Tenho quase 48 anos e sou um menino da mamã. Sei que esta expressão é originalmente utilizada para designar alguém muito mimado, mas apesar de não corresponder à realidade, utilizo-a. A minha mãe mimou-nos muito, a mim e ao meu irmão, mas com tough love. Sempre a verdade na ponta do lábios, um afago se merecêssemos um afago e uma descompustura (ou uma palmada) se merecêssemos uma descompustura.
Tem sido uma mãe extraordinária (tal como foi enquanto filha e esposa). A minha mãe de metro e meio deu-nos o lar mais perfeito em que poderíamos ter crescido, um sítio onde ela continua e onde eu posso ir quando nada parece surtir efeito para esbater as agruras da vida.
O amor da minha mãe é real. Fala-se muito sobre os pais amarem os filhos, mas ela parece que tirou um PhD em amor. É uma coisa que a minha mãe sabe fazer bem. Teve de reinventar-se e reprogramar-se para lidar com um filho gótico e com outro gay. Para alguém da sua geração, de classe operária e com imensa fé católica, é um feito extraordinário. Se os filhos não podem ser felizes da maneira que ela imaginou, que sejam felizes à sua própria maneira (desde que não magoem ninguém e sejam honestos).
A minha mãe vai fazer 80 anos, o que me faz admirar mais a sua incondicionalidade no amor pelos filhos, e tudo aquilo que está sempre disposta a fazer por nós - mesmo que fora da sua zona de conforto. A mística do amor da minha mãe é tão forte, que me basta ir a casa dela e ficar-lhe deitado no colo com a cabeça virada para a barriga dela. Nem precisamos falar. Ela pode ficar a ver os seus programas de TV e faz-me apenas umas festas na cabeça. Parece que limpa tudo.
A lucidez diz-me que, com quase 80 anos, ela andará por cá mais uns 15 anos. O que me faz querer estar sempre por perto, ajudar no que for preciso, encher o tempo que lhe resta com experiências entusiasmantes (para ela) e memórias bonitas (para mim). Este verão a minha mãe gostava de ir ou a Copenhaga ou a Budapeste (enquanto as pernas a deixam andar bem). Vamos sim senhor, e tudo o que eu puder fazer para fazê-la sentir-se amada e viva. É neste sentido que sou um menino da mamã.
Há uns meses a minha mãe disse "se o teu pai pudesse ver como os filhos são meus amigos ia ficar muito feliz". Sim, o meu irmão também é um menino da mamã. E os dois, cada um à sua maneira, retribuímos tudo o que recebemos dela. E no tudo que dermos, ainda vamos ficar em dívida.
6 comentários:
O orgulho dos pais é verem o resultado da educação nos filhos
Deixo te um abraço
A minha mãe gostava que eu fosse um bocadinho mais contido, mas está feliz com o resultado :D
Budapeste vale a pena. Nós gostámos. :)
É bem bonita sim. E com tamanho bom para um passeio não muito esgotante.
Tens toda a razão estar presente sempre que podes. Porque temos de ser racionais e perceber a finitude da vida. E se sabemos isso, porque não valorizamos mais? Não sei, mas por vezes parece que andamos parvos, sem tempo para nada, até o dia que nos recriminamos por não ter estado mais presentes.
Tens uma bonita relação com a tua mãe, e isso é de louvar.
@lobo:não me arrependo de cada minuto, é um gosto.
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