sexta-feira, março 12, 2010

Violência contra professores

Vi hoje uma notícia sobre um professor que se suicidou porque era alvo de chacota dos alunos. Provavelmente a escola vai dizer que não sabia de nada, um inquérito vai dizer que é não há provas e morre aqui o assunto.
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Lembrei-me de dois professores da escola onde fiz o 7º, 8º e 9º anos. As escolas dos subúrbios não são fáceis. A minha não era das piores, mas os professores fracos depois de sinalizados sofriam bastante. Lembro-me da professora Edwiges e de um outro professor de inglês. Ela era uma pessoa bastante nervosa e bloqueava com a indisciplina. Muitas coisas aconteciam na aula, desde ser atacada com bolinhas de papel soprada por canetas, fisgas de grampos, até alguém rebentou um balão de água contra a parede. Ela simplesmente estava à nora. Não se conseguia defender nem impor o respeito. A dada altura, alguns alunos (eu incluído) começamos a defendê-la contra os colegas. A directora de turma sabia de tudo e outros professores também, mas olhavam para ela com desdém por ser fraca. A realidade é que os professores também conseguem ser bem cabrões uns com os outros.
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O professor de inglês era gay. Um tipo muito pacato e calmo e pequeno. Para além de lhe chamarem nomes, de entrarem e sairem pelas janelas, de fumarem na sala, ainda se encostavam a ele (os mais altos) a fazer -lhe medo e a desafiá-lo. Lógico que ele não dizia uma palavra, as aulas eram uma balbúrdia e ele acabou por abandonar o lugar. Não me lembro de nenhum professor ter sido solidário com ele. Isto foi em 1988, 1989. Acho que o único registo destas coisas deve estar na memória de quem presenciou os factos.
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Os putos são terríveis. As criancinhas e adolescentes são de facto, predadores se sentem o cheiro a medo. É próprio da idade, estamos a testar limites. Mas pode ser mais do isso. Pode resultar na depressão e suicídio de professores, pode resultar na morte de pessoas desvalidas como a Gisberta. Tudo isto talvez porque se faz vista grossa aos factos, porque a maioria dos inquéritos servem para encerrar assuntos e não para apurar responsabilidades. As crianças sáo santificadas, as escolas são santificados. Tudo é santo e o pau é muito oco.

9 comentários:

Sandra Oliveira disse...

Silvestre, eu quando estudava na preparatória era "fresca", mas não era abusadora nem malcriada, gostava de brincar. Aliás ainda hoje, sou brincalhona por natureza, adoro uma boa chalaça.
Dei bastante porrada em miúdas e miúdos que batiam na minha irmã e gozavam com ela (ela tinha desmaios por causa da epilepsia), e defendi sempre os professores.
Na segundária, acalmei o espirito, mas sempre que houvesse oportunidade de brincar eu brincava.
Agora, o meu filho sofreu na pele a violência de um idiota dum puto sem educação nenhuma e só parou quando o transferi de escola, fiz "n" queixas, enviei cartas registadas com AR e nem uma resposta me deram.
Quando o meu filho foi à escola buscar o material dele e despedir-se dos colegas, ouviu que não fazia lá falta nenhuma. Isso diz tudo sobre as pessoas que frequentam a dita escola.
Hoje está bem, protegido e feliz e nunca bateu em ninguém, ele nem bater sabe, porque nem nunca o ensinei nem incentivei. Mas já lhe tenho dito, que se lhe baterem, que agarre numa pedra e espatife a cabeça a um que eu depois resolvo, mas ele não tem "destreza" para isso, porque foi educado a não bater, não gozar e respeitar toda a gente e as diferenças de todos. Sempre lhe digo para não fazer aos outros o que não quer para ele.
Este mundo está podre...

silvestre disse...

Lamento pelo sucedido. É uma pena ver estas coisas cair em saco roto. Mas ainda bem que hoje ele está feliz. É isso que importa.

Provocação 'aka' Menina Ção disse...

