segunda-feira, abril 08, 2024

Tenho acompanhado o Big Brother (shame on me)

A Jacques saiu. Não sei se foi feita uma boa apresentação/explicação do que é ser não-binário, mas o nível de cultura e curiosidade da população em geral é tão baixo, que é até estranho que alguém como um apresentador de televisão não se vá informar corretamente sobre o que é, assim que sabe que tem uma concorrente que é. E que mesmo depois da saída da concorrente ainda faça perguntas muito cretinas. Não obstante, a própria interessada não defendeu bem a sua causa e o seu ponto de vista, diria eu. 

A Jacques não defendeu o seu ponto de vista, porque falou de um lugar de privilégio e de solipsismo. Não é somente um problema da Jacques contudo, é um problema social do presente Zeitgeist e, mais concretamente, apanágio das pessoas que nasceram desde segunda metade dos anos 90. É uma coisa muito millennial - todos nós temos direito à nossa individualidade e a fazer apenas o que nos faz felizes e confortáveis. E toda a gente acha que pode fazer tudo e a realidade é que não. 

Todos nós temos direitos. Eu também concordo que todos nós temos direitos. Mas ainda penso que os nossos direitos esbarram nos direitos alheios quando não coincidem com os nossos. Também sou o género de pessoa que continuo a fazer o que acho correto, sem me importar com o que pensam de mim (seja a trautear canções ou dar um passinho de dança em espaços públicos como um supermercado, seja a ir à casa de banho das senhoras se a dos homens está ocupada e eu preciso de ir. 

Percebo contudo que pode ser disruptivo e percebo que tenho de explicar coisas e conceitos sem tentar mostrar às outras pessoas que são burras. No caso da Jacques, em comparação, eu também sei o que são os sofistas, e ainda sei o que são os cínicos, os epicuristas, os estoicos, etc. E continuo a achar que o comportamento dela estava errado. Apesar de ser conhecido por dobrar regras, tenho o senso comum de perceber onde elas são estruturais (como uma parede-mestra) e não podem ser mudadas. Pode sim construir-se uma nova casa com sem paredes-mestras, flexível, mas é uma nova casa. É propormos a mudança de uma casa para a outra. Querer mudar à força a estrutura basilar de algo que não nos diz respeito apenas a nós (como a roupa que vestimos) é ou pueril ou petulante ou uma mistura dos dois.  

Também se muda por revolução, claro. Mas há lugares e lugares. Quando estamos normalmente inserido em meios que nos são favoráveis e em que toda a gente concorda connosco e nos diz que somos o máximo, acabamos por acreditar que temos uma missão quase messiânica de induzir a mudança ara aquilo que consideramos correto. 

Se tudo fosse tão simples, o mundo não era o lugar que é. Não são as Jacques da vida que o vão mudar, mas sim pessoas pessoas em tudo iguais à Jacques que até se vestem da mesma maneira que até defendem as mesmas ideias, mas têm uma visão de chapéu, uma cultura e/ou noção sociológica e antropológica amplas. Pessoas que estão fechadas no "eu", nas "pessoas que conheço", nos "amigos" não vão mudar nada mais que o seu próprio quintal. 

Acredito na mudança. E são pessoas como a mulher que aparece no minuto 5.35 do vídeo abaixo que mudam o mundo. O resto é um "espetáculo do La Féria".


1 comentário:

Francisco disse...

Não acompanhado, medooooooooooooooooooooooooo