terça-feira, abril 14, 2009

O mundo perverso das adopções...

Há milhares de crianças institucionalizadas e os processos de adopção são difíceis e morosos. Contudo, o que mais me espanta é o número de crianças que são devolvidas às instituições pelos casais que as adoptam. De quem é a culpa? Das pessoas que adoptam e que não estão minimamente preparadas para isso ou dos técnicos que escolhem as famílias e supervisionam o processo de adopção? Para mim é a segunda hipótese tem mais força.
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O Correio da Manhã noticiou a "devolução" (termo utilizado pelo Observatório da Adopção) de um rapaz porque não se dava bem com o cão e o cão já estava na família há muito tempo e o rapaz não. Dois irmãos (de 5 e 7 anos) foram devolvidos ao fim de 12 dias porque não se sabiam comportar e estavam sempre à briga um com o outro. Outro miúdo de 13 foi devolvido porque não tinha boas notas e isso colocava em causa a herança da família se ele não fosse capaz de a gerir mais tarde.
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As razões parecem-me todas desculpas esfarrapadas que nunca se aplicariam a filhos biológicos. É lógico que estas pessoas não são indicadas para adoptar, mas os técnicos deviam perceber isso mesmo. Se são enganados é porque não são bons técnicos ou não tomam as diligências necessárias para ter o máximo de informação. Todas as suas conclusões são baseadas no convívio de 5 dias que as crianças têm com os futuros pais antes de serem adoptadas. O sistema é uma burrice e é tempo de alguém o admitir.
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Pode parecer que estou a puxar a brasa à minha sardinha, mas a adopção por casais homossexuais vem-me à ideia como seria de esperar. Acredito que seriam uma opção muito mais credível do que os cerca de 80 casais que devolvem crianças todos os anos.
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Para quem não sabe os homossexuais podem adoptar, mas em nome individual e não como casal. Desde que não haja a ideia de uma relação sexual entre dois homens ou duas mulheres dentro de casa está tudo bem. Bom, isto daria um outro post. Mas o que é importante reflectir é sobre a cretinice do nosso sistema de adopção e a imbecilidade de uma grande maioria de técnicos que não usa o cérebro e o bom senso, escolhendo seguir apenas o "livro de instruções". É que com estes casos a ocorrerem todos os anos ainda se ouve o Director do Observatório da Adopção a dizer «Vamos estudar as devoluções e perceber se é necessário alterar alguma coisa nos métodos de selecção dos candidatos ou se decorre da imprevisão do período da pré-adopção». Mas é preciso fazer-lhe um desenho?

4 comentários:

I.D.Pena disse...

Para mim não é necessário fazer um desenho para perceber em pouco tempo se fulano A ou fulana B preenchem os requisitos para constituir familia.
Basta Perceber as rotinas e como reagem em situações problemáticas.

:) Esperemos que as instituições sejam devidamente responsabilizadas pelo seu mau profissionalismo neste aspecto, ao lidar com pais de crianças adoptadas.

Beijos

Mais um homem... disse...

Adoptar está na moda e muitos dos casais que o fazem não sabem ter um coração aberto para as carências de alguém que foi abandonado até porque essas famílias raramente entendem o sofrimento de um abandono.

Anónimo disse...

Foi-me uma vez dito por um técnico de acolhimento que muitas vezes o critério é perceber não qual será a melhor realidade para aquela criança, mas sim qual o mal menor. E se, com esta consciência, se escolhem famílias que "devolvem" crianças em vez de centros de acolhimento, pensando que esse será o mal menor, o que se passará dentro dos centros?...

Célio Cruz | Sweet Gula disse...

E o pior disto tudo ainda é o futuro destas crianças que fica marcado para o resto da vida delas. Nem quero imaginar, mas deve ser muito mau ser-se adoptado e depois descobrir que afinal não correspondemos às expectativas daqueles pais e vamos ser devolvidos à instituição. Todo o sistema de adopção em Portugal deveria ser revisto e analisado para não aumentar ainda mais este tipo de casos.