Os miúdos têm de começar a ser responsabilizados a partir dos pais, se quebram um jarro numa loja ou atiram uma pedra a um vidro, os pais pagam, não percebo porque é que as pessoas se apoiam tanto em deixar a culpa morrer solteira só porque são crianças. as crianças são responsabilidade dos progenitores, se calhar há que culpabilizar os pais para poderem começar a obter uma educação mais cerrada dado que o sistema de justiça não abrange os menores e dado que as suspensões são apenas umas férias para os miúdos.
Quanto a mim, trabalho comunitário, indemnizações e disciplina a sério, pô-los a reprovar anos mesmo devido a mau comportamento, quem não se sabe comportar não pode avançar no ensino.

Rui Clemente disse...

Muitos professores são-no porque "acabam por ser", não porque seja essa a sua vocação e paixão. Porque o mercado não lhes dá emprego como Físicos, como Geógrafos, como Antropologistas.

E são lançados para os liceus sem capacidade (entenda-se formação, a nível emocional e psicológico) para lidar com uma das etapas mais delicadas do nosso crescimento.

Naturalmente, abre-se caminho para actos extremos - tanto da parte dos alunos como dos professores.

Lembro-me que a minha turma era a mesma e tinha 2 comportamentos totalmente distintos perante 2 professores distintos. A diferença era notória: o "stor" de Biologia só queria mesmo despachar a aula, era muito passivo e a aula mais parecia uma selva; a "stora" de Português era apaixonada pela Língua Portuguesa e pela arte de ensinar. E a turma inteira ficava mansa e - até! - interessada.

Anónimo disse...

Comentei o caso com o meu irmão, pois fomos da mesma turma até ao secundário. Havia mau comportamento em alguma aulas, lá está, dependia dos professores e dos limites que conseguiam impôr, mas nunca má educação. Os miúdos hoje batem, agridem e fazem de tudo a um cento e os pais ainda lhes passam a mão pela cabeça... Concordo que os pais têm de começar a ser responsabilizados pelas atitudes dos filhos. Como é que esses pais podem (querem)acusar as escolas dos monstrinhos que lá vão despejar todos os dias? Nas escolas dá-se formação, a educação vem de casa, certo?

silvestre disse...

@provacação: há uma desresponsabilização enorme das famílias portuguesas quanto à educação dos filhos. O Estado é que tem a culpa, a escola tem a culpa. Mas educação é em casa. Na escola é formação. É incrível o que se passa nas escolas. ainda não em esqueci o caso do telemóvel em que a miúda de 15 anos andou com a professora já «madura» de rojo como se fosse um boneco. Se fosse minha filha ficava em trabalhos forçados durantes 6 meses.

silvestre disse...

@divagações: pior ainda. os putos são terríveis e sabem a lei. os professores estão de mãos atadas em termos disciplinares. Não podem fazer nada aos "anjinhos". Não concordo com porrada nos miúdos, mas os professores podem fazer muito pouco em termos formais. Lá está, os que professores que têm pêlo na venta querem lá saber e acabam por põr a maioria no lugar, mas os outros estão completamente desprotegidos.

silvestre disse...

@Men-ho: também concordo que muitos professores não têm vocação ou capacidade para o ser (mesmo quando pensam ter vocação) mas isso não elimina o problema da violência e da falta de «saber-estar» afinal, alguém que não sabe impor respeito pode ser um professor extraordinário se tiver oportunidade de o demonstrar. O probelam também é que valorizamos sempre o «fazer-se respeitar» em vez do respeitar. Os pais hoje em dia ensinam mais os filhos a «fazerem-se respeitar» do que a «não faltarem ao respeito».

silvestre disse...

@Men-ho: também concordo que muitos professores não têm vocação ou capacidade para o ser (mesmo quando pensam ter vocação) mas isso não elimina o problema da violência e da falta de «saber-estar» afinal, alguém que não sabe impor respeito pode ser um professor extraordinário se tiver oportunidade de o demonstrar. O probelam também é que valorizamos sempre o «fazer-se respeitar» em vez do respeitar. Os pais hoje em dia ensinam mais os filhos a «fazerem-se respeitar» do que a «não faltarem ao respeito».