terça-feira, abril 09, 2013

Ter um propósito

- Qual é o teu propósito?
Ele riu-se
- A sério, qual é o teu propósito.  O que é que te faz querer sair de casa pela manhã e aguentar o trabalho e as merdas todas que somos obrigados a aguentar.
Ele sentiu-se atrapalhado. Percebeu que perdeu o propósito.
- Neste momento ler. Ler é o que me aguenta, ando sempre com um livro atrás para todos os momentos em que não estou no trabalho ou a fazer o que seja. E actividades criativas, tudo o que me permite meter na bolha e sair daqui, alhear-me.
- Ouviste o que disseste? «Alhear-me»... é melhor do que estar deprimido, mas é estar fora do mundo pá, sem raízes. Tu tens de te realizar aqui com os pés no chão. Fazer as tuas cenas, mas estar sempre na tua fisicalidade.
Ele só pensou «Foda-se. Outra vez um ciclo vicioso do qual nunca fujo. Tenho de acordar para a vida. Não estou infeliz porque estou apático e porque fujo. Passo a vida a fugir.»
- Tens razão. Temos de encontrar uma maneira de eu sair disto.
Concordou com ela mas rangeu os dentes de raiva. Queria tanto que ela tivesse errada. Sentia-se medíocre. Depois lembrou-se do sol. A luz do dia fá-lo feliz, ver chegar so fim-de-semana para ver o mar, para estar perto da água. Nem a família o faz feliz assim. A vida está no planeta vivo. Não em si. E ele quer todos os dias procurar esses milagres da vida natural. Nada mais o motiva.
- Andas desmotivado porque não tens nada em ti. Estás vazio. Deixas-te esvaziar pelas coisas que não gostas, em particular pelo trabalho.O trabalho arrasa contigo contamina a tua vida toda. Há uma parte que está a teu favor e outra que está contra. Tens de te concentrar na que está a teu favor. Gostes ou não gostes não podes é ir embora. Deixar de viver o teu corpo e o teu mundo para olhares para tudo o que está fora da tua vida e que te parece bom simplesmente porque não faz parte da vida que não suportas. tens muito trabalho de casa desta vez. Reencontra o teu propósito.
- Sim...

4 comentários:

AM disse...

Soa-me a bué autobiográfico.
E soa-me a bué familiar.
Com exceção do excesso de trabalho que parece consumir-te a cada entrelinha que, cá fora, respiras.

m. disse...

é um dos teus contos?

silvestre disse...

@alex: é um bocado um problema de todos creio

silvestre disse...

@margarida: é apenas uma conversa. Os contos não os tenho mostrado. Só os do Pixel. Hoje consegui "parir" mais um :)