Foi um leitor casual do Silvestre que me falou deste livro - não sei se por ter sentido que eu andava, também, à procura de respostas para o sentido da vida. Falou-me do Larry Darrel e eu fui à procura. Encontrei o romance do Somerset Maugham, autor que eu apenas conhecia de nome e eu decidi ler quando tivesse liberdade dos afazeres académicos. Acabei hoje, dia de Natal, parece que tudo se conjuga com a data.
Antes de falar da história em si, tenho a dizer que gostei muito do estilo da prosa, a sagacidade do autor traduz-se na forma como narra e nos innuendos que utiliza, tornando cada página numa lição de "profiling" e rigor descritivo.
O livro em si é, na minha opinião, um tratado sobre a natureza humana em o personagem Larry Darrel (que representa a espiritualidade e o desejo pela transcendência por oposição ao restantes personagens que representam o desejos e vontades dos seres humanos "não abnegados") entra numa crise existencial e procura a razão da existência por via do conhecimento e do despojamento, o que é contrastante com a visão teleológica dos restantes personagens cujas ações todas têm um propósito em mente. Larry é o estereótipo da pureza e da liberdade (quase entendida como loucura) e depois temos os restantes personagens que são quase todos anti-heróis. A malícia e a manipulação são ensinadas na sociedade (o que até me fez pensar no bom selvagem de Rosseau") e as personagens, que não o Larry, agem todas em benefício próprio impulsionados pela sua noção do que é valorizável.
O livro acaba de uma forma muito inteligente, defendo a tese *spoiler* de que todos os personagens são vitoriosos no final. Contas feitas é desanimador pensar que o nosso mundo é mais povoado pelo tipo "Isabel" do que pelo tipo "Larry ", mas pessoas como o Larry existem para despertar as consciências de quem está preparado, sem se importarem com visibilidade ou dinheiro ou fama. A sua vibração é mais bem mais alta que a do regular cidadão e couldn't care less sobre o que pensa o regular cidadão.
18/20
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