segunda-feira, novembro 28, 2022

Isabel a Guerreira

Hoje foi o aniversário da Isabel - 57 anos. Como combinado lá fomos os colegas com balões e estava lá a família e amigos ainda com mais balões e um pudim de aniversário que ela adora. Conheci o irmão da Isabel que me disse que ontem ela quase tinha morrido. Que apagou e que depois de estar a oxigénio lá voltou, mas como se alguma coisa tivesse ficado para trás. Para ele é muito duro o que se está a passar e a ideia de saber que hoje era o último aniversário da irmã. Fiquei também a saber que a Isabel sabe que tem um cancro terminal.

Hoje ela estava um pouco mais apática, a conseguir falar menos. Talvez por isso as pessoas estivessem um pouco mais tristes e a tratá-la mais como "doente". Achei que faltava música, estava um ambiente um pouco taciturno, e disse "Isabel, falta aqui uma musiquinha, hoje é dia de festa!" Uma colega nossa disse-me que o que ela gostaria era de estar no B'Leza a dançar uma kizomba. Eu agarrei no telemóvel e meti "Bo tem Mel" a tocar.  A Isabel começou a mexer os lábios sem que se percebesse o que era. Com a mão que ainda funciona a tentar empurrar a mesa de apoio à frente dela. A cunhada perguntou se ela queria fazer xixi, se queria algo, e queria sim... queria dançar.

Disse-lhe "Isabel se queres dançar não tenhas medo que eu agarro-te, não te deixo cair". Meti-a de pé, agarrei-a com um braço pela cintura e com a minha mão, a outra mão dela que não funciona bem. E ela dançou um bocadinho movendo a anca e os ombros e trauteando a música fazendo boquinhas. Até o cansaço a ter vencido de novo.

Tenho a certeza de que enquanto viver não vou esquecer este dia. Estive sempre sorridente e bem-disposto, mas quando sai do quarto para me vir embora, fartei-me de chorar. A Isabel não desiste. Outra pessoa estaria a deixar-se morrer, a Isabel está a tirar o máximo de cada sopro de vida que ainda lhe resta. Que lição. Só penso literalmente: Foda-se Isabel, que guerreira! Tomara um dia conseguir ser como tu. Que privilégio poder aprender contigo. 


quinta-feira, novembro 24, 2022

Paz

 Só quero paz.

Carma?

Há muitos anos atrás uma pessoa que eu idolatrava fez-me muito mal. O nível da maldade, é inenarrável. Agosto de 2000 mudou-me e ficou para sempre marcado em mim. Lembro-me de desejar que ela recolhesse as consequências de toda a sua maldade gratuita. Soube hoje que teve uma filha deficiente e que a sua vida é bastante infeliz por isso. Não fiquei contente. Acho que no fundo gostaria, apenas, que as pessoas tivessem descoberto a má pessoa que ela era na realidade. Só isso. Tenho pena pela menina, que hoje já será uma adolescente, e até fiquei com pena da mãe. Não consegui deixar de pensar se teria sido o carma. 

Contraproposta

Tenho estado a detestar o meu trabalho, mais do que alguma vez detestei os anteriores. Ao fim de 45 dias decidi ir embora. Hoje a Vice-Presidente soube que eu queria sair e quis perceber porquê, quando eu expliquei tudo fez uma contraproposta - colocar-me a trabalhar com ela acima das minhas atuais chefias e reformular todo o serviço. Fiquei abananado. Já tinha decidido voltar ao lugar onde sou quadro, porque ali (e ainda mais devido à história da Isabel) sei que somos uma família, há amigos a sério. E com tanta confusão na minha vida neste momento, acho que não tenho energia para comprar a luta de renovar o equivalente a uma direção-geral e mudar a cultura organizacional da instituição onde estou. Preciso de sossego. Acho que vou dizer que não. 

Fui visitar a Isabel

Fui hoje visitar a Isabel. Seria o que ela teria feito. Não foi tão mau como eu pensei, foi aliás muito bom. Quando me viu entrar a porta ficou extremamente feliz, não estava minimamente à espera que eu aparecesse ali (não trabalhamos juntos desde março de 2020). Ela estava bonita, bem tratada, apesar de não ter as suas pestanas postiças e a sua maquilhagem do costume. Não consegue falar mais do que algumas palavras e percebe-se a sua frustração por não conseguir dizer uma frase que nitidamente tem na cabeça, mas que não sai pelos lábios. 

