o que eu puder fazer para fazê-la sentir-se amada e viva. É neste sentido que sou um menino da mamã. 

Há uns meses a minha mãe disse "se o teu pai pudesse ver como os filhos são meus amigos ia ficar muito feliz". Sim, o meu irmão também é um menino da mamã. E os dois, cada um à sua maneira, retribuímos tudo o que recebemos dela. E no tudo que dermos, ainda vamos ficar em dívida.

terça-feira, janeiro 05, 2021

Gótico (Tico para a família)

O Tico era o gato do meu irmão. 

Em 2002 um gatito com cerca de 4 meses saiu de um canavial e ficou encostado à bota do meu irmão - a passar naquela rua por acaso e a detestar gatos.  Ao ver que o gatito estava em mau estado foi ficando, mas à espera que alguém passasse para ele poder ir embora dali, ocupando-se esse alguém do bicho. 

Acontece porém que ninguém passou e o meu irmão telefonou-me a dizer que não sabia o que fazer porque o gato estava com um ar doente e ele não queria ficar com a morte do gato na consciência, e já estava ali há 25 minutos sem passar ninguém. Como o meu irmão era recém casado com uma "cat lover" e o gato era preto (e o meu irmão gótico), eu aconselhei-o de forma a que ele resolveu levar o gato ao veterinário e fazer uma surpresa à esposa. Na altura, eu também não gostava de gatos e mal sabia eu que um dia também iria estar nesta situação. 

Ao chegar ao veterinário, descobriu-se que o gatito teria efetivamente 4 meses, estava muito subnutrido, tinha uma infeção enorme na boca, tinha a cauda partida em dois lados e apesar do meu irmão ter decidido chamar-lhe Gótico, o gato não era todo preto (estava era incrivelmente sujo). Depois da extração de centenas de pulgas e de vários banhos descobriu-se que ele até tinha a barriga e uma das patas brancas. 

Era um gato muito autónomo. Não era particularmente afetuoso, mas tinha uma relação muito especial com o meu irmão que o ensinou a dar beijinhos no nariz através do comando "Tico dá amor". O meu irmão também lhe chamava Gorda e ele lá vinha (às vezes havia confusão porque o meu irmão também chamava Gorda à minha cunhada e vinham os dois). 

Nunca deixou de ser um gato de rua. Tinha sempre a janela da cozinha aberta e saía e voltava quando lhe apetecia, às vezes trazendo lagartixas, pardais ou ratos mortos de presente. Outras vezes ausentava-se por uns dois/três dias e lá voltava à sua casa como se nada se passasse.

Quando a minha sobrinha nasceu há quase 12 anos atrás ele não se atrevia em tocar em nada que fosse do bebé. Olhava-a com um certo espanto e acho que não gostava do cheiro a bebés. A minha sobrinha cresceu e com uns quatro anos passou a dar-lhe uns abraços que o esmagavam, mas que ele respeitava sem lhe fincar o dente (como fazia a outros que o chateavam) apesar de primeiro tentar fugir a esses abraços.

Os anos passaram e o Tico tornou-se velho, tinha cataratas, estava meio desdentado e a partir dos 15 anos começou a ser muito lamechas, adorava festinhas e pedia-as, ia à rua, mas ficava com os olhos com infeções ou às vezes levava porrada de gatos mais novos. A partir dos 18 anos o meu irmão achou melhor deixá-lo em casa, já não via bem, falhava a janela às vezes, e era melhor mantê-lo em "prisão domiciliária". 

Desde Outubro que ele começou a querer sair para rua constantemente, passava as noites a miar com um miado altíssimo que não deixava dormir o meu irmão. E sempre esse querer fugir, quando não estava dormir no sofá. No dia 15 de dezembro foi um homem a casa do meu irmão para cortar as árvores no quintal. Enquanto o meu irmão trabalhava no escritório, o dito senhor não teve cuidado e o Tico aproveitou para sair de vez.

