Gostava de prestar uma homenagem ao meu pai. Porquê? Porque os últimos dois filmes que vi foram sobre homens que não se conformaram com a falta de liberdade em que o nosso país viveu até Abril de 1974. O meu pai foi também foi um desses homens que atacou o Estado Novo de Salazar. Não era comunista, mas não aceitava que não se vivesse em liberdade. Foi um dos "subversivos" que participou no ataque ao Quartel de Beja no 1 de Janeiro de 1962. Depois disso esteve preso quase 4 anos. Nunca vi o meu pai tão bonito como nas fotagrafias de identificação que lhe tiraram na prisão de Caxias, nunca o vi tão humano, tão vulnerável e seguro ao mesmo tempo.
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Entre torturas e privações, achou que podia maximizar a sua experiência e aprender com os companheiros de cela que sabiam mais do que ele, que tinham licenciaturas, que já tinham viajado. Sempre foi um grande "economista" apesar de ter só a 4ª classe tirada à noite com 19 anos e foi essa característica, aliada a uma enorme capacidade de trabalho, que o fez cumprir todos os seus objectivos de vida.
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Às vezes pergunto-me se foi dele que herdei esta minha incapacidade de me conformar com injustiças e de me juntar ao "rebanho". Não sei. O que sei é que tenho um enorme orgulho nele. Ele era dessa raça de homens que o tempo ou as circunstâncias já não fazem.
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6 comentários:
Não não não. Fazem sim! Eu não sou de partido nenhum mas o bloco é um bom exemplo, são jovens, activistas e dinâmicos. São uma mostra de que ainda há quem não se conforme, e com a crise q já existia mas que parece agora agravar-se parece-me q o número de conformados tende a diminuir. Mas como dizia no outro comentário: não é fácil decidir quando nenhum dos caminhos é mais certo que o outro, com isto quero dizer que não podemos todos encarnar D. Quixote, pois se não o mundo não pula nem avança.
E é claro, um grande Bem Haja ao s/teu pai! ;]
Uma coisa é encarnar o D. Quixote, outra coisa é ser o D. Quixote. Quanto ao Bloco, bem, eu até voto Bloco, porque é o melhor no panorama português... mas depois de ter crescido um bocado, também me começou a desiludir um pouco.
Quanto aos homens da craveira dos que falei nos últimos 3 posts. Já não se fazem. Não sei como explicar isto. Não quer dizer que já não existem valores ou pessoas de coragem, mas o tempo evoluiu... Mesmo os homens à frente do seu tempo são homens do seu tempo.
Confesso que fiquei sensibilizada pela forma como falas do teu pai.
AR
:-)
O teu pai...Lembro-me dele como se ainda estivesse com ele este Verão. Ao ler o que escreveste tive, de imediato, a imagem mental que tenho do teu pai: de calções, a entrar na tua roulotte e a dizer-me: "Olá!" com um sorriso matreiro que na altura não percebi. Apesar de me virem as lágrimas aos olhos, veio-me também um sorriso aos lábios. Continua a lembrá-lo, pois precisamos de ouvir que não podemos cruzar os braços, mesmo que os recursos sejam escassos.
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