Mostrei-lhe fotos minhas em tronco nu (para manter a tradição) e disse que lhe ia arranjar mais cartões, porque os que as enfermeiras deixaram não estavam completos ia levar-lhe: "pindéric@", "malvad@" e o famoso " TAU!". Ela riu-se bastante, não esteve muito desorientada. A colega que foi comigo - e a tinha visitado na segunda-feira - disse que nesse dia a coisa estava mesmo agreste, mas que hoje havia um salto na disposição. 

A colega que foi comigo, e que eu não conhecia bem em privado, disse que estava a pensar organizar uma surpresa de aniversário no domingo (se a minha irmã fosse viva fazia anos no sábado), vamos levar balões com pilas, adereços de princesa, muita coisa cor-de-rosa e purpurinas. Espero que seja outra boa recordação que fica. E vamos ver, tumores no cérebro são erráticos, há falsas melhoras, piora-se, e anda-se neste loop por meses. Enquanto houver vida, marcho para o hospital. Hoje fui importante ali, se posso trazer conforto e alegria, é ali que quero estar. 

Ps. Outra surpresa foi a colega que foi comigo. É uma pessoa extraordinária e eu não sabia. Como as vidas podem ser parvas, com a pandemia (e por estar noutro departamento) ela nem percebeu que eu já não trabalhava com elas. Não importa o que se passou antes, o dia acabou em beleza. 

terça-feira, novembro 22, 2022

A Colega Tiazorra Porreiraça

A Colega Tiazorra Porreiraça (de quem tanto aqui falei no blogue) tem um nome, chama-se Isabel. É uma das pessoas mais vibrantes que já conheci. Viveu a vida como quis sempre rebelde, afetuosa com os que gostava, educada com os cordiais e mordaz e acutilante contra os impossíveis/imbecis.

Custa-me muito que esteja a acabar a sua "ride" espetacular aqui neste lado da vida. Ontem deu entrada no hospital e está nos paliativos, fortemente sedada, com cancro em fase terminal. Gostava muito de ir vê-la, mas estou desfeito e não sei se um choramingas não lhe iria fazer pior nestes últimos momentos.

Estou a escrever este texto porque não quero esquecer-me dela e das particularidades dela, a maravilhosa loira vistosa, que só vestia azul, vermelho, rosa, branco e preto, com saltos impossivelmente altos, calças justas, casacos de cabedal. Benfiquista do mais ferrenho que há. Voz e trato de "tia", mas depois 13 piercings nas orelhas. Era assim como uma Britney Spears Hard Rock. 

Aqueles 2 maços por dia que fumava não caíram bem à saúde, mas viveu como quis. Vai embora ainda nos cinquentas, mas a sua vida foi uma celebração e será celebrada por isso também. Ninguém lhe era indiferente e quando ela gostava de nós fazia-nos sentir, o que era muito bom. No início de me conhecer olhou para mim com alguma desconfiança, observando-me à distância até que me incluiu no grupo dos seus afetos. 

Gostava do facto de eu ser um rapaz sem papas na língua profissionalmente (como ela), e eu fazia-a rir com as minhas piadas secas ou politicamente incorretas e adorava as minhas fotos em tronco nu. Foi muito bom ter sido colega da Isabel e não me vou esquecer daquele dínamo de energia e positividade. O melhor que poderei fazer para celebrá-la é viver a minha vida à altura desta Rock Star. Isabel, gosto tanto, mas tanto de ti. 

Para não me esquecer de tudo o que dizia fui registando e vai ser sempre bom recordar.

«Tiazorra: Já sei que o colega é um moderno, mas quando colar arte na parede, lembre-se que eu sou clássica e tenho de olhar para a sua parede o dia todo. Perdoo-o porque o quadro do Michael Jackson faz-me rir».

«Tiazorra: Você sem barba ninguém lhe dá mais que trinta anos. Mas falta-lhe qualquer coisa. Não fique mais novo senão deixo de gostar de si».

«Tiazorra: Ó colega. Conte lá mais das suas piadas secas que me farto de rir. Você é mau».

«Tiazorra: Olhe, ontem contei na reunião do Jójó aquilo que me ensinou da borboleta sexual. Ninguém sabia o que era. Fiz um brilharete».

«Tiazorra: Tem de vir comer connosco, mas não se esqueça que este lugar é meu. Se alguém se senta aqui fico mais irritada do que quando me chamam Belinha. Vai logo corrido».

«Silvestre: Hoje vem vestida para matar, isso é que é dar nas vistas. 
Tiazorra: Claro, é sexta-feira e vou para a farra. Tenho muito tempo para ser discreta quando estiver morta.»

«Colega sensível: Está triste hoje?
Tiazorra: Ó querida deve estar a ver mal. Não há tristeza na minha vida... vá, talvez nos 10 minutos a seguir a uma derrota do Benfica. Mas só durante 10 minutos, percebeu?»