Eu só soube na passagem de ano quando não vi o Tico no cobertor azul  do sofá, nem veio com a cabeça pedir festas, nem o meu irmão disse "cuidado para o gato não fugir". O Tico foi sabe-se lá para onde. O meu irmão andou à procura, os vizinhos, mas nada. Ele trazia uma medalha na coleira com o telefone do meu irmão, mas ninguém telefonou. Suponho que o Tico já não faz os 19 anos connosco, nem os faz de todo. 

O Tico nunca esteve fora 20 dias. Algo em nós diz que ele morreu e eu nem consigo expressar a pena que sinto. Dá-me para chorar quando penso nele. Porque era muito velhote, porque deve ter morrido com fome e ao frio, sabe-se lá onde. Não sabemos se foi porque se desorientou ou porque era mesmo a vontade dele. 

Há quem diga que os animais partem para longe de quem os acolhe quando sentem que vão morrer. Se foi assim, eu queria que ele tivesse morrido na nossa presença, com festinhas na cabeça, com conforto. Ele fintou a morte no dia em que conheceu o meu irmão e quase 19 anos depois deve tê-la encontrado em qualquer lado. Não me conformo com a ideia de não termos podido ajudar, de não saber o que se passou, de não ter a certeza de que morreu sem sofrimento. 

Nunca fomos grandes amigos até ele se ter tornado um velhote carente. Mas o que é certo é que me deixou muitas saudades e uma enorme mágoa por ele não ter estado com a família nos seus últimos momentos. 

sexta-feira, dezembro 13, 2019

21 Anos

Passarm 21 anos sobre a morte do meu pai eu era um puto de 24 anos e meio. Aprendi tanto sobre luto e sobre o não desaparecimento de entes queridos (embora já não estejam no mundo físico). Hoje sou um homem de meia idade e acho que o meu pai iria estar bastante contente com o que fiz de mim. 

segunda-feira, março 19, 2018

Dia do Pai e da mãe que também é pai.

Quando o meu pai morreu, a minha mãe disse «agora também serei vosso pai, vão continuar a ter amor pelos dois». O meu pai foi um pai fantástico, já falei disso várias vezes, mas hoje, ao lembrar-me desta conversa, não posso deixar de celebrar o pai que tive, mas também o pai que nunca deixei de ter através da minha mãe. A minha mãe é pequenina, mas tem muito espaço para afectos. Thumbs up!

quinta-feira, janeiro 25, 2018

Há 11 anos atrás

Nascia o meu afilhado e eu ofereci à mãe um bacalhau embrulhado como se fosse um bouquet de flores. As flores são já muito vistas e o bacalhau é bom para a qualidade do leite. Ocorre que o pai do meu afilhado se esqueceu do bacalhau no quarto da maternidade. E ela passou a noite com um pivete ao lado da cama. Mas nunca mais se esqueceu. É tão bom gerar recordações inesquecíveis :-p

quarta-feira, janeiro 10, 2018

Efemérides

10 de Janeiro de 1934 foi um grande ano para a minha família. Há 84 anos nascia o meu pai, tipo estrela cadente em sentido inverso. Daquelas luzes que ascendem e iluminam. Parabéns pai. O privilégio foi nosso.

segunda-feira, setembro 25, 2017

Os problemas de amor da minha sobrinha...

Silvestre: Então já tens um namorado?
Leo: Não, mas há um rapaz apaixonado por mim e eu não quero.
Silvestre: Mas não gostas mesmo dele?
Leo: Ele é um cola. E diz que não importa o que eu faça vai gostar de mim na mesma.
Silvestre: Mas diz-lhe que não estás interessada.
Leo: Já disse e mesmo assim ofereceu-me um anel e uma rosa e (algo que eu não percebi) e eu tive de vir para casa carregada com coisas. Eu disse-lhe que faço coisas hiper nojentas, para ver se ele me larga, mas ele disse que sou a única na vida dele. As minhas amigas gozam todas comigo. 
Silvestre: Bom, parece que lhe vais partir o coração.
Leo: Eu só quero é fugir dele. 

sexta-feira, agosto 25, 2017

E a família volta a ser pequena

Separações. Não há ciência que possa definir a razão pela qual elas acontecem. Cada caso é um caso. Do lado de fora, fui obrigado a ver duas pessoas que gostam imenso uma da outra terminarem uma relação por manifesta imaturidade de ambas. Penso que a maioria das pessoas se esquecem que 70% de uma relação é trabalho de ajuste entre ambas as partes. O resto é amor. Quando a pessoa A e a pessoa B se juntam, se não forem coincidentes, têm de produzir um modo de vida C onde as cabem algumas das especificidades de cada um e se trabalham consensos. Quando as pessoas pensam que estão a trabalhar consensos sem abdicarem do que lhes era estrutural numa anterior, as possibilidades de dar certo são mais diminutas.

