A D. Alzira morreu hoje. O coração falhou. Para quem não sabe era a avó do meu afilhado e mãe de umas das pessoas mais extraordinárias que conheço. Conheci-a há 23 anos. Lembro-me de achar, na altura, que tinha um ar mais velho que todas as outras mães. Parecia avó. Mais tarde percebi porquê, quando conheci o pai da minha amiga, mas não vou perder tempo a falar do pai da minha amiga e da besta que era/é.
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Dedicou a sua vida a tentar dar à filha o mesmo que todos os outros miúdos tinham. Trabalhava a dias e a tomar conta de dois idosos para meter dinheiro em casa (não era fácil porque tinha tido, em tempos, um acidente que a deixou parcialmente inválida). Conseguiu.
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Para além das suas boas maneiras e da sua gentileza, nunca me esquecerei da sua ingenuidade, da sua credulidade e da sua capacidade para se maravilhar com pequenas coisas. Para ela tudo era bonito. Tudo valia a pena. Um laço de um embrulho de Natal ganharia lugar pendurado em qualquer lado. Não tinha uma gota de maldade no corpo, nunca a ouvi falar mal de ninguém.
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Às vezes dizem que os animais sentem quem é bom. Adorava cães e os cães, alguns regra geral pouco meigos, vinham ter com ela para festas. Lá ficava a rir e brincar com eles por uns tempos. Ria como as crianças, que não têm vergonha de se rir muito e com o peito aberto.
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Custa-me vê-la partir assim. Tão de repente. Teve uma vida madrasta (da qual não se queixava muito porque não queria preocupar ninguém), mas se calhar para ela as coisas até deram todas certo. Vistas as coisas, a filha foi sempre uma pessoa estupenda, tirou um curso superior, casou com um homem que a trata muito bem, tem uma situação estável e um filho tão estupendo como a mãe.
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Não sei o que lhe passou na cabeça nos últimos momentos, mas espero que (apesar de não ver crescer o neto) tenha sentido que deixou uma boa marca neste mundo e que tenha partido em paz. Do meu lado só tenho a dizer-lhe «muito obrigado» pela pessoa que foi e pela filha que inspirou. Eu nunca me irei esquecer dela.
3 comentários:
Obrigado por criares este "post" a respeito e por respeito a D. Alzira. Amanha tento falar com a nossa amiga. Fico com a ideia de que foi inesperado. Qdo falei com a nossa amiga no mes passado por ocasiao do aniversario do teu sobrinho, ela nao me falou em nada. Nem consigo imaginar como e que ela se sente.
Zeg
Até me arrepiei ao ler isto.
Bem haja!
Lamento.
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