«Silvestre: O Donald Trump é abjecto.
Tiazorra: O menino nem me diga, aquele homem é uma esfera. Não tem ponta por onde se lhe pegue.»

«Tiazorra: O que é isto? Não acredito, esta sala está espetacular. Isto foi uma conspiração dos meninos contra mim. No meu tempo não era nada disto. Estou morta de inveja. Pareço um carapau com três dias de feira já a ficar podre».

«Tiazorra: Olá colega está bom?
Silvestre: Olá, eu estou bem e você?
Tiazorra: Eu estou sempre maravilhosa. Não tenho culpa de ter uma autoestima fantástica, não é?»

«Tiazorra: Ó colega, quero que saiba que o menino está no meu top três dos homens mais estilosos da nossa instituição. É o PC super fashion, o RV super clássico e o menino assim entre o giraço e o bruto.»

«Tiazorra: Ó colega, estou a ter um dia péssimo, mostre-me lá umas daquelas fotografias suas em tronco nu para ver se me fico a sentir melhor.»

«Tiazorra: Vi-me agora ao espelho estou cheia de má vida à volta dos olhos.  Quem pensar que é rugas está muito enganado. São muitas bebedeiras, muitos cigarros e muitas noites mal dormidas.»

«Tiazorra: O menino quer ser transferido porque não o deixam ser eficiente? O menino é um idealista. Eu pedi muitas vezes transferência de serviço, mas só porque me davam mais dinheiro. Eu cá sou como as putas, vou sempre com quem dá mais.»

«Tiazorra: Ó colega já viu, estive de férias 3 semanas na praia e venho branca. Passava as noites todas na borga e a lua não bronzeia, não é. Sou mesmo galdéria. 

«Tiazorra: Estou super infeliz. Aproveitei o domingo para apanhar sol e deixei um anel posto no dedo e fiquei com a marca. Agora parece que sou casada e que tirei a aliança. Vou mandar uma imagem errada aos homens. Vão pensar que não sou solteira. Tenho de meter base.»

«Tiazorra: Ai...morri. O seu namorado é tão giro, adorei vê-lo ao vivo. É bom que o colega continue a fazer muito ginásio para não perder aquilo. A minha vontade era despir-me toda (sim porque o corpinho ainda não caiu), mas como sei que não ia adiantar fiquei vestida»

Adoro esta canção. Absolutamente maravilhosa


Flying :)) - Tom Odell

quarta-feira, novembro 16, 2022

Escreveu o Luís Osório sobre a Dina Aguiar (gostei bastante de ler)

POSTAL DO DIA

O casamento de Dina Aguiar com um homem mais novo é uma notícia importante

1.
Dina Aguiar é jornalista na RTP desde que me lembro de existir.

Quando comecei no jornalismo, há cerca de 30 anos, já apresentava telejornais há mais de dez. Fez parte da célebre equipa do Jornal 2, com António Mega Ferreira e Miguel Sousa Tavares. Aprendemos a vê-la. E a respeitá-la como alguém que faz parte da família.

É engraçado que a Dina nunca foi uma estrela, nunca ganhou mundos e fundos, nunca foi amada pelo povo, nunca estraçalhou audiências. Porém, sempre existiu e sempre foi fiável como alguém que nos lembramos que existe mesmo quando não a vemos há muito tempo.

2.
Talvez algumas pessoas achem que é negativo o que digo. Acho precisamente o contrário.

As estrelas por quem nos apaixonamos têm, com exceções, vidas muito mais curtas. Por tanto as termos “amado”, por tanto as termos seguido, chega uma altura em que nos cansamos com igual intensidade.

Com a Dina Aguiar foi sempre uma relação calma. Certamente que teve e tem muitos seguidores, muita gente que dela gostava ou gosta, mas sem excessos, sem o stress doentio da audiência, sem fogachos ou fogo de artifício.

Também por isso se mantém. Aos 69 anos mantém-se entre os pivots da RTP. Correndo até o risco de exagero, há momentos em que a Dina Aguiar é a prova viva de que a RTP ainda faz serviço público.

3.
Dina anunciou nos últimos dias que vai voltar a casar com o médico que tratou do seu pai e que o acompanhou até ao seu último dia. E foi aí, nessa viagem que terminou como todas as viagens, que Dina o reconheceu. Como se já o conhecesse de sempre.

4.
Não é uma notícia mais importante do que muitas que aqui hoje poderia trazer.

Não é decisiva para o curso da guerra no coração da Europa.

Não ajuda a explicar o funcionamento do Partido Comunista na escolha do novo secretário-geral.

