Não sei muito bem o que dizer desta série. Ver a Julianne Moore é sempre um prazer e uma lição sobre como ser bom ator. A série é bastante terra-a-terra, mas sugere através da cenografia intencional uma (quase) realidade paralela e uma espécie de ambiente onírico/mitológico que nos impele a pensar que estamos a ver mais do que realmente estamos a ver. Creio ser nesse jogo de perceções que se joga com o "canto da sereia". O espectador é hipnotizado e levado a crer em aspetos que são apenas uma manipulação. Ficamos a perguntar-nos se a realidade é real. No final a resposta é muito simples, e ficamos (ou eu fiquei) com uma sensação de ter sido um pouco tolo e de ter sido "manipulado". Não sendo o que esperava, achei este jogo de manipulação muito interessante e as personagens bastante relevantes em toda a encenação psicológica.
Está muito bem construído para brincar connosco, porém gostava de algo mais sumarento no final. Não obstante, creio que o que nos querem dizer é que a realidade é assim de seca e crua. Aconselho a ver.
15/20
1 comentário:
Para mim, que também acabei de ver a série de uma golfada na semana passada, todos os personagens têm de alguma forma duas faces: o que mostram aos outros por necessidade, por motivos de manutenção de poder ou ascensão a ele, ou conveniência pela imagem que têm de mostrar ao mundo - e o seu eu verdadeiro, que está enterrado na imagem e que de vez em quando vem ao de cima. Ninguém é perfeito. Aliás, a perfeição não existe, em nenhum dos personagem, apesar de quem está na Cliff house ter tudo: a própria Devon - a personagem mais rebelde e mal comportada, promíscua, com um passado alcoólico e com cadastro, mas com as intenções humanas mais puras - a de tratar de um pai demente e de resgatar uma irmã ultra traumatizada pela morte da mãe e desprezo pelo pai para ajudá-la a tratar do pai - é uma heroína vilã. A aparente vilã (Kiki) é uma mulher aparentemente fria e com uma enorme afinidade pelo poder e influência, joga o jogos das aparências, mas também é humana e luta com os seus dramas - a perda dos seus bebés e usa mecanismos de compensação tratando de aves e canalizando sentimentos para a sua assistente, de uma forma manipuladora. Esta, por sua vez é uma outra pessoa que encarna uma personagem perfeita e tenta esquecer o passado ao qual não quer voltar - e que o regresso da irmã a relembra. Finalmente, o marido, Peter, e a troca das esposas no final. Quero acreditar (fica em aberto) que a conexão entre a nova, shiny, younger Simone e o Peter seja de facto uma conexão (mas lá está- a série acaba antes de sabermos). A duplicidade entre o que somos e o que achamos que devemos ser, a última imposta pela sociedade. A eterna procura de soluções externas para problemas internos. Há quem nunca saiba quem de facto é e se agarre com unhas e dentes ao que os outros acham que tem de ser. Mas o ser quem é continua lá dentro de nós, não importa quão enterrado por tudo o mais. O segredo é desenterrá-lo e entendê-lo.
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