No caso do meu irmão e da minha (suponho que quase ex) cunhada número 2 foi isso que se passou. Eu, como observador, só posso interferir até certo ponto. Eram duas pessoas que tinham tudo para dar certo, mas discordam brutalmente no estilo de parentalidade que executam. O meu irmão tem uma filha que estava a ser educada por ele e a minha (suponho que quase ex) cunhada número 2 tinha dois filhos que tinham sido educados por ela. Ela acredita não em ser mãe, mas amiga dos filhos. estilo livre, sem regras, sem orientação. O meu irmão acredita em regras, em directrizes, em recompensa pelo mérito. 

Ao juntar-se com a mãe desses dois filhos ele acreditava que agora teria algo a dizer no que diz respeito à forma como os dois filhos levam a sua vida, em especial no caso do filho que vivia em permanência com ele. Eles pensavam ou sentiam de maneira diferente. Nenhum dos intervenientes desta equação procurou no início, gerir as diferenças que a coabitam com pessoas novas iriam exigir. Ao fim de algum tempo começam a existir ressentimentos, começam a existir más palavras e a situação torna-se insustentável. 

Quem diz que o amor é suficiente engana-se brutalmente. Vi pela o meu irmão ter um encanto e um respeito por uma namorada/mulher como nunca tinha tido. Vi a  minha (suponho que quase ex) cunhada número 2 falar do meu irmão  como se o amor lhe brotasse dos dedos e desesperada para fazer os problemas dissiparem-se. 

Apesar dos esforços desesperados de ambos, continuaram a ser infantis cada um à sua maneira. Não tendo cada um deles a capacidade de se colocar nos sapatos do outro quanto ao seu sistema cultural, educacional e de referências. 

Lamentos. Duas famílias juntaram-se por causa de duas pessoas. Criaram laços e desenvolveram afectos. A minha sobrinha adorava a madrasta que era excepcional com ela, a minha mãe gostava muito da nora. Eu, desconfiado no início, abri o coração e aprendi a respeitar a minha (suponho que quase ex) cunhada número 2 pela enorme generosidade, determinação na vida profissional, carinho com que tratava as pessoas que quem gosto. A imaturidade de dois adultos com mais de 40 anos, fez que quem um número elevado de pessoas em ambos os lados da família tivessem um doce que agora lhes é retirado das mãos. 

A vida continua. Os meus Natais vão voltar a ser pequenos, só com namorado, mãe, irmão e sobrinha. Mas o amor está lá na mesma. Quanto ao meu irmão e à sua  (suponho que quase ex) mulher só espero que eles aprendam que os grandes amores não são à prova de bala. Se me perguntarem, tenho quase a certeza de que não vão aprender nada. Mas desejo o melhor aos dois. 

terça-feira, janeiro 10, 2017

Quanto tempo é muito tempo?

