quinta-feira, outubro 15, 2009

Em que raio de mundo vivemos nós?

Em França, um emigrante português de 62 anos foi encontrado morto em casa... 2 anos depois. Já estava mumificado sentado no cadeirão onde morreu. A renda era paga por transferência bancária e a electricidade tinha sido cortada. No frigorífico estavam iogurtes com a data de 2007 que ajudaram a indicar a data do óbito. Os vizinhos dizem não ter dado por nada, uma vez que ele era um homem discreto que falava pouco e ouvia mal. A família diz que não sabia dele há anos, a funcionária da gestão do condomínio disse apenas «Nunca demos por nada nem desconfiámos de nada. O senhor era um homem muito discreto. As rendas foram sempre pagas. A nossa preocupação é mais com aqueles que não pagam a renda...».
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A luz tinha sido cortada há quase dois anos, a caixa de correio estava cheia de correspondência e outros, mas os carteiros continuavam a depositar mais e mais. Não consigo deixar de pensar que existem pessoas a viver totalmente isoladas e não consigo deixar de pensar que vivemos demasiado rápido e sem olhar para o lado. Esta história lemboru-me uma outra de quando era miúdo, em Lisboa uma idosa esteve três dias morta à janela. Demorou 3 dias para alguém dar por isso.
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notícia aqui

4 comentários:

Anónimo disse...

Li também também esta noticia à pouco e fiquei chocada, sim chocada! Que vivemos numa sociedade em que somos mais 1, e que podemos ser invisiveis já eu sabia. Mas dai a sermos invisiveis para a nossa familia, sim porque este senhor era emigrante em França e tem uma filha em Portugal, que nunca sequer procurou por este senhor. Como é possivel morrer alguém na solidão e na invisibilidade desta forma?? Há alguns anos aconteceu um caso como este, mas num escritório, um funcionário esteve morto na própria secretária 2 dias, ninguem reparou em nada durante 2 dias!! num open space!
Assusta-me estas situações! Parece que só nos tornamos visiveis se não cumprirmos as regras do jogo! Se ele não tivesse pago a renda, já tinha sido despehjado e já tinham visto o corpo há mais tempo.
Isto relembra-me um medo que tenho: morrer na solidão.

Beijinhos

AR

Ruy A... disse...

Essa idosa foram três dias, agora 2anos?! :o omg

desenhos disse...

Neste mundo, onde também há pessoas como tu, que reparam. E isso é um mundo com esperança, um mundo onde podemos acreditar. Eu sei que há mais pessoas como tu, eu acredito e eu esforço-me por estar atento, por estar seguro de quando agir e o que fazer. Embora seja um esforço medíocre, muitas vezes.
Hoje desculpo-me com a idade... mas algum dia terei de me confrontar, ainda assim, uma batalha de cada vez! :)

Provocação 'aka' Menina Ção disse...

É horrível não é? Mas atenção que há pessoas que se entregam à solidão, que precisam e gostam de estar sós. Isso não é errado nem tem de ser visto como trágico, o que é dramático é, quanto a mim, ninguém se ter movimentado no sentido de pensar "já chega, é de facto estranho que aquela casa pareça desabitada ainda que a renda esteja paga pq até o correio se acumula. Vamos bater à porta e se ninguém abrir, vamos arrombar a porta." Isso é que acho estranho. Mas acho que já tinha havido uma participação aos bombeiros por causa do odor e eles não fizeram nada. É a questão da privacidade, havia muito que analisar nesse campo.