O que eu adoro no Mike Leigh é esta incrível capacidade de fazer filmes extraordinários sobre gente comum. Histórias de todos os dias e de todos os lugares, que existem no fim da nossa rua, no nosso prédio, dentro da nossa casa. Este filme sobre a aparente banalidade da vida de um casal perto da terceira idade é, para mim, uma espécie de tratado sobre a condição humana, ou melhor, sobre a fragilidade da condição humana. Mesmo as vidas mais monótonas são invólocros de uma quantidade de emoções e de sentimentos que resultam cinzentos na existência exterior, mas que no interior são torrenciais e ígneos. O casal principal é apenas o eixo para que os restantes personagens se desenvolvam, mas ao mesmo tempo, essas outras pessoas são a própria existência do casal. O filme é muito lento e tranquilo no desenrolar da acção, mas os significados interiores são turbulentos. Foi o que mais me agradou, estar a ver uma espécie de Monet com a interioridade de um Van Gogh.
16/20
Sem comentários:
Enviar um comentário