Ontem foi a cerimónia dos Óscares. A este prémio é atribuída uma importância enorme como legitimação artística, de talento e de qualidade. Mas qual é a sua verdadeira importância? Em rigor nenhuma. Há muitos anos atrás quando tudo começou, a industria americana queria premiar-se a si mesma. E uma fantástica capacidade de produção e de auto-promoção fizeram o resto. O Óscar é o prémio mítico, porque a indústria americana em uma capacidade como nenhuma outra de se promover. Os americanos sabem como montar um espetáculo e a feira de vaidades pegou. Toda a gente queria ver as estrelas pela televisão, saber como elas eram fora dos estúdios. Era o auge do star system. Resultou.
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Os tempos mudaram. As estrelas estão à distância de um click no Google ou de um tablóide/revista qualquer. Vistas as coisas, mesmo entre pares, estes prémios americanos são um reflexo da conjuntura social americana da altura. A América está deprimida, vamos premiar o feel-good movie, a América está envergonhada? Vamos premiar o filme de contrição. A América está extasiada? Vamos premiar o filme realista.
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É apenas mais uma cerimónia de atribuição de prémios como tantas outras, mas uma cerimónia que dentro de alguns anos vai interessar apenas aos 'pares', cada vez menos às pessoas. Virá daí o derradeiro sacrifício. Vamos agradar exclusiamente às pessoas. O espetáculo televisivo rende dinheiro, emprega centenas, talvez milhares de pessoas. O espetáculo não pode parar, nem que tenha de ser apenas espetáculo, puro entretenimento. Os Óscares um destes dias poderão ser apenas isso. Alta-costura e satisfação a metro.
1 comentário:
Gostei. Tens de soltar mais vezes o sociólogo que há em ti! :P :D
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