sexta-feira, fevereiro 25, 2022

Sou um menino da mamã

Tenho quase 48 anos e sou um menino da mamã. Sei que esta expressão é originalmente utilizada para designar alguém muito mimado, mas apesar de não corresponder à realidade, utilizo-a. A minha mãe mimou-nos muito, a mim e ao meu irmão, mas com tough love. Sempre a verdade na ponta do lábios, um afago se merecêssemos um afago e uma descompustura (ou uma palmada) se merecêssemos uma descompustura. 

Tem sido uma mãe extraordinária (tal como foi enquanto filha e esposa). A minha mãe de metro e meio deu-nos o lar mais perfeito em que poderíamos ter crescido, um sítio onde ela continua e onde eu posso ir quando nada parece surtir efeito para esbater as agruras da vida. 

O amor da minha mãe é real. Fala-se muito sobre os pais amarem os filhos, mas ela parece que tirou um PhD em amor. É uma coisa que a minha mãe sabe fazer bem. Teve de reinventar-se e reprogramar-se para lidar com um filho gótico e com outro gay. Para alguém da sua geração, de classe operária e com imensa fé católica, é um feito extraordinário. Se os filhos não podem ser felizes da maneira que ela imaginou, que sejam felizes à sua própria maneira (desde que não magoem ninguém e sejam honestos). 

A minha mãe vai fazer 80 anos, o que me faz admirar mais a sua incondicionalidade no amor pelos filhos, e tudo aquilo que está sempre disposta a fazer por nós - mesmo que fora da sua zona de conforto. A mística do amor da minha mãe é tão forte, que me basta ir a casa dela e ficar-lhe deitado no colo com a cabeça virada para a barriga dela. Nem precisamos falar. Ela pode ficar a ver os seus programas de TV e faz-me apenas umas festas na cabeça. Parece que limpa tudo.

A lucidez diz-me que, com quase 80 anos, ela andará por cá mais uns 15 anos. O que me faz querer estar sempre por perto, ajudar no que for preciso, encher o tempo que lhe resta com experiências entusiasmantes (para ela) e memórias bonitas (para mim). Este verão a minha mãe gostava de ir ou a Copenhaga ou a Budapeste (enquanto as pernas a deixam andar bem). Vamos sim senhor, e tudo o que eu puder fazer para fazê-la sentir-se amada e viva. É neste sentido que sou um menino da mamã. 

Há uns meses a minha mãe disse "se o teu pai pudesse ver como os filhos são meus amigos ia ficar muito feliz". Sim, o meu irmão também é um menino da mamã. E os dois, cada um à sua maneira, retribuímos tudo o que recebemos dela. E no tudo que dermos, ainda vamos ficar em dívida.

6 comentários:

Francisco disse...

O orgulho dos pais é verem o resultado da educação nos filhos

Deixo te um abraço

silvestre disse...

A minha mãe gostava que eu fosse um bocadinho mais contido, mas está feliz com o resultado :D

Mark disse...

Budapeste vale a pena. Nós gostámos. :)

silvestre disse...

É bem bonita sim. E com tamanho bom para um passeio não muito esgotante.

Lobo disse...

Tens toda a razão estar presente sempre que podes. Porque temos de ser racionais e perceber a finitude da vida. E se sabemos isso, porque não valorizamos mais? Não sei, mas por vezes parece que andamos parvos, sem tempo para nada, até o dia que nos recriminamos por não ter estado mais presentes.

Tens uma bonita relação com a tua mãe, e isso é de louvar.

silvestre disse...

@lobo:não me arrependo de cada minuto, é um gosto.