Acasos felizes

Quando entrei na livraria para procurar o livro abaixo (ou outro do mesmo autor ou similar) fui atendido por uma empregada sessentona que de livros não deve perceber assim tanto. Expliquei-lhe que queria um livro do António Franco Alexandre ou do Joaquim Cardoso Dias, alguém que estivesse próximo de um universo emocional onde o Herberto Hélder também se integrasse. Ela respondeu-me que o Herberto Hélder era único que não há poesia igual (olha que novidade). Eu respondi que não há poesia igual, mas que existe um universo poético de referência. E voltei a falar no A. F. Alexandre que ela nem sabia onde estava guardado e se tinham. Só os poetas mediáticos é que ela conhecia.

.

Felizmente um rapaz estava a ouvir a conversa e perguntou se podia intrometer-se. Disse-me que gostava do A. F. Franco, em particular do livro «Duende». Falei-lhe do Joaquim e ele também conhecia e depois falou-me do grupo do Al Berto e falou de universos de referência (haja alguém). Deu-me a morada (numa folha de papel) de várias lojas de poesia e de alguns alfarrabistas onde poderia encontrar boa poesia e autores desconhecidos, mas pertencentes ao universo de referência que eu procurava.

.

Quando começou a embrulhar o livro pediu desculpas pelo estado em que aquilo estava a ficar. Não sabia fazer emrulhos, nem laços. Eu disse que não fazia mal e que eu tomava conta da situação a partir dali porque sou bom a fezer embrulhos de prendas e afins. Ele agradeceu e eu também. Saí de lá a sentir-me mesmo bem. Há acasos que me deixam mesmo bem disposto. Há uma quantidade de autores a ser descoberta e umas quantas livrarias prontas a vasculhar.