Ou a ignóbil escolha do Qatar para sede do próximo mundial.

5.
Mas é, ainda assim, uma notícia importante. Porque Dina Aguiar tem 69 anos e não desistiu de se iludir com a vida.

De se abandonar à ideia que tem mais passado do que futuro. Não desistiu por já ter o vivido o suficiente, por já ter sofrido o suficiente, por sentir que o tempo fez o seu caminho.

É admirável que se mantenha acordada. Viva. Com mais esperança do que medo. Com vontade de ir a jogo, com vontade de o fazer até ao último sopro da sua vida. Que extraordinário exemplo nos dá. A todos.

6.
E a todas as mulheres para quem o recomeço parece sempre ser mais difícil. Para quem voltar a acreditar parece ser coisa impossível a partir de determinada altura – por não parecer bem, por não parecer próprio, por isto e aquilo.

E que maravilha ele ser mais novo. Dez anos mais novo. Mais um preconceito derrubado, mais uma pedra do muro da vergonha da discriminação.

Por isso, não me digam que a notícia não é importante. Diria até que é a notícia mais importante que a Dina Aguiar nos deu. A que dela ficará para a história.

A partir de hoje, quando a pensar, será a mulher que não desistiu de uma ideia de felicidade até ao último dia da sua vida.

Não é coisa pouca.

terça-feira, novembro 15, 2022

O mundo tem 8 biliões de habitantes

Este marco histórico é terrível. E percebi que ainda devo ser vivo quando chegarmos aos 10 biliões. Mas pronto, a Terra vai sobreviver a uma nova extinção em massa (a primeira provocada por uma das suas formas de vida).

segunda-feira, novembro 14, 2022

Contas feitas

Há umas semanas coloquei-me a considerar os aspetos positivos na minha vida. Deu amigos/família, saúde e finanças. Pois a saúde está oficialmente fora, os problemas de coração voltaram. Fiquei a saber que tenho um coração maior do que o normal. Parece que corações grandes, medicamente, não são bons. Já em termos sociais e emocionais sim. 

quinta-feira, novembro 10, 2022

Desenterrar os anos 80 - 26


What about love? - Heart

Mais sobre amor

 «O amor é como o corta-unhas, nunca está onde a gente pensa».

segunda-feira, novembro 07, 2022

«O amor não sabe matemática!»

Esta foi a resposta dada por Cher aos 'Velhos do Restelo' que a estão a criticar por ter assumido um romance com um homem 40 anos mais novo. Em vez do vitríolo, penso sempre porque não podem a maioria das pessoas ficar feliz por outras pessoas (sobre a vida das quais não temos nada a ver) que estão felizes sem prejudicar ninguém. O mundo não aprende e está pior. Há muita azia e acidez desnecessárias.

PS. Eu fiquei contente. Fico sempre quando sei que as pessoas ainda estão vivas em plena 3ª idade, seja a Cher ou o Sr. X que se apaixonou pela Sra. Y num Lar de Idosos em Fornos de Algodres ou outro qualquer lugar esquecido. 

As relações de amor são uma coisa estranha

As relações de amor são uma coisa estranha - pelo menos para mim. Ando nisto há 28 anos e continuo sem perceber nada da dinâmica, da orgânica e da lógica. Diz que sentir é suficiente, mas é mais de o "diz que".

Obras de Santa Engrácia

As obras na minha casa continuam a derrapar e eu vejo-me a viver na margem sul em casa da mãe, a ter o gato em casa do irmão e as minhas coisas plantadas um pouco por todo o lado. É uma caca. Mas do que eu tenho mesmo saudade é do gato ao pé de mim.

As pequenas/médias cidades

A semana que passou estive de férias em Saragoça e depois dei um saltinho a Madrid, mas é sobre a primeira que me debruço. A capital de Aragão e do extinto Reino de Aragão é uma pequena surpresa cheia de história desde os tempos da República Romana - onde se converteu no mais importante porto da península. Ali nasceu a Rainha Santa Isabel e o homem (Fernando II de Aragão) que criou - debaixo da égide do catolicismo - o Reino de Espanha. Para além dos monumentos, ruínas e cultura, a cidade revela ainda uma coisa pouco comum em Espanha, o gosto pela pastelaria e doces. Há muitas lojas de doces e pastelarias por lá. A quem for aconselho vivamente a provar um prato, este salgado, que se chama Modejas, e que consiste em intestino de cordeiro. É delicioso. 

Depois disto já começo a planear uma visita a Toledo, que foi capital espanhola, até Filipe II mudar as cortes para Madrid em 1561. E outras se seguirão...