segunda-feira, março 09, 2009

Continuo a gostar disto...

Separo-me de ti nos solstícios de verão,
diante da mesa do juiz supremo dos amantes.
Para que os juízes me possam julgar,
conhecerão primeiro o amor desonesto infinito
feito de marés ambulantes de espinhos nas pálpebras
onde as ruas são os pontos únicos do furor erótico
e onde todos os pontos únicos do amor
são ruas estreitíssimas velocíssimas
que se percorrem como um fio de prumo sem oscilação.
Ontem antes de ontem antes de amanhã antes de hoje
antes deste número-tempo deste número-espaço
uma boca feita de lábios alheios beijou.
Precipício aberto: ele nada revela que tu já não saibas.
Porque este contágio de precipícios
foste tu que mo comunicaste
maléfico como um pássaro sem bico.
Num silêncio breve vestiu-se a cidade.
Muito bom-dia querido moribundo.
Sozinho declaraste a terceira grande paz mundial
quando abrindo os olhos me deste de comer cronometricamente
às mil e tantas horas da manhã de hoje.
Deito-me cedo contigo o meu sono é leve para a liberdade
acordas-me só de pensares nela.
As casas e os bichos apoiam-se em ti.
Não fujas não te mexas: vou fixar-te para sempre nessa posição.
Que há? Abrem-se fendas no ar que respiro
vejo-lhe o fundo. Tens os olhos vasados.
Qual de nós os dois "quero-Te" gritou?

Dificil Poema de Amor - Luíza Neto Jorge (excerto editado)

1 comentário:

Anónimo disse...

Não conhecia. Muito bonito mesmo...