Quanto tempo é muito tempo? Hoje o meu pai faria 83 anos. Há 18 anos que não passamos aniversários fisicamente juntos. Contudo, o tempo também me ensinou que as pessoas nunca partem. Só temos de saber ver a presença delas. As minhas mãos são iguais às do meu pai e os pés também (menos engrossados por anos de trabalho físico duro). Sou tão teimoso como o meu pai (talvez ainda mais um bocadinho). Tenho o mesmo ar sério, mas depois sou capaz de chorar a ver o telejornal. Tenho o mesmo talento dele para a bricolage, para a dança, para a planificação, para meter muita coisa em espaços pequenos. Sou capaz de me irritar em 0.2 segundos e sou brutalmente honesto ao ponto de poder magoar/incomodar pessoas com essa honestidade, tal como ele. Só exijo muito de pessoas de quem gosto. Tenho dificuldade em pedir desculpas. As pessoas que amo são o meu ponto fraco e o meu ponto forte. Tenho a curiosidade indómita do meu pai, o gosto pelo novo, pela aventura e pela vida. Gosto de cumprir as promessas que faço (um homem faz-se na qualidade da sua palavra). Acordo de manhã com o pior aspecto que se pode imaginar e a grunhir monossílabos. E acima de tudo, olho para a frente e sou grato pela minha vida ter mais de positivo do que negativo. Não sei quanto tempo é muito tempo. Todos os dias pelos factores que listei e muitos outros, o meu pai levanta-se, vive e deita-se comigo. Na realidade, o tempo deixou de contar quando percebi que nunca deixamos de estar juntos. Hoje celebrei mais um aniversário do meu pai com ele.

quinta-feira, agosto 04, 2016

Limão em Chill Out mood



Mal sabe o Limão que a Wiki chega no sábado. Acho que não estaria a dormir tão descansado. :-p

sexta-feira, abril 01, 2016

Estou cada vez mais parecido com o meu irmão

No outro dia o meu namorado usou uma aplicação para meter a minha cara na cabeça do meu irmão. Na realidade, ao ver-me com cabelo e com a barba que uso há uns anos sou a cara do meu irmão quando ele tem sono. Não era exactamente o meu sonho de consumo, mas pronto. Sempre usamos a nossa diferença facial par nos distanciarmos, uma vez que a voz é igual e as expressões idênticas, temos aproximadamente a mesma altura e não fosse o facto de eu rapar o cabelo e de ele ter (agora) quase 100kg, passávamos por gémeos.

terça-feira, dezembro 16, 2014

O Natal renasceu

O Natal sempre foi importante na minha casa. Sou filho de um homem que teve uma infância muito pobre e difícil que chegou a roubar fruta nos pomares para matar a fome. O meu pai (provavelmente o meu único herói) trabalhou muito para poupar dinheiro (até rebentar o corpo) e construiu o seu negócio com o que sabia fazer - trabalhar o ferro. Eu já nasci num "berço de ouro" quando a metalurgia começou a dar dinheiro. Na nossa casa houve sempre por parte dele um zelo excessivo para que os filhos tivessem um Natal cheio. Lembro-me de ser pequeno e receber aos 20 presentes de Natal, da mesa da casa de jantar ter de ser coberta de doces (os dois metros de comprido por um de largo literalmente cobertos, ele não queria ver um espaço em vazio sem doces) e do meu pai se emocionar todos os anos. 

Com 14 anos passei a ser eu a fazer a árvore de Natal quando proibi a entrada de pinheiros verdadeiros e passamos para as árvores artificiais. A primeira coisa que ele fazia de manhã era vir ver a árvore, ligar as luzes e ver as decorações de Natal que eu tinha colocado na noite anterior enquanto ele e a minha mãe estavam a dormir. Eu sempre adorei o Natal e metia-me com a cabeça debaixo da árvore a ouvir música e a ver as luzes e as bolas e bonecos de todas as formas e cores.

Há 16 anos atrás, 12 dias antes do Natal, o meu pai morreu. Mas eu tive de fazer o Natal, disse à minha mãe que se desistíssemos naquele ano nunca mais conseguiríamos. Eu devia isso ao meu pai, continuar o Natal e decorar a árvore da forma mais bonita que conseguisse. Choramos todos muito nesse ano: durante o jantar, durante a distribuição dos presentes que tinham sido comprados até à data da morte dele, durante a altura de comer os doces que esse ano deixaram espaços vazios na mesa.

Comecei a tradição de comer o que o meu pai comia todas as vésperas de Natal depois de distribuir os presentes: um pires de arroz doce, uma fatia de bolo rei, um sonho de abóbora e um copo de whisky. O meu irmão e a minha mãe acompanharam-me durante anos até que a minha mãe deixou de fazer os sonhos, porque dava imenso trabalho, até que o arroz doce já não vinha em pires e sim num prato grande mais fácil de transportar para a casa do meu irmão. 

