terça-feira, julho 30, 2024

Primeiro fim de semana em família

Este fim de semana o Beto esteve a passar com a minha família toda na aldeia. Foi tudo muito tranquilo. ninguém se estranhou. Ele já tinha estado em almoços ou jantares com eles, mas assim dias seguidos foi a primeira vez. Ele sentiu-se muito confortável e eles também. Todos gostaram de todos. Foram uns dias felizes. 

6 comentários:

Francisco disse...

Ainda vai dar em casamento, um dia de cada vez

silvestre disse...

Tens razão Francisco. Um dia de cada vez :)

Sérgio disse...

Que bom. É uma enorme benção ter uma família que vos aceita. A minha, infelizmente, não está equipada para fazer o mesmo. 13 anos de relação (12 casados), e o meu companheiro nunca sequer a conheceu… Isto gera um sofrimento silencioso, não mata mas mói, com a distância a ser parte da solução para estarmos juntos, mas segregados. O problema não está só em países que não aceitam a homossexualidade - está tb entranhado nos que a aceitam, é geracional e cultural. Ainda bem que a tua família é diferente. 👏👏👏

silvestre disse...

Olá Sérgio, lamento mesmo muito que assim seja. A minha mãe deverá ter uma idade próxima da tua porque as nossas idades são também próximas. Quando saí do armário foi aos 26 anos (ela tinha 58 e agora tem 82). Ela não fazia ideia e ficou muito chocada, mas tentou concentrar-se no facto de eu ser filho dela e de ela saber o filho que tinha criado. Um dia ainda escreverei aquela conversa aqui no blogue. Tenho-a na mente como se fosse hoje e passaram 24 anos. A minha mãe ainda hoje não compreende a homossexualidade porque ela não consegue sentir nada por uma mulher e até lhe causa repulsa. Mas, como ela diz, ela sabe o que é o amor porque o viveu com o meu pai. Então se eu amo alguém (e alguém me ama) ela reconhece e fica feliz por mim e quer a pessoa por perto, porque isso me fará tão bem a mim como o amor do meu pai lhe fez a ela.

O meu irmão tem 56, mas foi sempre muito aberto e teve menos problemas do que eu a aceitar que eu era gay. É muito defensor dos meus direitos, por exemplo, num casamento de família alargada eu estava na dúvida se a minha prima me deixaria levar o meu parceiro e o meu irmão disse logo que se o meu parceiro não fosse, não ia ninguém da família. Mas correu tudo muito bem e fiquei a saber que a família do meu pai, gente humilde, até com menos estudos, aceitou tudo muito bem. Foram todos muito simpáticos para o meu parceiro e até convites foram feitos para depois. Já a família da minha mãe, gente maior estatuto social foi um bocado homofóbica. Até que normalizou, mas no início foi menos simpático.

A minha sobrinha desde os 5 anos que percebeu que tinha tios em vez e tias e só aos 10 é que percebeu que eu podia ser lesado por causa da orientação sexual, porque ouviu um professor a falar muito mal dos gays e chegou a casa muito aflita que eu não podia dizer que era gay porque as pessoas podiam fazer-me mal.

Então sim. Tive sempre um sistema de apoio muito bom em casa. E o que desejo a ti é que, pelo menos, tenhas encontrado um sistema de apoio alternativo, a tua família de afetos e, por outro lado, que algum dia a tua família caia em si e perceba que poderia ganhar muito por vos ter por perto e que amor é amor.

Sergio disse...

Ola Miguel, quero agradecer-te muito a resposta. Tão bom ler alguém com bom senso e equilíbrio. Pai e mãe estão com 73/75, respectivamente. Concordo contigo que, no fundo, lá mesmo no fundo, me aceitariam por ser filho deles e por ser amado verdadeiramente por outra pessoa, independentemente de ser outro homem. Mas à superfície, agarrar-se-iam a preconceitos e chantagens de todo o tipo, como resposta ao medo de serem eles próprios segregados por família alargada, vizinhos, amigos… e tb de se questionarem do porquê e da sua própria parentalidade (será que a “culpa” é nossa?). O pai anos-luz mais aberto que a mãe, que é uma católica devota… Tento imaginar como tudo poderá ser um dia se sair do armário uma vez mais… sabes, qd tinha 33, durante a minha primeira relação (uma vez mais fora de Portugal, nos EUA), saí do armário e a reação dos pais foi … pessima e traumática. Uma vez terminada essa relação, mantive-me calado. Até hoje. Calado há 13 anos e expatriado há 17 anos. Mas com um sistema de apoio muito bom, com um companheiro e amigos que me apoiam e entendem. Mas sinto que está na hora de regressar à integridade plena, and have that hard conversation once again. And who knows how’s going to pan out? Maybe I’ll be surprised. Abraço e obrigado de novo!

silvestre disse...

Força então para a descoberta!