Fui deixando o Natal cair (nunca o meu pai porque enquanto as minhas memórias viverem ele tem carne, osso, cheiro, calor, sorriso, voz e toda a história dos anos que vivi com ele). No ano passado não fiz árvore de Natal. Sentia que o Natal não existia, só o consumismo, bondades sazonais, não percebi que tinha perdido a fé, ou na realidade, não percebi que me tinha perdido a mim e perdido o Natal para o meu pai. Ele que quis que eu e o meu irmão tivéssemos sempre os Natais mais perfeitos.

Entrei este ano esquecido de mim, do que me faz "queimar" por dentro. O ano não foi nada fácil, só trabalho duro e no meio terminei uma relação de anos, tive diversos problemas de saúde. O último dos problemas (o qual falei aqui no blogue) teve um impacto muito grande na minha cabeça. Fez-me perceber onde estou, como estou a viver e o que tinha deixado para trás. Resolvi mudar de trabalho, resolvi dar mais espaço aos amigos, resolvi dar-me a oportunidade de não ser sempre o melhor, resolvi sentir o Natal que sempre trouxe dentro. 

Este dia 24 vou receber a minha família em casa. Hoje vou fazer a árvore de Natal (um mastodonte de 2,30 metros que me acompanha há 12 anos), vou comprar decorações novas e vou planear o que vou cozinhar para a família, os doces que vou fazer. A minha sobrinha, agora filha de pais separados, passa a véspera de Natal connosco. E eu estou com a mesma vontade de dar-lhe um Natal tão perfeito como os que o meu pai me dava a mim. O Natal é amor. Apenas isso. Quero-os na minha casa a seguir almoço (mãe, irmão e sobrinha) vamos fazer doces juntos. Vamos brincar com o gato (que nessa altura já deve ter destruído a árvore 15 vezes). 

Quando formos dormir no dia 24, sei que no dia seguinte acordo no meio das pessoas mais importantes na minha vida. Até pode estar a chover, mas a casa vai estar cheia de luz e espero que esta energia de amor contagie a entrada e travessia de 2015.  O meu pai vai estar lá também. Não seria nada do que sou se não fosse ele. E este ano apetece-me chorar de novo. Mas porque me sinto feliz. Há Natal de novo.



domingo, março 23, 2014

O raciocínio de uma miúda de 5 anos

Diz a minha sobrinha:
- Vou levar este livro para casa.

Respondo eu:
- Ó querida não podes, este livro não te pertence.

Contrapõe:
- Mas este livro não é para crianças? Então tio, eu sou uma criança, duhhhh...

sexta-feira, fevereiro 14, 2014

E de repente descobrimos que a Leonor namora...

Disse a minha sobrinha à mãe:
- o Tiago diz que é meu namorado mas eu não souuuuuu! Só de vez em quando.

Começa com 5 anos e já tem uma relação moderna.

quinta-feira, janeiro 10, 2013

Tempo.

Tinha 15 anos quando pela primeira vez me apercebi da noção de idade e de tempo. Depois disso o tempo voou e em meses terei 39. Hoje o meu pai faria 79 anos e há 15 anos e um mês deixou de existir fisicamente. Talvez pelo dia que é comecei a pensar se agora a recordação dele também começará a voar. Talvez não. Pelo menos não quero que voe.

quarta-feira, dezembro 26, 2012

Bom trabalho

A minha sobrinha está a sair bem. Daqui a pouco mais de um mês faz 4 anos e é um projecto em contrução. É uma menina bonita, mas isso é irrelevante quando o que não falta por aí são meninas bonitas. O que gosto nela é que é uma menina simpática. Tem uma personalidade forte, gosta das coisas à sua maneira, é irrequieta, mas é doce e educada. É uma menina educada. Isto deve-se à minha cunhada e ao meu irmão, certamente. Quando as coisas saem mal toda a gente aponta o dedo. Mas eu não me quero esquecer do que senti este Natal e por isso deixo este registo. A miúda está a sair bem porque os pais estão a fazer um bom trabalho. São bons pais. Amam muito e disciplinam, sem anular a filha. Um equilíbrio nem sempre fácil de conseguir, mas estão a fazê-lo. Thumbs up!